19 de mar. de 2016

Crise política inspira roteiro fantástico

Foto Joaquim Dantas
Foto Joaquim Dantas
Tipo assim...

por Sérgio Maggio
no Portal Metrópoles

Neste momento, escrevo um seriado empolgante, daquele de finais de capítulos galopantes, que deixam os fãs insones e de cabeças fervilhantes. Algo assumidamente no estilo “House of the Cards”, em torno de tramas palacianas de poder. Mas, por favor, é bom informar que qualquer semelhança com os fatos que inquietam o Brasil é uma mera coincidência.

O objetivo é deixar os espectadores angustiados por não saber para aonde caminha a narrativa. No auge da história, muitos ficarão sob estado de comoção e vão seguir vidrados à linha principal da trama, comandada por um Juiz, que se empenha espartanamente para ser o herói consagrado do povo.

O protagonista tem, como força-tarefa máxima, a de colocar um Ex-Presidente popular ou populista (ainda estou na dúvida) atrás das grades, ao lado de antigos colaboradores do governo. Todos julgados e presos por corrupção.

Excêntrico país
O seriado se passa num excêntrico país fictício, que teve, em sua recente história, um sangrento golpe militar, que amordaçou a nação por longos 21 anos. Esse contexto é importantíssimo para a narrativa porque, diante da atual crise política, muitos compatriotas, totalmente alheios ao processo de perdas de direito civis e constitucionais no passado, vão para as ruas pedir uma intervenção militar constitucionalista. Aliás, esse núcleo terá perfil cômico pela sua estupidez ideológica e vai virar piada internacional na internet.

A Presidenta
O embate entre o Juiz e o Ex-Presidente investigado é o grande mote do seriado, que gira em torno de um país governado por uma mulher, ex-presa política e torturada da ditadura. A Presidenta (ela prefere ser chamada assim, contrariando as regras gramaticais da língua) não tem trajetória política partidária, tem perfil de gerente e jamais se meteu diretamente num ato ilícito. É alçada, num piscar de olhos, ao posto máximo dessa nação.

Ela foi a grande escolhida desse líder carismático de esquerda, hoje investigado por tráfico de influências e por ser o dono de propriedades luxuosas cujas escrituras não estão em seu nome, nem da sua família (ainda não sei como vou justificar essa situação, mas essa estranheza dá um toque bizarro à trama).

O estranho Vice
Coadjuvante de luxo, a Presidenta governa cercada de crápulas de todos os partidos, inclusive o seu. A pior sigla é oportunista e especialista em produzir vice-presidentes, que no meio do caminho, assumem o poder. O atual Vice dessa Presidenta conspira abertamente para que ela sofra um impeachment e ele possa assumir o poder. Trata-se de um homem misterioso, cheio de caprichos. Alheio à tecnologia, ele evita o olho no olho e prefere mandar recados à mandatária do país por cartas sentimentais.

Bombardeado por uma Oposição de vida pregressa capaz de superlotar uma prisão, o governo da Presidenta é reeleito democraticamente, mas passa a mergulhar numa crise de legitimidade por conta das sucessivas divulgações das delações premiadas das dezenas de empresários, lobistas, publicitários e políticos presos num escândalo de corrupção sem precedentes, investigado pelo Juiz.

O Candidato Derrotado
Há ainda um importante personagem que orbita esse núcleo. O Candidato Derrotado, que é citado em todas as delações premiadas e tem estranhamente todos os seus projetos arquivados. Ele tem no Juiz um aliado, mas não sabe que o magistrado o considera um playboy que não soube passar dos 50 anos. Ao longo da série, perde a importância dramática.

O Milionário da Suíça
Esse Congresso, aliás, tem importantes líderes sob investigação. O Presidente da Câmara dos Deputados, que posava de cristão e defensor da família, por exemplo, tem contas milionárias na Suíça e faz dos juízes que o investiga o que quer. Adia o trâmite do processo que corre no Conselho de Ética e ri da população que pede a sua cabeça. Não interessa ao Juiz herói pegá-lo até a segunda metade da série. Ele precisa desse “crápula” para acelerar o processo de impeachment da Presidenta, acuada e de desempenho governamental sofrível perante a massa.

A crise política fomenta à econômica e leva o país, que cresceu vertiginosamente quando foi comandado pelo Ex-Presidente, à recessão. O clima de instabilidade é alimentado diariamente por uma poderosa Empresa de Comunicação e Entretenimento, de forte influência sobre a opinião pública e capaz de ter apresentadores jornalistas, que vibram ao vivo com cada reviravolta dessa história como se estivessem assistindo a uma partida de futebol.

Personagem de Alcova
Com o cerco ao Ex-Presidente investigado aumentando, a partir de adoção de práticas jurídicas midiáticas, como o depoimento coercitivo e a divulgação de grampos palacianos, a Presidenta atende ao apelo do partido e transforma o então réu em ministro máximo dessa corte. O Juiz reage revelando conversas íntimas entre o Ex-Presidente e a Presidenta e esses áudios correm pelo WhatSApp na íntegra, transformado a população num personagem de alcova.

O desfecho
Com o Executivo acuado, o Legislativo sem credibilidade e o Judiciário contaminado por interesses que extrapolam os conteúdos das investigações (ainda não é a hora de revelar as razões do Juiz), o país se divide e o povo não sabe quem apoiar. Vai às ruas e se enfrenta como se fosse uma luta de torcidas organizadas.


  • A Presidenta é afastada do poder em tempo recorde.
  • O Presidente da Câmara é preso no dia em que comemorava a derrocada da inimiga.
  • O Ex-Presidente popular ou populista se exila numa ilha distante.
  • E o Vice, no momento exato de assumir o poder, é desmascarado pelo Juiz.
  • Sob o olhar atônito da nação, é revelado que o Vice é, na verdade, um líder alienígena de distante planeta chamado Varginha, que queria tomar o país, numa intervenção interplanetária implacável"

Sob o olhar atônito da nação, é revelado que o Vice é, na verdade, um líder alienígena de distante planeta chamado Varginha, que queria tomar o país, numa intervenção interplanetária implacável"
O novo herói
O Juiz levado pelos braços do povo tornar-se o grande herói, consegue apoio para mudar a Constituição e governar por 21 anos consecutivos, com o voto do povo, que se sentirá numa democracia, mas estará vivendo num estado paralelo de direito sujeito aos interesses do magistrado, onde tudo pode ser mudado a qualquer momento.

Ainda não tenho o nome da série. Mas aceito sugestões.

Nenhum comentário: