Milhões de trabalhadores voltaram a se endividar nos primeiros meses deste ano. Com a crise sem fim e taxas recordes de desemprego, mesmo quem conseguiu pagar as dívidas em 2018 voltou a atrasar as contas
Escrito por: Rosely Rocha em CUT.org.br
Com a estagnação da economia e o aumento das taxas de desemprego, que atinge mais de 13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras,está cada vez mais difícil pagar as contas. E os brasileiros que, a duras penas, saíram das listas de inadimplentes e limparam o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) quitando suas dívidas no ano passado, estão voltando a se endividar este ano e, de novo, ficando com os nomes sujos, sem poder comprar a crédito e fazer empréstimos pessoais.
No ano passado, o número de devedores reincidentes era de 24,9% do total que tinham dívidas vencidas e não pagas. De janeiro a maio deste ano, os que se endividaram de novo já somam 27% do total de inadimplentes – um aumento de 2,1%. O balanço é da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil.
O levantamento revela que o crescimento mais acentuado em maio foi o de contas básicas, como água e luz, que cresceram 27,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as dívidas bancárias, como cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e empréstimos cresceram apenas 1,3% no período, apesar de representarem 53% das dívidas pendentes de pessoas físicas.
Outras dívidas recuaram. As contraídas no comércio em forma de crediário recuaram -5,1%, assim como as contas de telefonia, TV por assinatura e internet, que caíram -22,1%. No geral, considerando todos os tipos de dívidas, houve uma pequena queda de -0,79% frente maio de 2018.
Apesar desse pequeno recuo de algumas dívidas, no último mês de maio, o volume de consumidores com contas em atraso e com restrições no CPF avançou 2,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado – um pouco acima dos 2,0% registrados no mês anterior (abril).
Brasileiro deve mais do que a média salarial
Segundo as instituições, o inadimplente brasileiro encerrou o último mês de maio com uma dívida média de R$ 3.239,48 (mais de três vezes o salário mínimo atual de R$ 998,00). O valor é 41% maior que a renda média mensal do trabalhador brasileiro (R$ 2.291,00), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A técnica do Dieese da subseção CUT Nacional, Adriana Marcolino, explica que o rendimento médio de todos os trabalhos do brasileiro tem oscilado muito pouco desde o final de 2017 até agora. De acordo com ela, no trimestre terminado em janeiro de 2018 ficou em R$ 2.284,00, no trimestre seguinte subiu para R$ 2.294,00. Depois caiu, aumentou um pouquinho e agora nos últimos três meses (fevereiro, março e abril) fechou em R$ 2.295,00.
“O rendimento médio dos trabalhadores não está reagindo porque está ligado a todo este cenário de baixo crescimento e aumento do desemprego e da informalidade”.
De acordo com Adriana, o salário não é suficiente para bancar as despesas, “embora alguns preços estejam estáveis, como é o caso do gás de cozinha, as altas dos botijões acima da inflação em 2017 e 2018 continuam pesando no bolso do trabalhador.”
E “os custos com a manutenção da vida: casa, alimentação, transporte, saúde pesam muito no orçamento familiar”, analisa a técnica do Dieese.
Para Adriana Marcolino, enquanto a crise econômica e o desemprego não diminuírem não vai ter jeito. As pessoas vão pagar uma conta num mês e deixar de pagar no mês seguinte.
População idosa está mais endividada
Dados detalhados por faixa etária revelam que o crescimento da inadimplência é maior entre a população mais velha. O maior crescimento no atraso de contas é de quem tem de 65 a 84 anos - alta de 9,16%. Em seguida aparecem os consumidores de 50 a 64 anos (4,92%), de 40 a 49 anos (3,55%).
Já na faixa dos 30 aos 39 anos houve uma leve queda de -0,43%. Também houve recuo entre as faixas etárias mais jovens, dos 18 aos 24 anos (-22,62%) e dos 25 aos 29 anos (-8,91%).
A técnica do Dieese lembra que os idosos, aposentados, têm uma renda média menor do que quem está no mercado de trabalho. E, se para quem tem renda média o impacto é ruim, para quem tem uma renda menor, é pior ainda.
“A gente tem percebido que os produtos relacionados à saúde têm aumentado acima da inflação e isto pesa muito na cesta de produtos da pessoa idosa. No começo de 2019 até o mês de maio, a inflação média no Brasil foi de 2,4%, enquanto os planos de saúde subiram 4%, o que contribuiu para que a inflação média de saúde ficasse em 3, 31%, neste período. Parece pouco mais é significativamente maior para quem tem de pagar”, analisa Marcolino.
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