5 de jul. de 2020

A elite é a mãe da rachadinha e Bolsonaro não é o pai

À partir de 1888 a elite brasileira criou a ideia de que o povo brasileiro e o Estado são corruptos, como forma de esconder os roubos e assaltos praticados por ela.

Do Gama
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

No dia que alguém me ver defendendo o governo Bolsonaro ou qualquer fascista de plantão, pode me internar em um manicômio ou simplesmente me dar uma paulada na cabeça porque não estarei servindo mais pra nada.

A pauta da mídia brasileira, que pertence apenas a seis famílias tem sido, faz tempo, a  chamada rachadinha praticada pela família Bolsonaro, como se o Messias e sua prole fossem os inventores dessa prática tão comum em todo o Legislativo nacional, estadual e municipal.

Ora, se é tão comum por que os holofotes estão focados só na família Bolsonaro? Para tentar entender um pouco essa questão precisamos voltar no tempo. Após 1888, quando se deu a "libertação dos escravos" no Brasil, a elite brasileira, que era uma minoria mais muito rica, perdeu muito dinheiro com essa história de "libertação" dos africanos e indígenas, a final de contas, naquela época media-se a riqueza de uma família pela quantidade de escravos que ela era proprietária.

Uma das formas que essa elite encontrou para recuperar a riqueza perdida com a libertação dos escravos, foi enganar o Estado com todo tipo de sonegação possível e impossível que, até então, era ínfima (a sonegação). Essa elite então passou a subornar fiscais e funcionários públicos para que atestassem a veracidade das suas prestações de conta. Subornava autoridades policiais para que, quando descobertos em crimes, fizessem vista  grossa para os seus delitos. Subornava até pessoas comuns para que transportassem suas mercadorias clandestinamente para que não passassem pelos trâmites legais, evitando os impostos.

Essa prática da elite tornou-se normal para a sociedade de um modo geral,  desde o canoeiro ao mais graduado funcionário público, assim a elite plantou a ideia de que o Estado e o povo brasileiro eram corruptos, ideia essa que perdura até os dias de hoje e que, de um modo geral, continua não sendo verdade.

Eu vou chegar ao tema da rachadinha, que é corrupção também, tenha um pouco de paciência...

Tive a oportunidade, assim que foi lançado o programa Esporte a Meia Noite no governo Lula, de ouvir o relato de uma fonte que era lobista explicando como funcionava a implantação do projeto em inúmeras prefeituras no interior do país. O lobista visitava o prefeito de uma pequena cidade e fazia um projetinho de R$ 700.000,00 por ano, mas já deixava claro que o prefeito deveria atestar o recebimento do valor total, entretanto, ficaria com R$ 500.00,00 do valor recebido, por que?

10% era o percentual da comissão do lobista, outro percentual era para o camarada que trabalha no ministério para encaminhar aquele projeto, outro valor (dos R$ 200.000,00) era destinado ao engenheiro que valida a implantação do projeto e assim sucessivamente. Os valores nunca são fixos porque, dependendo do corrupto que estiver ocupando a cadeira de ministro, tem que ter uma "ponta" pra ele também.

Aí vai ter alguém que vai dizer que o governo Lula era corrupto, negativo, os caras que participam desse tipo de treta não são comissionados, são funcionários concursados que passaram por governos anteriores e, alguns deles, ainda estão espalhados pelos ministérios dessa república que foi rebaixada, por Bolsonaro, de república de bananas para república de pitombas.

Uma outra fonte, de minha inteira confiança, relatou-me que filiou-se à uma entidade juvenil, de esquerda, e que essa entidade precisava alugar um imóvel com telefone e internet para que pudessem desenvolver suas atividades mais confortavelmente. Como o CNPJ da entidade estava "sujo" ela não conseguia alugar nem uma casinha de cachorro. Em seu entusiasmo ideológico e quase adolescente, a minha fonte ofereceu-se para que o contrato fosse feito em seu nome. A entidade não cumpriu as suas obrigações de pagamento e o nome da minha fonte foi parar no CERASA, deixando ela com o nome "sujo" que, para regularizar a situação, teve que pagar todas as dívidas, ficando no prejuízo financeiro, não moral. A propósito, a grande maioria da direção dessa entidade era formada por filhos da classe média do Plano Piloto de Brasília, só pra constar.

O nome oficial da rachadinha é "financiamento do partido" e sabe-se que essa prática é antiga e todos, eu disse todos, os partidos aderiram a ela. Contrata-se uma pessoa que, normalmente, só fica com 10% do salário mais ou menos, dependendo do caso e na grande maioria dos casos a pessoa contratada só vai ao Legislativo para assinar o ponto uma vez por mês, conforme comenta-se no meio dos gasparzinhos, como são chamados os funcionários fantasmas.

A rede de TV CNN  noticiou recentemente que já aconteceu da família Bolsonaro demitir um funcionário em um dia e recontrata-lo no outro, para ter acesso as verbas rescisórias do empregado. Então quer dizer que se derrubarem, prenderem, matarem os Bolsonaros acaba essa prática de financiamento de partido, ou rachadinha? NÃO! Continua tudo do mesmo jeito porque nós, sociedade DESORGANIZADA, faz tempo que pensa o "poder" de forma totalmente errada.

Em raríssimas exceções o parlamento brasileiro teve representação genuinamente popular, posso citar, por exemplo, Domingos Dutra do PT/MA, que até já desfiliou-se do partido mas, na maioria dos casos, a defesa feita pelos parlamentares eleitos  é a defesa das elites.

A grande maioria da população enxerga o poder de forma errada porque vota como quem joga no bicho: não quer perder o voto, por isso joga (vota) no bicho que acha que vai ganhar, mesmo que o bicho seja venenoso e vá matar muita gente lá na frente.

Na minha opinião chegamos ao ponto de não discutir mais "esquerda" ou "direita", mesmo porque uma pessoa quando me fala que é de esquerda eu pergunto: qual esquerda? Precisamos pensar em uma nova sociedade coisa que, além de ser dificílimo, leva muito tempo para que ocorra algum tipo de mudança no comportamento das pessoas.

Não suporto esse governo fascista mas, suporto menos ainda essa gente que se diz progressista e defende essa tal de frente ampla, para "destruir o mal" agora e discutir as diferenças depois. Discutir diferenças? Quais diferenças, as que já estamos cansados de saber quais são? Que toda vez que um governo popular alça o poder e procura dar umas migalhas a mais ao povo as elites se revoltam? Já esquecemos de Vargas, Jango, Lula e Dilma?

Quando prenderam Lula sem provas e derrubaram a Dilma sem crime, eu só vi manifestações de rua da elite e classe média branca, mas quando foi descoberta a corrupção bilionária de Aécio, Serra e Cia, eu não vi nem um mosquito da dengue na rua protestando. Quando encontraram 39kg de cocaína no avião do Bolsonaro a classe média e a elite protestaram? Claro que não, a final de contas quem são os maiores consumidores de drogas no país?

Essa parcela da população que pensa o poder errado chama de bandido o jovem preto que é preso com a ponta de um beck no bolso e vai puxar 11 anos de cadeia, mas não chama de bandido o ministro de Bolsonaro que socorre os bancos, na crise atual, com mais de 1 trilhão Reais, mas dificulta a liberação de crédito para mais de 70% de micro e pequenas empresas que estão agonizando.

Eu não sou tão tolo para acreditar que existe solução rápida e fácil para arrumar essa zorra toda, nem essa tal frente ampla, muito menos ainda, conhece a solução, mesmo porque nas poucas experiências de poder que a esquerda teve, usou as mesmas ferramentas que as elites usam há séculos para governar o país.

Enquanto procuram a paternidade das rachadinhas, eu continuo acreditando que é possível construir um pais mais justo e igualitário, desde que a busca por essa construção venha das ruas e não dos gabinetes refrigerados e abastados do poder. Sigamos, mesmo assim.

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