2 de jun. de 2016

HRAN está pronto para atuar em Estado de Guerra

Pacientes em macas e nos corredores
HRAN já tem atendimento de hospital de campanha, a única coisa que falta é uma guerra de verdade
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

Se estivéssemos em guerra, não teríamos que nos preocuparmos com atendimento hospitalar, o Hospital Regional da Asa Norte, HRAN, já faz atendimento de um hospital de campanha em campo de batalha.

Paciente revela como foram os 5 dias que esteve internado no HRAN, na sala de medicação da emergência do hospital. Superlotação, falta de médicos, enfermeiros e medicamentos seria um excelente roteiro para um filme de guerra, mas no caso do moradores do DF, é um filme de horror.

No último dia 27 José Lourenço (nome fictício a pedido do paciente) chegou à emergência do hospital por volta das 16h, com um quadro de saúde que mereceu durante a triagem a fita vermelha, que representa risco iminente de morte. Este procedimento é conhecido como Protocolo de Acolhimento com Classificação de risco.

Na sala de espera externa do hospital, na hora em que Lourenço chegou, haviam cerca 50 pessoas aguardando ser encaminhadas para a triagem, aquele procedimento onde um enfermeiro analisa a gravidade do estado de saúde do paciente e o classifica com uma fita colorida no pulso

VERMELHO
Prioridade zero - emergência , necessitam de atendimento imediato 
AMARELO
 Prioridade 1 - urgência , atendimento em no máximo 15 minutos 

VERDE
Prioridade 2 - prioridade não urgente, atendimento em até 30 MINUTOS

AZUL
Prioridade 3 - consultas de baixa complexidade - atendimento de
acordo com o horário de chegada – tempo de espera pode variar até 3 horas de acordo
com a demanda destes atendimentos, urgências e emergências. 
Cena comum no HARAN
O paciente que me fez este relato esperou por cerca de duas horas para ter o seu estado de saúde classificado e, ao invés de ser encaminhado ao atendimento imediato como manda o protocolo, foi orientado a voltar  para a área externa, juntamente com outros pacientes que também já haviam passado pela triagem, sob a alegação de que a área interna estava lotada.
Profissionais de enfermagem se desdobram em mil para atender os pacientes
Por volta das 22h Lourenço e todos os demais que haviam passado pela triagem ainda estavam aguardando atendimento na área externa, enquanto chegavam mais pessoas em busca de atendimento e que haviam feito uma verdadeira Via Crucis em busca de de atendimento médico. Segundo relato de inúmeras pessoas, naquele dia não havia nenhum médico no Hospital de Base de Brasília, bem como nos Hospitais do Guará e Núcleo Bandeirante.
Corredores com pacientes por falta de leito
No HRAN apenas uma médica, aparentemente chilena, desdobrava-se para atender àquelas pessoas e as que eram trazidas pelo SAMU vítimas dos mais diversos tipos de acidentes. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, naquela sexta-feira, às 23h, haviam mais de 70 pessoas na área externa aguardando atendimento, destas, cerca de 25 pessoas já haviam passado pela triagem e na área interna haviam cerca de 40 pessoas aguardando atendimento, sem contar com 2 pacientes em estado gravíssimo e os dez pacientes que lotavam o box de atendimento. Todo esse cenário para apenas uma médica fazer o atendimento.
Sala de espera lotada e consultório médico vazio
Nosso personagem principal conseguiu ser atendido pela médica por volta de 1 hora da manhã, na madrugada de sábado (28), Ao perceber a gravidade do estado de saúde de Lourenço, a médica resolveu interná-lo imediatamente, recomendando a imediata medicação do paciente. O problema é que as áreas destinadas aos pacientes internados estavam todas lotadas e o Lourenço juntou-se as mais de vinte outras pessoas também internadas na sala de medicação da emergência do hospital.
Acompanhantes de pacientes improvisam cadeira
Daí para frente o enredo que o personagem seguiu  foi o mais absurdo possível, a começar pelo cumprimento do horário da medicação. Apenas 1 profissional de enfermagem trabalhava na sala de medicação de emergência e este profissional não tinha a responsabilidade de medicar os pacientes "internados", apenas os da emergência. Já os profissionais que tinham a responsabilidade de medicar os pacientes "internados" em locais denominados Alas, também eram 1 por setor e estavam sobrecarregados, quando podiam ir à sala de medicação da emergência para atender aos pacientes "internados", o horário estabelecido para a aplicação do medicamento já havia ultrapassado até duas horas de atraso.

Nesta cadeira pacientes passam
cinco dias ou mais por falta de leitos
Na sala de medicação não há leitos, mas uma espécie de cadeira para que os pacientes recebam atendimento e fiquem em observação provisoriamente, acontece que àquelas mais de 20 pessoas que estavam "internadas" permaneceram ali por cinco dias ou mais, com uma dificuldade imensa para dormir, seja pelo desconforto da cadeira, dos gritos de dor dos que chegavam em ambulâncias a noite toda, ou ainda pelo choro incontido dos que viam que seu ente querido sairia daquela emergência de hospital para o Campo da Esperança.

Durante todo o dia de sábado, domingo e segunda-feira, nenhum médico foi à sala de medicação da emergência para fazer o acompanhamento dos pacientes "internados" e a justificativa para a ausência desses médicos era sempre a mesma, não tem médicos no HRAN. Segundo o relato de uma profissional de enfermagem que preferiu não ser identificada, "médico tem, o problema é que eles não gostam de trabalhar aos finais de semana, preferem a balada", disse ela.

Apenas na terça-feira (31) apareceram dois médicos para assistir aos  mais de 60 pacientes "internados" nas 3 Alas e na sala de medicação da emergência. Segundo relatou Lourenço o médico levou cerca de 5 minutos "entrevistando" cada paciente.

Diante de um quadro como esse relatado aqui e que certamente se estende à todas unidades hospitalares do DF, pode-se perfeitamente chegar a conclusão de que o GDF está está abandonando a Saúde Pública para poder "justificar" a privatização do setor

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