por Ricardo Kotscho
Antes mesmo que fossem anunciados os resultados oficiais da eleição na noite de domingo, milícias bolsonaristas, já empoderadas, saíram a campo para colocar em prática a nova ordem contra quem consideram seus inimigos.
As primeiras vítimas foram os índios da aldeia Bororó, em Dourados; uma jovem estudante, em Salvador; um acampamento de sem-terra, em Dois Irmãos do Buriti, e os professores da Universidade Federal de Santa Catarina, entre dezenas de outros casos de violência e perseguição.
Às quatro da manhã do dia da eleição, três caminhonetes chegaram à aldeia dos Guarani-Kaiowá e iniciaram o ataque, como contou uma jovem de 19 anos, que, por motivos óbvios, não quis se identificar, à reportagem do Correio do Estado, de Mato Grosso do Sul. Seu relato:
“Eram aproximadamente 15 pessoas, duas delas com armas de fogo. Eles já chegaram dando tiros com balas de borracha, a gente não tinha para onde correr. Derrubaram tudinho os barracos. Derramaram as comidas tudo no chão. Só pararam quando a Polícia Militar chegou”. O comandante da guarnição da PM, Carlos Silva, não soube dar maiores informações.
Não muito longe dali, um acampamento de sem-terra, próximo à BR-262, também foi atacado por milicianos que atearam fogo a dois barracos, segundo a repórter Luana Rodrigues, do Correio do Estado.
Foram incendiados também uma escola e um posto de saúde na Aldeia Bem Querer de Baixo, dos índios Pankararu, no município de Jatobá, em Pernambuco. Nota da comunidade indígena sobre o ataque à aldeia, divulgada pela Mídia Ninja, lembra que recentemente os Pankararu ganharam na Justiça direito à reintegração de posse da reserva, invadida por posseiros,
“Os maiores prejudicados são as crianças que ficaram sem escola nas vésperas do fim do ano letivo, os pacientes do posto de saúde, que fazia cerca de 500 atendimentos por mês, e a nossa alma que é constantemente ferida, machucada. Mas jamais silenciada. Hoje, mais do que nunca, resistir é a palavra de ordem”.
Em Salvador, relata o repórter Marcelo Auler em seu blog, a jovem J.B. ficou ferida na noite de domingo num confronto envolvendo policiais e manifestantes pró-Bolsonaro Gays e petistas foram perseguidos na mesma hora em Curitiba. E Fortaleza registrou agressões a jornalistas.
Mas o caso mais grave ainda está acontecendo em Florianópolis, dando uma pista de como a nova ordem pretende agir nas universidades.
A professora Ana Caroline Campagnolo, eleita deputada estadual pelo PSL de Bolsonaro, abriu um “canal informal de denúncias na internet” para fiscalizar professores na sala de aula, a partir desta segunda-feira, 29. A deputada pede que vídeos e informações sejam repassados para o número de celular com o nome do docente, da escola e da cidade.
“Garantimos o anonimato dos denunciante”, diz a mensagem compartilhada numa rede social.
O objetivo é identificar professores considerados de esquerda, seguindo a orientação do presidente eleito, que logo após o anúncio do resultado oficial, em sua primeira fala pelas redes sociais, anunciou na noite de domingo: “Não podemos mais continuar flertando com socialismo, comunismo, populismo e extremismo de esquerda”. Campagnolo cumpriu a ordem.
Ainda faltam dois meses para a posse de Jair Bolsonaro, mas já para ter uma ideia do que podemos esperar nos seus quatro anos de mandato.
Vida que segue.
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