11 de ago. de 2014

Eu matei a pivete!

No dia dos pais eu me emocionei, chorei e senti muito orgulho de minha filha, que fez um depoimento público para homenagear-me

De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

Recebi uma homenagem neste domingo (10), de minha filha Jemima, quando se comemorou o dia dos pais aqui no Brasil. Mas não consegui ler até o fim na primeira tentativa, porque fiquei bastante emocionado.

Fiquei emocionado mas, acima de tudo, muito orgulhoso porque tive a certeza absoluta (embora já o soubesse antes) que ela se tornara um ser humano pulsante de sentimentos como os de generosidade, fraternidade e com uma leitura clara da necessidade de tornarmos o nosso país em um lugar com mais igualdade e justiça social.

E isso me ficou muito claro quando, em um determinado ponto do seu texto ela declarou: "Mesmo com a cara fechada, seu coração tava aberto, quando nem me olhou depois da minha primeira advertência na escola, nem o castigo você me deu, a sua decepção foi nítida, na hora isso falou mais forte. Você matou a pivete, pai.
E fez nascer a artista e comunista."

Estou me sentindo como diria a personaem Odorico Paraguaçú, "com a alma lavada e enxaguada", com o sentimento do dever cumprido e com a esperança que nem tudo está perdido...

Confira abaixo o motivo de meu orgulho:

"Eu voo como um pássaro que quer voltar pro ninho, sempre vou e volto feito um bumerangue. Não fico muda, falo e canto o que eu tô sentindo, e falo tanto entre os meus voos e atropelos, que nem escuto a voz dos fios brancos entre os meus cabelos, a voz das rugas quando o rosto se contrai. Me olho no espelho e cada vez eu vejo mais meu pai, me lembro de telefonar, saber como ele anda.
Tenho que falar correndo, tô com saudade de tudo, de comer sanduíche de pão com mortadela e de ver você soprar a sopa que ainda estava quente, naqueles fins de semana que você tava presente, e de deitar na sua cama como antigamente.

E quando você via os gols ou um programa qualquer, e o chope sem espuma, sem colarinho e eu na coca-cola com canudinho, lembro até do barulhinho. Quando eu crescesse eu queria ser que nem você, agora eu já cresci e ainda quero ser, eu tenho a cara do pai e tenho cada vez mais, eu tenho os olhos do pai e o coração.

Eu tenho orgulho do pai e tenho cada vez mais, é muito orgulho meu pai e gratidão. O tempo voa e antes que ele acabe eu volto ao começo pra me entender e me reconhecer do pai que eu conheço e que quero conhecer mais, quero curtir meu coroa.
Lembro de você internado muitos achavam que iria pro cemitério, e naquele momento tão sério eu pensava o que faria sem o meu velho. Lembrando disso agora eu rio e reavalio a importância da minha eterna ânsia por mais desafios.

Minha memória viaja, você agora é o piloto, uns 10 anos mais novo e eu ainda garota Pela BR 070, a gente vai e, nas estradas indo pro Goiás, eu pensava como é bom estar com meu pai, você me explicando as musicas da época da ditadura e como foi sofrida a vida de quem passou pela tortura. No toca fita uma boa MPB ou forró. E a cada explicação eu pensava "esse é o meu herói". Você plantou uma semente, uma semente pro que eu tô colhendo agora e vou continuar colhendo, depois que você for embora, me entendendo com o tempo, os ensinamentos.

Que você passa até hoje com o seu exemplo: De respeitar as pessoas e ser correto, De ser uma fonte inesgotável de carinho e afeto, E de ser sempre sincero como também foi comigo. Queria achar um caminho e ter você mais perto

Mesmo com a cara fechada, seu coração tava aberto, quando nem me olhou depois da minha primeira advertência na escola, nem o castigo você me deu, a sua decepção foi nítida, na hora isso falou mais forte. Você matou a pivete, pai.
E fez nascer a artista e comunista.

E sonho os mesmos sonhos abraçando vários travesseiros, herdei essa mania, também herdei a teimosia e não me abro com meu velho como eu gostaria, ou quando me sinto insegura como um menina indecisa pra escutar a voz do pai que dizia: "Juízo". Aquele simples aviso ainda me norteia como seu sangue que corre nas minhas veias. Muito obrigado por te me feito nascer, por ter me feito crescer

Por ter me feito que nem você, por ter me dado vitamina C, café da manhã, o senso critico, Por ter me dado um irmão, por me levar ao seu trabalho, e me deixar ajudar, por todos os brinquedos inúteis que fiz você comprar, pelo leite com café no pires, por ter me vestido nas festas juninas e me fazer sentir uma princesa, por ter tirado o osso de galinha que ficou preso no meu dente, as historias, as musicas, as fotos o carinho, por esperar dois anos pra abrir o champanhe que tinha ganho, sim eu finalmente passei na UnB.
Por me fazer enxergar que a vida é boa e eu não preciso ter medo. Muito obrigado, meu pai, por me contar seus segredos e confiar em mim, Como eu confio em você.

*Nota da autora: uma adaptação da música Orgulho de Meu Pai, de Gabriel o Pensador

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