29 de jan. de 2016

Os 50 anos de Romário

Charge KÁCIO PACHECO/METRÓPOLES
Os 50 anos de Romário, o Baixinho que era um gigante nos gramados
Artilheiro de língua ferina, o camisa 11 está no panteão daqueles craques únicos, que surgem a cada geração

Por Bernardo Scartezini

“Deixa que eu resolvo”, anunciou Romário, descendo de avião no Rio de Janeiro. Era uma terça-feira de setembro de 1993, e dali a cinco dias a Seleção Brasileira receberia o Uruguai pela última rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do ano seguinte.

O Brasil tinha que ganhar do Uruguai, simples assim, e só por isso Carlos Alberto Parreira chamou Romário, que estava a arrebentar pelo Barcelona. O jogador e o treinador tinham se estranhado, anos antes, num amistoso em Porto Alegre. Romário não queria ficar no banco etc. E, desde então, cada videoteipe de Romário metendo gols lá na Espanha, e ele metia toda semana, deixava a torcida brasileira um tanto mais fula com o Sr. Parreira.

Naquele domingo de setembro, Romário fez o melhor jogo da vida dele. Deu chapéu nos beques uruguaios, acertou o travessão uma vez e, no segundo tempo, abriu a porteira de cabeça e fechou a fatura numa arrancada característica, driblando o largo arqueiro Siboldi na bica da área e dando um totozinho na pelota já quase na linha de fundo – numa jogada que pareceu reter o tempo, dilatando alguns bons segundos e permitindo que a torcida inteira ficasse quieta por um instante e prestasse bastante atenção no que ele estava fazendo.


A arte de jogar na sabedoria
Romário cumpre redondos 50 anos neste 29 de janeiro de 2016. Reter o tempo, afinal, é uma virtude que os craques de bola conseguem atingir apenas por alguns decisivos segundos, não por uma vida inteira. Mas, de toda forma, se Pelé um dia já fez 50 anos e Zico também, não seria diferente para Romário de Souza Faria.

Quem vê o futebol s/a dos dias de hoje, com Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, dois sujeitos que parecem genética e emocionalmente programados para serem o que são, jogarem o que jogam, a figura de Romário soa deliciosamente démodé.

Romário é baixinho, troncudo e perna curta. Nunca foi exatamente um atleta, nunca se esmerou muito em treinos. Como se jogasse por pura sabedoria. Virava a noite nas baladas a tomar guaraná. E sempre teve uma resposta ligeira e desaforada para quem o incomodasse, dentro e fora de campo. (Abraço pro Parreira.)

De certa forma, Romário não era muito diferente de Diego Armando Maradona. Dois jogadores que hoje não existem mais. E o fato de a Seleção Brasileira nos anos seguintes, e até hoje, ser um time de futebol mais ligado ao espírito de nosso gentil Dunga do que à alma malandra de Romário diz muito sobre os rumos que o esporte seguiu.


A arte de tirar da reta
Tal qual Macunaíma, Romário consegue se safar das maiores barbaridades. Voltando ao Brasil em janeiro de 1995, após ter sido apontado como o grande jogador do planeta na temporada anterior, trocou o Vasco da Gama pelo Flamengo.

Mais tarde, trocaria o Flamengo pelo Fluminense, mas não antes de ir e voltar um par de vezes entre a Gávea e o time espanhol do Valencia. Quando enfim foi demitido do Fla, alegou-se que, numa viagem para enfrentar o Juventude em Caxias do Sul (RS), Romário acabou por se engraçar com a Rainha da Uva. Depois ele trocaria ainda o Fluminense pelo Vasco da Gama e por lá se arrastaria nos últimos dois e autoindulgentes anos de sua carreira, só para atingir uma marquetada e contestada marca de mil gols.

Mas nada disso, nada disso parece desabonar o Baixinho. Quando pensamos em Romário cumprindo 50 anos, pensamos naquele Brasil x Uruguai de 1993 e naquele Brasil x Holanda de 1994. Pensamos naquele chutaço que o Branco acertou do meio da rua e que Romário teve a manha de tirar a bunda bem em tempo de a bola passar flamejante.

Quando pensamos em Romário cumprindo 50 anos, agradecemos por ele ter tirado a bunda daquela vez, e agradecemos também por ele ter enfiado o pé outras tantas e tantas vezes.

Valeu, parceiro, valeu demais. Aquele verão de 1994 durará para sempre.

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