4 de nov. de 2014

Cotas, sim

É preciso lançar mão de um cinismo quase criminoso para, no Brasil, ser argumentar contra a política de cotas para negros no serviço e nas universidades públicas.
A ideia de que a disparidade étnica presente na sociedade brasileira tem um pressuposto puramente econômico é, no fim das contas, nada mais é do que um mecanismo de negação a esse racismo tão próprio do Brasil. Esse preconceito nascido na Casa Grande e diluído na hipocrisia da falsa democracia racial tupiniquim, calcada na hipótese da nossa alegre mistura de cores.

da página Dilma Rousseff
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Colaborou Dayse Silva

Trata-se de deslavada mentira.

Qualquer pessoa que não se esconda da realidade sabe que, por aqui, há uma enorme diferença entre ser negro e branco, mesmo que ambos sejam pobres. A hipótese de que a melhor maneira de resolver esse impasse é criar “cotas sociais” é só mais uma maneira de querer negar e disfarçar o racismo que ainda empurra a população negra para a miséria, para os presídios, para os subempregos, para o elevador de serviço.

Mas o fato é que não sofrem apenas porque são pobres, mas porque, principalmente, são negros.

As ações afirmativas, marca dos governos do PT, não foram criadas para gerar tensão social, nem muito menos estimular a divisão racial no Brasil. Essa é uma típica avalição pequeno burguesa de quem, incapaz de reconhecer a gravidade do problema, contenta-se em buscar no simplismo uma justificativa para seus próprios preconceitos.

As cotas para os negros são parte – apenas parte – do pagamento da enorme dívida histórica que o Estado brasileiro tem com os descendentes dos mais de três milhões de africanos que foram trazidos a força para o Brasil e transformados, em três séculos de torturas, trabalhos forçados e assassinatos, nos escravos que construíram essa nação com as próprias mãos, literalmente.

E essa não é, portanto, uma dívida do governo do PT.

Essa é uma dívida do Brasil.

Ontem, ao encaminhar ao Congresso Nacional o projeto de lei a que reserva 20% das vagas em concursos públicos a afrodescendentes, a presidenta Dilma Rousseff fez a sua parte e a do PT.

Não apenas por atender uma reivindicação histórica do movimento negro, mas por compreender a dimensão de um problema que está na base de toda injustiça e do abismo social que ainda divide o Brasil em cidadãos de primeira e segunda classe.

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