11 de fev. de 2017

Mundo estranho - por Breno Altman



Por Beno Altman em seu perfil no Facebook

Inquietante a quantidade de gente progressista tecendo loas ao filósofo franco-búlgaro Tzvetan Todorov, recentemente falecido.

Homem culto e prolífico, alinhou seu pensamento a uma das vertentes do estruturalismo.

De posições humanistas, foi um crítico acérrimo do marxismo, até por ser um foragido da Bulgária socialista, de onde fugiu em 1963 para se exilar na França.

De fato, ajudou estabelecer certas pilastras do pos-modernismo.

Para Todorov, tanto o jacobinismo quanto o marxismo eram culturas messiânicas que intrinsecamente descambavam para o autoritarismo porque se imaginavam reorganizadoras da humanidade.
A ideia de revolução trazia embutido o gene da opressão, pois justificava o uso da força para derrotar seus inimigos.

Sua opção era centrada na ideia da alteridade: somente o respeito a diferença, à diversidade e a existência do outro, não importasse o grau de conflito, poderia levar a um caminho de mais justiça e liberdade.

Menos limites e mais direitos aos indivíduos seriam a resposta, não projetos coletivos que eventualmente legitimassem a liquidação do oponente.

A tese é palatável, corresponde ao mundo sem confrontos irremediáveis dos sonhos de todos nós, mas nada tem a ver com o pensamento socialista ou de esquerda.

Todorov, com todos os méritos que tinha como intelectual, era uma variável sofisticada do liberalismo, tão incensada pela academia e a mídia no período da luta contra o socialismo realmente existente e também depois do colapso soviético, quando passou a ser fundamental dizer que a esquerda somente sobreviveria se abjurasse da ideia de revolução e se domesticasse a uma doutrina sem antagonismos.

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