Foto Joaquim Dantas |
Tipo assim...
por Sérgio Maggio
no Portal Metrópoles
Neste momento, escrevo um seriado empolgante, daquele de finais de capítulos galopantes, que deixam os fãs insones e de cabeças fervilhantes. Algo assumidamente no estilo “House of the Cards”, em torno de tramas palacianas de poder. Mas, por favor, é bom informar que qualquer semelhança com os fatos que inquietam o Brasil é uma mera coincidência.
O objetivo é deixar os espectadores angustiados por não saber para aonde caminha a narrativa. No auge da história, muitos ficarão sob estado de comoção e vão seguir vidrados à linha principal da trama, comandada por um Juiz, que se empenha espartanamente para ser o herói consagrado do povo.
O protagonista tem, como força-tarefa máxima, a de colocar um Ex-Presidente popular ou populista (ainda estou na dúvida) atrás das grades, ao lado de antigos colaboradores do governo. Todos julgados e presos por corrupção.
Excêntrico país
O seriado se passa num excêntrico país fictício, que teve, em sua recente história, um sangrento golpe militar, que amordaçou a nação por longos 21 anos. Esse contexto é importantíssimo para a narrativa porque, diante da atual crise política, muitos compatriotas, totalmente alheios ao processo de perdas de direito civis e constitucionais no passado, vão para as ruas pedir uma intervenção militar constitucionalista. Aliás, esse núcleo terá perfil cômico pela sua estupidez ideológica e vai virar piada internacional na internet.
A Presidenta
O embate entre o Juiz e o Ex-Presidente investigado é o grande mote do seriado, que gira em torno de um país governado por uma mulher, ex-presa política e torturada da ditadura. A Presidenta (ela prefere ser chamada assim, contrariando as regras gramaticais da língua) não tem trajetória política partidária, tem perfil de gerente e jamais se meteu diretamente num ato ilícito. É alçada, num piscar de olhos, ao posto máximo dessa nação.
Ela foi a grande escolhida desse líder carismático de esquerda, hoje investigado por tráfico de influências e por ser o dono de propriedades luxuosas cujas escrituras não estão em seu nome, nem da sua família (ainda não sei como vou justificar essa situação, mas essa estranheza dá um toque bizarro à trama).
O estranho Vice
Coadjuvante de luxo, a Presidenta governa cercada de crápulas de todos os partidos, inclusive o seu. A pior sigla é oportunista e especialista em produzir vice-presidentes, que no meio do caminho, assumem o poder. O atual Vice dessa Presidenta conspira abertamente para que ela sofra um impeachment e ele possa assumir o poder. Trata-se de um homem misterioso, cheio de caprichos. Alheio à tecnologia, ele evita o olho no olho e prefere mandar recados à mandatária do país por cartas sentimentais.
Bombardeado por uma Oposição de vida pregressa capaz de superlotar uma prisão, o governo da Presidenta é reeleito democraticamente, mas passa a mergulhar numa crise de legitimidade por conta das sucessivas divulgações das delações premiadas das dezenas de empresários, lobistas, publicitários e políticos presos num escândalo de corrupção sem precedentes, investigado pelo Juiz.
O Candidato Derrotado
Há ainda um importante personagem que orbita esse núcleo. O Candidato Derrotado, que é citado em todas as delações premiadas e tem estranhamente todos os seus projetos arquivados. Ele tem no Juiz um aliado, mas não sabe que o magistrado o considera um playboy que não soube passar dos 50 anos. Ao longo da série, perde a importância dramática.
O Milionário da Suíça
Esse Congresso, aliás, tem importantes líderes sob investigação. O Presidente da Câmara dos Deputados, que posava de cristão e defensor da família, por exemplo, tem contas milionárias na Suíça e faz dos juízes que o investiga o que quer. Adia o trâmite do processo que corre no Conselho de Ética e ri da população que pede a sua cabeça. Não interessa ao Juiz herói pegá-lo até a segunda metade da série. Ele precisa desse “crápula” para acelerar o processo de impeachment da Presidenta, acuada e de desempenho governamental sofrível perante a massa.
A crise política fomenta à econômica e leva o país, que cresceu vertiginosamente quando foi comandado pelo Ex-Presidente, à recessão. O clima de instabilidade é alimentado diariamente por uma poderosa Empresa de Comunicação e Entretenimento, de forte influência sobre a opinião pública e capaz de ter apresentadores jornalistas, que vibram ao vivo com cada reviravolta dessa história como se estivessem assistindo a uma partida de futebol.
Personagem de Alcova
Com o cerco ao Ex-Presidente investigado aumentando, a partir de adoção de práticas jurídicas midiáticas, como o depoimento coercitivo e a divulgação de grampos palacianos, a Presidenta atende ao apelo do partido e transforma o então réu em ministro máximo dessa corte. O Juiz reage revelando conversas íntimas entre o Ex-Presidente e a Presidenta e esses áudios correm pelo WhatSApp na íntegra, transformado a população num personagem de alcova.
O desfecho
Com o Executivo acuado, o Legislativo sem credibilidade e o Judiciário contaminado por interesses que extrapolam os conteúdos das investigações (ainda não é a hora de revelar as razões do Juiz), o país se divide e o povo não sabe quem apoiar. Vai às ruas e se enfrenta como se fosse uma luta de torcidas organizadas.
- A Presidenta é afastada do poder em tempo recorde.
- O Presidente da Câmara é preso no dia em que comemorava a derrocada da inimiga.
- O Ex-Presidente popular ou populista se exila numa ilha distante.
- E o Vice, no momento exato de assumir o poder, é desmascarado pelo Juiz.
- Sob o olhar atônito da nação, é revelado que o Vice é, na verdade, um líder alienígena de distante planeta chamado Varginha, que queria tomar o país, numa intervenção interplanetária implacável"
Sob o olhar atônito da nação, é revelado que o Vice é, na verdade, um líder alienígena de distante planeta chamado Varginha, que queria tomar o país, numa intervenção interplanetária implacável"
O novo herói
O Juiz levado pelos braços do povo tornar-se o grande herói, consegue apoio para mudar a Constituição e governar por 21 anos consecutivos, com o voto do povo, que se sentirá numa democracia, mas estará vivendo num estado paralelo de direito sujeito aos interesses do magistrado, onde tudo pode ser mudado a qualquer momento.
Ainda não tenho o nome da série. Mas aceito sugestões.
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