19 de out. de 2013

O resgate dos beagles

Refletindo sobre o resgate dos beagles
De Brasília
Para o Blog do Arretadinho

A recente invasão por ativistas na defesa dos animais a um instituto de pesquisas, está ocupando as manchetes dos meios de comunicação no Brasil e no mundo.
Não quero me posicionar como juiz, mas alguns questionamentos me perturbaram logo que vi a primeira notícia sobre o caso.

1) Que bom que existam grupos que fiscalizam ações de institutos de pesquisas, que usam animais como cobaias, que denunciam maus tratos ou crueldade com os animais.
Que bom, também, se as pessoas fiscalizassem os abusos cometidos por empresas com o que a gente come, ainda não vi grupos acampados em porta de supermercados, padarias e mercadinhos que desligam as geladeiras durante a noite para economizar energia, que revalidam etiquetas de produtos vencidos, que não qualificam seus funcionários, que pagam salário de fome e praticam preços abusivos.
Ainda não vi grupos acampados próximos a locais de votação, em dias de eleição, cobrando dos eleitores o voto consciente e repudiando a venda deles.

2) Muitas pessoas gostam de ter animais de estimação, muitas gastam bastante dinheiro com seus bichinhos, a prova é a proliferação de Pets Shops pelo país.
Mas eu não assisti nenhuma reportagem mostrando esses grupos, acampados na porta dessas lojas, dizendo aos clientes que muitas crianças esperam por adoção nos orfanatos brasileiros.
Também não vi barracas com ativistas acampados na porta de pessoas que criam animais de estimação em condições precárias.

3) O motivo da invasão ao instituto de pesquisa foi uma denúncia de supostos maus tratos aos animais.
O Ministério Público investigou esse instituto e já esteve no local, mas não encontrou provas das denúncias feitas. Em todas as reportagens que assisti não vi nenhum animal decapitado, mutilado ou coisa parecida.

4) "Resgatar" animais que estavam sendo submetidos a medicamentos e alimentação especial, por supostamente serem mau tratados, não me parece uma atitude racional. Não existem garantias que os bichos não possam transmitir algum tipo de doença, em função do tratamento que estavam sendo submetidos.
Soltar animais que estão sob controle de pesquisadores, sejam eles cães ou ratos, não me parece ser um tipo de ativismo inteligente, esse tipo de atitude vai gerar, no mínimo, prejuízo para a sociedade.

5) Ativismo contra animais serem cobaias de pesquisa científica é um paradoxo.
Li recentemente que na Copa de 2014, quem vai dar o chute inicial na bola, será uma pessoa que recuperou a capacidade de andar depois de ser submetido a pesquisas com neuropróteses. Penso em quantos animais devem ter submetidos a mesma pesquisa para que se pudesse ser aplicada a um ser humano.

Por fim, creio que invasões como a que foi feita no Instituto deslegitima esses grupos de defesa dos animais, destrói anos de pesquisa de uma instituição que recebe verba pública e, principalmente, destrói provas que poderiam ajudar a condenar os pesquisadores, caso as denúncias de abusos e maus tratos fossem verdadeiras.
Parodiando Nelson Rodrigues, Todo fanatismo é burro. 

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