Muitas pessoas criticam o comunismo e os comunistas e, a maioria delas, não sabem o seu real significado.
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
Desde que"comunista come criancinha" à "o Brasil tá virando uma ditadura comunista", tenho lido de tudo nas redes sociais contra essa ideologia. E o pior é que a maioria das pessoas não sabem o significado dessa palavra. Sem falar nos 100 milhões de pessoas que o comunismo matou no mundo"
Como dizia José Saramago, "ser comunista é, antes de tudo, um estado de espírito". Não é comunista quem só pensa em seu bem estar em detrimento do bem estar de todos, quem não conhece o significado da palavra tolerância.
Ser comunista é ter disciplina em todos os sentidos, como bem definiu o poeta Geir Campos, em seu poema "Tarefa":
Morder o fruto amargo e não cuspirmas avisar aos outros quanto é amargo,cumprir o trato injusto e não falharmas avisar aos outros quanto é injusto,sofrer o esquema falso e não cedermas avisar aos outros quanto é falso;dizer também que são coisas mutáveis...E quando em muitos a noção pulsar— do amargo e injusto e falso por mudar —então confiar à gente exausta o planode um mundo novo e muito mais humano.
Comunismo é uma doutrina social, segundo a qual se pode e deve "restabelecer" o que se chama "estado natural", em que todos teriam o mesmo direito a tudo, mediante a abolição da propriedade privada.
Nos séculos XIX e XX, o termo foi usado para qualificar um movimento político.
Esta palavra tem origem no latim comunis, que significa comum.
O comunismo procurou uma fundamentação teórica nas teorias do estado dos sofistas gregos e na obra "República" de Platão. No entanto, o comunismo encontrou bem cedo críticos severos, como Aristóteles.
O comunitarismo cristão da Igreja Primitiva (descrita no livro de Atos dos Apóstolos da Bíblia), é por vezes comparada como uma forma de comunismo, por apresentar alguns dos mesmos princípios, como o desinteresse pelos bens materiais e um amor generalizado pelo próximo.
O comunismo continuou a se fazer sentir em muitos movimentos sectários depois disso, como é o caso de Thomas Münzer e dos anabatistas, em seitas puritanas da América do Norte nos séculos XVII e XVIII e outras, mas com a suposição de que o "amor ao próximo" resultaria de uma regulamentação pública, o que era exatamente o contrário do pensamento cristão. A doutrina comunista começou a se inspirar sobretudo numa filosofia tutelar do estado. Por esse motivo reapareceu nas utopias políticas dos séculos XVI e XVII.
A grande reanimação do comunismo ou do socialismo (termos utilizados nos primeiros momentos de forma indistinta como sinônimos), no princípio do século XIX, está relacionada com a Revolução Industrial. Os abusos do capitalismo e do liberalismo econômico, cometidos pela tremenda transformação da economia e da indústria, provocaram um movimento crítico que, em muitos casos, vem a se relacionar com as ideias comunistas.
O comunismo moderno se exprime primeiramente a nível de doutrina através do marxismo, depois no marxismo-leninismo e, em parte, também no maoísmo marxista e é fundamentalmente uma doutrina destinada à igualdade compulsiva da maioria.
De acordo com K. Marx e F. Engels (no Manifesto do Partido Comunista de 1848), o comunismo do século XX considera a história, desde a Antiguidade, como a sucessão de lutas entre as classes trabalhadoras e sem posses, e as classes exploradoras, que não trabalham ou trabalham pouco, mas que dispõem dos meios materiais de produção.
O comunismo afirma que as condições de vida (principalmente as econômicas) do homem determinam a sua consciência e considera que o desenvolvimento da capacidade de produção graças à técnica e também à ciência desencadeiam uma evolução dialética onde a sociedade esclavagista deveria dar lugar à sociedade feudal, depois à sociedade burguesa e finalmente à sociedade socialista.
Segundo esta doutrina, o último ponto culminante da luta de classes é a luta da classe proletária contra a burguesia. Esta luta levará ao fim da sociedade burguesa, ao desaparecimento das classes e à sua substituição por uma sociedade socialista ou comunista. Esta luta seria a nível internacional, visto que a burguesia também se organizou a nível internacional, os laços da classe são mais importantes do que as realidades nacionais, e nesses termos a classe operária de um país tem mais responsabilidade para com a classe operária de outro país do que para com os seus próprios nacionais.
O que caracteriza o comunismo são os raciocínios gerais e as argumentações pela consequência, pelo que muitas vezes as suas deduções são falsas. Assim, o fato real da crescente concentração do capital não eliminou a relevante dinâmica das pequenas empresas e a importância do sistema de produção não trouxe a importância dos seus agentes, mas sim o papel crescente do setor ligado ao mercado. Por sua vez, a dinâmica social ligada às concepções comunistas não se revelou exata, pelo contrário, se tornou claro que é um erro considerar que as nações mais desenvolvidas industrialmente seriam as primeiras a conduzir a uma revolução socialista. Também é errônea a hipótese de que em toda a parte seriam os operários industriais a força motora do movimento revolucionário.
Numa certa altura, o comunismo passou a ser reivindicado pelos partidos comunistas, que revelaram grande combatividade em revoluções na Alemanha, Áustria e Hungria, em 1918. Entre 1917 e 1921 foram fundados quase todos os partidos comunistas que posteriormente vieram a ser importantes: o alemão (no final de 1918 e princípio de 1919), o partido comunista de França e Indonésia (1920), e em 1921 o italiano e chinês.
Atualmente não existe no mundo comunista a mesma centralização que havia nos anos 30 e 40. De igual forma, os partidos comunistas já não são em toda a parte a força política mais revolucionária.
Comunismo no Brasil
O Partido Comunista do Brasil, fundado no Rio de Janeiro em Março de 1922, foi de grande importância para o Brasil, pois dele surgiram vários partidos que potenciaram a política brasileira. No seu princípio e mais ou menos até 1935, o Partido Comunista teve que lutar contra o anarquismo pela liderança sindical.
Durante muito tempo o Partido Comunista foi proibido de funcionar e por isso teve que funcionar de forma clandestina. Por esse motivo, o Bloco Operário Camponês foi criado, com o objetivo de participar nas eleições.
Breve história do PCdoB
15/4/1906, 1º Congresso Operário Brasileiro, no Rio, 50 delegados. O predomínio é anarquista, combativo, classista, mas com graves erros, como a recusa em travar a luta política. Decide criar a COB (Confederação Operária Brasileira) 1ª Central sindical do país. Debate se é lícito operário fazer política e sindicato ter funcionário remunerado.
25/3/1922, nasce o Partido Comunista do Brasil. O congresso da fundação ocorre no Rio e em Niterói. Nove delegados (veja a foto) representam os grupos comunistas de Porto Alegre, Recife, S. Paulo, Cruzeiro (SP), Niterói e Rio. Santos e Juiz de Fora não conseguem comparecer. O Partido nasce com 73 militantes.
Aprova as 21 condições de ingresso na Internacional Comunista, os seus Estatutos e uma Comissão Central Executiva. Inicia uma campanha de solidariedade aos trabalhadores soviéticos. Termina com todos cantando (baixinho, por razões de segurança) o hino do proletariado do mundo, A Internacional. Veja os fundadores do Partido e suas profissões.
1º de Maio de1925, surge A Classe Operária, "jornal de trabalhadores, feito por trabalhadores, para trabalhadores", órgão central do Partido. É lançado como semanário, no Rio, com tiragem de 5 mil exemplares. A assinatura por 13 números, vendida nas fábricas, custa 2 mil réis.
A tiragem logo sobe (9.500 no nº 9). A polícia fecha o jornal logo após o nº 12, mas ele reaparece em 1928, e depois, ora legal, ora clandestino, até hoje. Nenhum órgão da imprensa popular brasileira tem uma história tão longa. Nenhum foi tão perseguido. Nenhum tem a mesma folha de serviços prestados aos interesses presentes e futuros do povo trabalhador..
1/2/1927, o Partido lança o BOC, Bloco Operário e Camponês, inicialmente chamado apenas Bloco Operário. É o 1º ensaio de política de frente dos comunistas. Em 28/10/1928 o BOC elege os comunistas Otávio Brandão e Minervino de Oliveira vereadores no Rio. É uma expressiva vitória, pois a Câmara do então DF tem apenas 12 cadeiras. A linha sectária da "proletarização" impedirá o desenvolvimento do BOC.
3/10/1930, Revolução de 30: de caráter democrático-nacional, derruba a República Velha da oligarquia agrarista e, apesar de suas limitações, introduz o país no século 20. Começa no RS, após protestos populares no Nordeste; em 30 dias leva ao poder Getúlio Vargas. O Partido, numa visão esquemática, recusa-se a participar. O ensaio de criação de um soviet em Itaqui, RS, é logo esmagado.
30/3/1935, lançada a ANL (Aliança Nacional-Libertadora), no teatro João cateano, Rio, sob inspiração do Partido, mas agrupando várias forças progressistas. Prestes é aclamado presidente de Juventude Comunista Carlos Lacerda. Seu lema: "Pão, Terra, Liberdade!". Em maio, a ANL já conta 1.600 núcleos e de 70 mil a 400 mil filiados, porém com pouca implantação no campo. Em 11/7 o governo proíbe a Aliança, o que dificulta o contato com suas bases.
23-27/11/1935, Insurreição Nacional-Libertadora. Começa em Natal (RN), que precipita a insurreição. Forma pela 1ª vez no Brasil um governo popular-revolucionário, que se sustenta por 3 dias. Segue-se o levante em PE (Jaboatão, Recife, Olinda), onde os combates são mais sangrentos. Dia 27, rebela-se o 3º RI, na Praia Vermelha, Rio.
O movimento comete erros, confia excessivamente nos quartéis (influência tenentista) e não chega a mobilizar as grandes massas que simpatizam com a ANL. É, porém, o 1º na América do Sul a erguer a bandeira da revolução antiimperialista e antilatifundiária. Após a derrota, segue-se brutal repressão.
26/3/1953, começa a Greve dos 300 Mil em S. Paulo. Iniciativa dos têxteis, é dirigida pelo Partido (através de quadros como Ângelo Arroio), apóia-se em comitês de empresa e num Comitê Intersindical de Greve. Dura 1 mês, ganha as ruas, enfrenta a polícia, triunfa e renova o quadro sindical. O Partido lidera outras grandes greves (1954, 1957), lutas camponesas armadas (Porecatu, PR, 1951, Francisco Beltrão, PR, 1957, Trompas e Formoso, GO, 1954). Mesmo ilegal, finca fortes raízes de massas, que a guinada oportunista de 1958 irá comprometer.
3/10/1953, vitória de O Petróleo é Nosso. Sancionada a Lei 2004 (Eusébio Rocha), que cria o monopólio estatal do petróleo, confiado à Petrobrás. Coroa com vários anos de uma campanha que mobiliza o povo e enfrenta com êxito as forças entreguistas. Destaca-se nesta luta a participação comunista, em aliança com a juventude e militares nacionalistas.
1/1/1959, triunfa a Revolução Cubana. Os combatentes de Fidel Castro entram em Havana, 3 anos após o desembarque do Granma e o início da guerrilha na Sierra Maestra. Cuba revolucionária resiste às agressões dos EUA e envereda pela via socialista. Imensa repercussão no Brasil e em toda a América Latina. Reforço do sentimento antiimperialista.
18/2/1962, Conferência Extraordinária, na rua do Manifesto, S. Paulo, reorganiza o Partido Comunista do Brasil na luta contra o oportunismo de direita. Adota a sigla PCdoB, para se diferenciar do PC Brasileiro oportunista. Aprova um Manifesto-programa revolucionário e decide relançar o jornal A Classe Operária. É o 1º PC fora do poder que rompe com a linha de Kruschev. Pouco mais de 100 companheiros participam da Reorganização, entre outros, Amazonas, Grabois, Pomar, Arroio, Elza Monnerat, Lincoln Oest, Carlos Danieli. Mas as décadas seguintes mostrarão o alcance histórico do seu gesto.
21/4/1964, começa a Ditadura Militar, regime de anticomunismo furioso, supressão da liberdade, censura, tortura e assassinato de opositores, alinhamento automático com os EUA na guerra fria. Tem início também a resistência antiditatorial, um dos mais belos episódios da história do nosso povo. O PCdoB participa intensamente, sempre procurando aliar amplitude e radicalidade.
É a organização que paga um maior tributo à resistência, em vidas de dirigentes e militantes. Porém a dura lição de 64 dá razão a ele e desmente as ilusões reformistas. Apesar das perseguições, o pequeno partido de 1962 conquista força e prestígio.
12/4/1972, começa a Guerrilha do Araguaia. O Exército, Aeronáutica e PM atacam militantes e moradores da região de Marabá, sul do PA. O PCdoB decide resistir e forma as Forças Guerrilheiras do Araguaia, com apoio da população local.
A ditadura proíbe toda notícia sobre a guerrilha. Mas só consegue esmagá-la em 1975, na 3ª campanha de aniquilamento, praticando uma guerra suja, sem fazer prisioneiros. Passadas 3 décadas, o Araguaia avulta como um ponto alto da luta antiditatorial. Osvaldão, Dina Teixeira, Maurício Grabois e tantos outros guerrilheiros são vistos como heróis do PCdoB e do povo brasileiro.
16/12/1976, a Chacina da Lapa é a última ação da ditadura visando a eliminação física de seus adversários. Com ajuda de um delator, o DOI-Codi-SP invade uma casa na rua Pio XI, assassina no local Apedro Pomar e Ângelo Arroio, mata na tortura João Batista Drumond e mantém presos até a Anistia 7 outros dirigentes do PCdoB.
Num clima onde a oposição começa a ganhar força, a imprensa noticia, o crime choca e comove, dentro e fora do Brasil. A direção do Partido, duramente atingida, funciona até a Anistia com base num núcleo no exílio.
12/1-25/4/1984, Campanha das Diretas. Em 3 meses, mais de 8 milhões de brasileiros saem às ruas exigindo eleições diretas para presidente. É a maior campanha de massas da história do país. O gen. Figueiredo apela para as medidas de emergência e a força bruta.
A emenda das diretas não passa na Câmara (faltam 22 votos para os 2/3 exigidos), mas o regime militar sai ferido de morte. O PCdoB se engaja de corpo e alma na campanha. As bandeiras comunistas ganham as praças desafiando a ditadura.
22/9/1984, nasce a UJS (União da Juventude Socialista), política e ideologicamente identificada com o PCdoB, em ato público na Assembléia Legislativa de SP. Aldo Rebelo é o seu 1º dirigente. Organizada em todo o Brasil, com forte inserção no movimento secundarista e universitário, a UJS lançará raízes também em outras áreas-chave da juventude brasileira, como o movimento hip-hop.
29/9/1992, "Fora Collor!" O PCdoB é o primeiro partido a defender o afastamento de Fernando Collor da Presidência. Quando vêm à luz as denúncias do esquema Collor, o Partido convoca o povo a retomar as ruas. A juventude, a UNE e a Ubes têm um papel excepcional nesta mobilização: os carapintadas atendem ao chamado e fazem as maiores passeatas da história do movimento estudantil brasileiro. A pressão popular obriga o Congresso a votar o impeachment do presidente. Em sua declaração de voto, a bancada comunista aponta o modelo neoliberal como o pior dos crimes de Collor.
26/8/1999, Marcha dos 100 mil pelo Brasil, liderada por partidos de esquerda e entidades populares. A participação supera a cifra que deu nome ao protesto. Nenhum incidente. Entrega à Câmara abaixo-assinado com 1,3 milhão de firmas, pedindo CPI sobre o papel de FHC na privatização das teles (o PCdoB recolheu 400 mil das assinaturas). A Marcha, e o apoio que obtém, refletem uma consciência superior do povo quanto ao caráter nefasto do governo FHC e do modelo neoliberal.
27/05/2002, Brasil perde o histórico dirigente comunista João Amazonas, aos 90 anos, vítima de complicações pulmonares. Milhares de pessoas lhe rendem as últimas homenagens.
27/10/2002, Após disputar quatro eleições presidenciais desde 1989, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é eleito presidente da República com mais de 44% dos votos, contra 23% de José Serra, do PSDB. PCdoB participa de aliança vencedora desde 1989.
Com informações de PCdoB e significados.com
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