5 de out. de 2016

Estudantes ocupam CEM 414 de Samambaia

Estudantes ocupam CEM 414 de Samambaia contra a reforma do ensino médio imposta por Temer
Por Tomaz Campos
em sinprodf.org.br

A Medida Provisória n° 746 / 2016, que em uma canetada do presidente Michel Temer (PMDB) impõe uma série de reformas no ensino médio, sem um prévio e amplo debate com alunos (as), professores (as), pedagogos (as) e comunidade escolar, começa a ter seus reflexos, pois a insatisfação é geral.

Na noite desta segunda-feira (3) um grupo de 15 alunos do Centro de Ensino Médio 414, em Samambaia, resolveu ocupar a escola em protesto contra este projeto do Governo Federal. Na manhã de hoje, as aulas foram interrompidas e a adesão começou a aumentar, já chegando a 50 alunos (as) acampados. No turno da tarde, a expectativa é de que a mobilização se aproxime dos 100 estudantes.

A escola foi surpreendida com esta mobilização, organizada exclusivamente pelos estudantes. Mesmo sem a participação dos (as) professores (as), os docentes apoiam o protesto, pois também estão preocupados com o que pode ocorrer se esta MP for aprovada no Congresso.

“Em reunião com os professores, os alunos apresentaram as razões desta ocupação. Nós concordamos, porque essa MP, imposta de cima para baixo, sem consultar a comunidade escolar, sem debater com o professor, com os estudantes, com os pais e os servidores, é absurda. Consideramos nocivas para a educação a limitação da carga horária de algumas disciplinas, como sociologia, filosofia, artes e educação física. E discordamos veementemente da forma que esse projeto foi constituído, sem debate, sem diálogo. Falta transparência de como será o ensino médio se esse projeto for aprovado”, diz Fernando Espíndola, professor de geografia.

E esta mobilização dos estudantes é exatamente reflexo do ensino que é realizado hoje, e que Temer quer restringir. “A própria existência de matérias como filosofia e sociologia, são ferramentas que ajudam o aluno a criar esta consciência, essa noção de cidadania e de lutar pelos seus direitos. Isso prova que estas disciplinas não podem ser restringidas”, ressalta Fernando.

O professor é favorável para que o ensino médio tenha mudanças, que a educação integral seja implementada, mas é preciso investimento, estrutura. “Esta escola possui 18 turmas pela manhã, outras 18 pela tarde. Quais espaços ela vai oferecer para as atividades extracurriculares, para manifestações culturais, para que esta carga horária ser cumprida? ”, questiona.

A ocupação tem um significado que vai além da pauta contra a arbitrariedade do governo Temer. Há o simbolismo de fazer da ocupação o melhor para a escola, de mostrar para a mídia do quanto ela pode significar para a comunidade escolar. “Os alunos não estão aqui para depredar, eles estão fazendo alguns consertos na escola, pintando algumas portas pichadas, isso demonstra o nível de comprometimento deles nesse processo”, aponta o professor.

Na manhã desta terça-feira (4), a direção da escola decidiu servir o lanche para os alunos nos horários estabelecidos, mas o acesso para a cantina é negado, porém o diálogo entre eles prossegue.

Durante esta ocupação, ocorrerão “aulões” voltados para o Enem e para o PAS da UnB. Também estão previstas atividades culturais, das mais diversas. Os (as) alunos pedem contribuições e criaram algumas regras. “Esta ocupação será da cara que queremos que a escola tenha, com cultura, música, arte e poesia. Vamos realizar oficinas, pediremos ajuda aos professores e voluntários. Hoje pela manhã nós lavamos os banheiros e limpamos a escola. Proibimos a entrada de álcool e drogas, somos contra qualquer depredação na escola. Achamos incoerente se queremos algo melhor para a escola, termos que depredá-la. Queremos a mídia aqui, queremos que o Secretário de Educação venha aqui. E estamos pedindo um colchão, um saco de arroz, toda ajuda é bem-vinda. Estamos nos mobilizando e vamos ficar. Ontem dormimos no chão, mas sabemos que não seria fácil”, diz Isabella Tavares Pereira, aluna do 3° ano da escola.

A estudante faz severas críticas à MP n° 746, imposta por Temer. “Lançada como MP, ela terá que ser votada em 120 dias, e este prazo é curtíssimo para se discutir em âmbito nacional um projeto desta amplitude. Estamos nos articulando, o movimento vai crescer, pois nós precisamos que o Governo nos ouça a respeito deste projeto. Eles deram um tiro no pé, ao não chamar nenhum estudante, nenhum professor para o debate e sim o Alexandre Frota e o MBL”, diz a aluna.

Para Isabella, as recentes ocupações das escolas em São Paulo, que se espalharam por várias partes do país ensinaram bastante. “Mostrou que sim, é possível. O governo percebeu que os estudantes têm força e que não aceitaremos qualquer coisa imposta. Eles perceberam que precisam conversar conosco e agora não será diferente”, afirmou.

A ocupação não tem prazo para terminar.

Fotos: Deva Garcia / Sinpro

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