Foto Joaquim Dantas/Blog do Arretadinho |
Assisti, atento, a toda a sabatina de Alexandre de Moraes, ontem, no Senado da República, reduzido a um cartório onde uma quadrilha homologa a suas intenções e decisões.
Cumpriu-se rigorosamente o mesmo script de todas as sessões da comissão que tratou do afastamento de Dilma: começou com o plenário cheio, com todos os senadores da Comissão atentos às perguntas de Lindbergh e Gleise, após o que saíram todos, só ficando os oito da oposição.
E porque isso, e porque assim?
Aprovar o nome de Alexandre, advogado de defesa de Ali Chechel e seus 400 ladrões, era questão fechada, muito bem amarrada em reuniões no Palácio do Planalto, nas casas de parlamentares, em almoços e jantares nos restaurantes de luxo de Brasília e até em um cruzeiro, num iate, com o sabatinado e seus sabatinadores negociando a pantomina parlamentar, boa parcela deles contando com a sua defesa no STF.
Foram telefonemas, trocas de e-mails, mensagens no zap... Cuidando para que tudo saísse direitinho, de maneira que fosse dado mais um passo no ”estancamento da sangria”.
Saíram todos porque não havia o que ouvir, nada a perguntar.
Depois voltaram, para elogiar o sabatinado e aproveitar a oportunidade de palanque, para queimar Lula e Dilma, justificando o injustificável, o golpe.
A deprimência ficou por conta de dois momentos, quando Aécio Neves sacou uma mentira tão primária e óbvia que até os de seu partido evitaram a manobra, até a falta de vergonha e escrúpulos tem um limite, menos para Aécio Neves.
O segundo momento, e não poderia ser diferente, ficou na manifestação de Magno Malta, o Tiririca do Senado, só não mais medíocre pela impossibilidade, fazendo da sabatina um evento gospel anti petista, posando de honesto, o miúdo ladrão de ambulâncias, investindo na venda dos seus cedês de Nelson Ned de Jesus e na próxima eleição, já que a facção criminosa que lhe dá sustentação econômica, no Espírito Santo, caiu.
Alexandre de Moraes se mostrou cínico e frio, inteligentemente plagiando o personagem Rolando Lero, quando sem ter o que dizer.
É inteligente, muito inteligente, e tecnicamente bem preparado, realmente um homem de notório saber jurídico, talvez tecnicamente melhor que Gilmar Mendes, o que aumentará a periculosidade do STF.
Ontem foi dado mais um passo, talvez o maior, para a consolidação do golpe, para o fim da Lava Jato, para a ditadura perder a vergonha de vez e assumir que é uma ditadura.
Espero que a turma do “volta Dilma” tenha caído na real: mais fácil raposas ficarem vegetarianas que o impeachment ser revertido.
Espero que a turma do “diretas já”, acreditando que eleições presidenciais poderiam ser antecipadas, tenha caído na real: mais fácil nascer uma perna no saci do que isto acontecer.
Espero que a turma do “diretas já”, onde eu me incluía, acreditando que esta bandeira poderia aglutinar o povo, tenha caído na real: mais fácil a Polícia Federal nos dizer de quem era a cocaína que estava no helicoca mineiro.
Espero que a turma do “Lula 2018”, “em 2018 em quem você vai votar?”, “ele está voltando”... Tenha caído na real: o projeto deles é para muitos anos. Não haverá eleições ou, havendo, será de cartas marcadas, trocando só o nome do gerente do golpe, com Lula embarreirado, por condenação em segunda instância, na Farsa a Jato, embarreirado pela PEC barra Lula, derrotado por fraudes eleitorais ou assassinado. Mais fácil Branca de Neve reconstituir o hímem com sete furinhos do que termos eleições em 2017.
Espero que a turma do “fora Dilma”, “Luladrão”, “todo petista é ladrão”, “lugar de ladrão é na cadeia”, “ditadura bolivarista”... A turma das camisas da CBF, dos abadás, das panelas, do patinho amarelinho... A turma que terceirizou a capacidade de pensar para a tevê Globo, tenha caído na real, mais fácil anão ser campeão mundial de basquete do que verem os verdadeiros ladrões na cadeia.
Espero que a turma do “Bolsonaro 2018”, “intervenção militar”, “Bolsomito”, “Bolsonaro, o Trump brasileiro”... Tenha caído na real: o golpe está consolidado e com o aval dos militares, que optaram por continuar nas manobras bélicas nos quartéis, do rancho para o alojamento, do alojamento para o rancho.
A hora é de nos juntarmos todos e encaminharmos a greve geral.
Depois que a ditadura estiver sepultada, com a democracia restaurada a gente volta para a porradaria nossa de cada dia, porque até isso pretendem acabar.
Vem aí a censura e o silêncio.
Quem viver verá.
Francisco Costa
Rio, 22/02/2017.
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