A importância da Casa da Rússia no Brasil
O conhecimento, a cultura e as tradições são coisas que não podemos guardar para nós mesmos
Durante a última reunião do Conselho Coordenador dos Compatriotas Russos do Brasil, com a participação de representantes de entidades culturais atualmente compostas por sete Estados brasileiros – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás e Pernambuco –, realizada em março deste ano, tivemos uma notícia bastante agradável por parte do Cônsul Geral da Federação da Rússia de São Paulo, Michael Gregorovitch Troyanski: a de que, após inúmeras solicitações por parte de entidades culturais de São Paulo, onde há a maior concentração de imigrantes e descendentes russos ativos, a instalação de um centro sociocultural Casa da Rússia, subsidiada pelo governo russo, foi transferida de Brasília para São Paulo.
Atualmente atividades e eventos sociais e culturais dessas entidades, relativas a ensaios de corais, danças folclóricas, oficinas de artesanato, cursos de idioma russo ou oficinas de culinária, acontecem em locais cedidos ou alugados e sustentados financeiramente por famílias dessas mesmas entidades privadas.
A história da fixação e instalação das comunidades de imigrantes russos no Brasil deu-se em torno de igrejas ortodoxas russas. A origem geográfica desses imigrantes resultou na descentralização das comunidades russas, as quais até os dias de hoje têm problemas de organização e sinergia de ações para benefícios comuns.
A renovação e delegação, para os jovens, dessas responsabilidades de gerenciamento de atividades culturais é a receita para a união das Comunidades Russas no Brasil. Com exceção de entidades como a Associação Cultural Grupo Volga de São Paulo e a Associação Volga do Brasil no Rio Grande do Sul, que há muito tempo delegam suas responsabilidades para os jovens e para as suas novas gerações, as demais entidades, por questão de egocentrismo, interesses pessoais e financeiros, mascaradas como instituições de filantropia em parceria com representantes de instituições religiosas, continuam ainda sendo gerenciadas por imigrantes russos atualmente na faixa etária próxima dos 80 a 90 anos, o que em curto e médio prazos poderá resultar na extinção de suas entidades.
A atual desunião das comunidades russas é consequência dessa gestão egoísta, por décadas, desses mesmos imigrantes, os quais ainda até hoje não assimilaram o principio básico da preservação, princípio este desprovido de quaisquer interesses e simplesmente focado no estímulo e delegação de responsabilidades aos seus jovens descendentes de russos.
Criar e escrever livros de histórias são ações ineficazes se comparadas com o estímulo e delegação de responsabilidades aos jovens. Como diziam os meus bisavós, também imigrantes russos, o conhecimento, a cultura e as tradições são coisas que nós não podemos guardar para nós mesmos, mas dividir com os outros e orientá-los a fazerem o mesmo. Este é o principio básico da perpetuação.
Porém, para o sucesso da administração de um centro sociocultural como a Casa da Rússia, recomendo que sua administração seja terceirizada (administração imparcial) e sem quaisquer vínculos com entidades atualmente existentes. No futuro próximo, acredito que, com o envolvimento intenso dos jovens, esse cenário da perpetuação poderá ser mais otimista.
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