26 de mai. de 2016

Jovem é estuprada por 30 homens no RJ

Internauta fala sobre o estupro sofrido por uma jovem de 17 anos no RJ.
Confira:

Segunda feira (23/05) uma jovem de 17 anos foi estuprada por 30 homens no rio de janeiro, desacordada, a menina foi filmada pelos criminosos e divulgada nas redes sociais em tom de deboche. 

por Daiara Figueroa

Quarta feira o ministro da educação Mendonça Filho, recebeu Alexandre Frota e Marcello Reis (um dos dirigentes do "Revoltados Online" para ouvir suas propostas para a educação brasileira entre as quais se inclui o combate a aquilo que eles chamam de "ideologia de gênero", contra a "educação comunista" e outros discursos de ódio que a direita brasileira vem tecendo por qualquer pensamento libertário ou democrático no brasil.

Alexandre Frota além de ser um celebre ator pornô, é um estuprador declarado: em programa de tv aberta contou em tom de piada de como uma vez estuprou uma mulher desacordada. As duas noticias evidenciam a tragedia brasileira em relação à violência sexual e a violência de gênero: a educação sexual no brasil começa cedo através das mídias que usam a objetificação e erotização dos corpos a serviço da propaganda, sexo vende muito mais que cerveja, sexo vende uma ilusão de felicidade fugaz como placebo diante das violências atrozes escondidas por todos os tabus. Na página inicial da globo sempre haverá um espaço reservado para os mais famosos bumbuns e silicones do país, e a cara da mulher brasileira no estrangeiro continuará sendo a bunda, porque afinal de contas para a família tradicional brasileira existem dois tipos de mulher: a "bela recadada e do lar", para casar, e a "vadia" pra comer já que citando Frota "o negócio aqui é cu e buceta".

A mídia não está interessada em dar visibilidade à realidades das demais mulheres, a elas fica reservada a imagem de "feias, amarguradas e mal comidas", se alguma se pronunciar será apenas a "histérica da vez", mesmo que ela demonstre muita mais força psicológica que o atual presidente interino, mesmo que sobreviva a ter seus dentes arrancados, seu torturador será reverenciado porque vivemos num país que odeia as mulheres.

Na semana anterior outra notícia foi o fim do aborto legal para as vítimas de estupro, porque afinal de contas na visão daqueles que acham que "ideologia de gênero é coisa de comunista", a violência sexual é de responsabilidade das vítimas, e a mulher por produzir óvulos é a única responsável por sua gravidez, independente de quem for o pai, ou de como for sua vida, suas condições familiares, financeiras ou suas ambições pessoais, o direito daquele que ainda não nasceu é superior ao daquela que já nasceu, e se já nasceu só lhe resta aceitar a vida como ela é: violenta.

O projeto de educação para as mulheres no brasil é que elas não tenham direito ao seu corpo, nem às suas vidas, porque afinal aqui elas continuarão a ser tratadas como objetos de prazer, de consumo e de serviço doméstico: insistem em reforçar o pior estereótipo de gênero para manter como privilégio o prazer cruel de violentar em todos os sentidos a dignidade humana das mulheres.

O brasil é um dos países que mais odeia as mulheres: aqui se bate, se estupra, se humilha e se mata mais que em muitos países conhecidos como fundamentalistas, aqui a violência contra a mulher é diversão pública.

Combatendo a tal "ideologia de gênero", os reacionários querem silenciar uma violência que se recusa a ficar presa em nossas gargantas. Fechar seus olhos e seus ouvidos aos estupros, espancamentos e homicídios de mulheres, crianças, transexuais, travestis, gays e lésbicas, e manter essas violências reservadas ao espaço das "dúvidas", "suposições" e "vida privada": o lugar do tabu.

Essas violências lamentavelmente fazem parte de nosso quotidiano e todos nos conhecemos alguém que já passou por elas, caso você acredite que ainda não conheceu ninguém, eu compartilho tranquilamente minhas experiências: fui estuprada ainda virgem, me prenderam, me calaram, me chantagearam, me torturaram psicologicamente, essa foi minha iniciação sexual. 

Depois de longo tempo se recuperação a esse trauma, criei coragem de ter finalmente minhas primeiras experiencias afetivas, e em outros relacionamentos conheci outras formas de violência: já senti a dor e a revolta de levar um soco dentro de minha própria casa, conheci a violência física e psicológica de meu então companheiro. Conheci a violência obstétrica, já sofri assédio no trabalho, nas escola, na universidade e incontáveis vezes na rua.

Não sei quantas vezes quase enlouqueci de dor apenas pelo fato de ser mulher e ser violentada e agredida gratuitamente, já chorei e senti a dor em todo meu corpo e minha alma, por minhas experiências e por saber que milhões de mulheres compartilham da mesma dor desde o início da humanidade. Quando anestesiada de dor olhei para o mundo percebi que muitas de nós continuávamos em pé, e que de fato não tínhamos enlouquecido, se existe alguma loucura em nós é a capacidade de acreditar num mundo melhor onde exista respeito e dignidade para todas a pessoas.

Sou feminista, minha ideologia é a dignidade humana, não me calarei diante da violência, acredito que podemos fazer melhor nos EDUCANDO a respeitar o outro, a reconhecer sua diferença, sua identidade, sua realidade e suas experiências e sua vida.

Não nos deixaremos cegar pela violência, e mesmo derramando lágrimas de sangue continuamos a lutar por justiça.

Fascistas, machistas não passarão!

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