18 de mar. de 2011

LENDAS BRASILEIRAS / PAPA-FIGO




A personagem de hoje é o Papa-Figo, uma figura lendária do folclore brasileiro, conhecido principalmente no estado de Pernambuco. Mas ele nada tem a ver com a fruta chamada figo. Na verdade o figo do nome deste ser é uma corruptela de fígado. Vovó nunca teve problemas no fígado, sempre foi no figo, pois era assim que chamava este órgão.
Dizem que o Papa-Figo tinha orelhas de morcego, unhas de gavião e dentes de vampiro. Andava com roupas esfarrapadas e sujo. Há outras versões que dizem que o Papa-Figo parecia uma pessoa normal, nada tendo a ver com esta figura monstruosa descrita há pouco. Porém, mesmo normal, era de aparência modesta, apresentando-se como um mendigo simpático com um saco nas costas, que atraía crianças solitárias com doces, dinheiro, brinquedos ou comida.
Matava criancinhas mentirosas para chupar o seu sangue e comer o seu fígado. Dava preferência para meninos desobedientes, chorões, e principalmente os gordinhos. Mas apesar de seletivo comia o fígado de qualquer criancinha que tivesse à mão.
É que o Papa-Figo acreditava que beber o sangue e comer o fígado destas criancinhas era o único remédio para uma doença que o afligia: a lepra. Uns justificam que seu aspecto horrendo seria devido a esta doença. A lepra, ou Mal de Hansen, matou um considerável número de pessoas em princípios do século XX, época provável da origem das lendas que envolvem este personagem. Há mesmo relatos que dizem que pessoas com o Mal de Chagas eram confundidas com um Papa-Figo, pois a doença provocava inchaço em algumas partes do corpo, como o fígado. De fato o Ministério da Saúde teve que monitorar em princípios do século XX a população para evitar o contágio e garantir que as pessoas adotavam as medidas necessárias para evitar a propagação do inseto. Os responsáveis por esta fiscalização dirigiam-se às povoações em um carro preto, e quando era encontrada uma vítima da doença, fazia-se o exame do fígado do falecido através de uma punção. As vítimas, predominantemente eram crianças. Junte-se a isto o fato das pessoas não saberem direito o que estava acontecendo pois, com certeza, não recebiam uma explicação. Pronto. Já temos o suficiente para o surgimento de uma lenda. E assim, uma pessoa dentro de um carro preto, estranha, que aparecesse em uma localidade, estava atrás de comer fígado de criancinhas. Era um Papa-Figo!
Mas há outras versões que explicam o surgimento deste ser monstruoso. Outra versão para o surgimento deste personagem seria uma forma das mães despertarem o medo em seus filhos de pessoas estranhas próximo à casa, na tentativa de evitar o contato de crianças inocentes com pessoas que talvez não tivessem boas intenções ao se aproximarem delas. Uma outra forma do Papa-Figo ser usado pelas mães para assustar as crianças era dizê-las, quando não queriam comer, que se não se alimentassem ficariam pálidas como um Papa-Figo. Aliás, outra possibilidade para a origem do Papa-Figo seja a anemia. Pessoas anêmicas são pálidas, e nos tempos de antigamente, remédio para anemia era alimentação, ferro e fígado de boi. De fígado de boi para fígado de criancinha é um passo, quando se tem alguma imaginação.
Dizem em outra versão ainda que o Papa-Figo seria uma pessoa que era rica, educada e respeitada, porém, foi vítima de uma terrível maldição, que o condenou a esta triste sina. Esta versão era bem conhecida dos moradores de Recife. Dizem que havia um palacete localizado em um sítio que, atualmente, ocupa a área de um parque da cidade. Neste palacete residia uma família muito rica. Ao que parece a família foi alvo da curiosidade da vizinhança, que transformou-a em Papa-Figos, pois levou ao surgimento da lenda de que comeriam fígado de criancinhas. Na realidade, consta que uma família abastada viu seu patriarca definhar de uma terrível doença no século passado, mas na versão popular a história ganhou outros contornos. E este senhor acabou em certo momento – na versão popular – sendo aconselhado a comer fígado de criancinha para se curar.Verdade? Mentira? Quem sabe?
 Há versões de que o Papa-Figo na verdade não era o atacante, mas sim o mandante. Teria ajudantes que raptariam as criancinhas por ele, preferindo não aparecer em público. Estes ajudantes poderiam ser quaisquer pessoas normais, agindo em parques, jardins, portas de escolas ou vias públicas.
Ao que parece, na maioria das versões, o Papa-Figo não gosta do que faz, já que costuma deixar para a família do pequeno do qual comeu o fígado uma gorda quantia em dinheiro que guarda na barriga da vítima. Seria uma forma de compensação pela perda sofrida, e talvez de custear seu enterro.
Em meados do século XX, a crescente urbanização, e novos meios de comunicação como o rádio e a televisão, foram transformando e ocupando a vida das pessoas, e acabando por mudar o imaginário do povo, e a lenda do Papa-Figo vai perdendo força. Mas até hoje, pode-se encontrar alguém, em algum recanto rural, que ainda recorda este terrível ser.
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