18 de fev. de 2014

No carnaval , o Pau do Índio não dá ressaca

Criador do Pau do Índio nunca provou bebida típica do Carnaval de Olinda
Conhecido pelos blocos que sobem e descem ladeiras, o Carnaval de Olinda também tem sua bebida típica, combustível dos foliões durante a festa, e com um nome bem peculiar: Pau do Índio. Feita à base de cachaça, ervas e especiarias, é vendida há mais de três décadas na cidade com a promessa de não dar ressaca nos foliões.
Criada nos anos 1970 por Antonio Cardoso da Silva, a bebida tem sua fabricação mantida em sigilo. Depois que "seu Cardoso" morreu, em 1995, os filhos Marcos e Kátia Cardoso assumiram a produção e as vendas. A venda do Pau do Índio acontece exclusivamente na casa em que o inventor morou, na rua do Amparo, número 91.

"Pau do Índio só na janela do Cardoso", explica Marcos Cardoso, deixando clara a distinção entre a bebida criada por sua família e outras encontradas no Alto da Sé e em outros pontos de Olinda.

A história do Pau do Índio começou com uma "misturada", também criada por seu Cardoso. "Era uma bebida que meu pai fazia para seus clientes na hora, com a mistura de cana com as raspas do bastão de guaraná", conta Marcos.

Segundo ele, menos de um ano depois de iniciar as vendas, seu pai sonhou com um índio que lhe dizia para acrescentar outros ingredientes. "E ele foi e fez isso. Mas, como no início a coisa não tinha tanta credibilidade, ele ainda fez experiências com os ingredientes e as ervas, colocando um, depois outros, substituindo outros, e assim foi".

Mas não foi o sonho com o índio a fonte de inspiração para dar nome à bebida. Marcos explica que o pai fazia a bebida na hora, e os clientes viam o preparo e os ingredientes usados, como o bastão do guaraná ralado na hora. "Então o pessoal, que pejorativamente chamava o bastão de pau do índio, com o tempo começou a falar: 'Ah, seu Cardoso, o senhor rala isso aí, isso aí é o pau do índio'. O povo que colocou o nome na bebida".

Fabricação artesanal
Por ter sua produção realizada por algum tempo de maneira artesanal e não sistematizada, o Pau do Índio não tem uma data exata de criação. O que se sabe é que a embalagem que é encontrada hoje à venda foi parte do processo de organização da produção, nos anos 1980.

"Começamos a vender a bebida em garrafas de plástico, que nem rótulo tinham com a marca. Depois, vendemos em garrafas de vidro, mas, pouco tempo depois, a Prefeitura proibiu a venda de bebidas em garrafas de vidro, então voltamos para o plástico. E, neste retorno, no final dos anos 1980, começamos a organizar a marca, tiramos a autorização junto ao Ministério da Agricultura, o CNPJ, fizemos o rótulo na gráfica com a imagem do índio", diz Marcos.

Embora a bebida tenha tido três embalagens ao longo do tempo, o conteúdo se mantém o mesmo, com base na cana de cabeça –um tipo de cachaça bem forte e hidratada–, canela, mel, vinho, germe de trigo, cevada, guaraná ralado e ervas.

Fabricante abstêmio
"O mais interessante é que meu pai não bebia nada, nem cerveja, nenhuma bebida alcóolica. Era pela cor e pelo cheiro que ele via se a bebida já estava boa", conta Marcos. O filho do criador da bebida também revela que ele e seus dois irmãos aprenderam ainda jovens a produzir o Pau do Índio da mesma maneira que o pai, e que é apenas sua irmã, Kátia, quem hoje faz a prova na produção para conferir o padrão.

"Meu pai dizia que era afrodisíaco, e eu acredito", conta. Assim como o pai, Marcos não bebe nada, mas garante que este é o segredo para a bebida fazer tanto sucesso.

A fama ganhou mundo, e o produto até foi exportado para a Holanda nos anos 1980. "Chegamos a fazer duas exportações, com uma média de 250 litros de bebida", completa.

Para o Carnaval deste ano, a produção do Pau do Índio foi de 500 litros que, desde janeiro, com as primeiras prévias, já estão à venda. Ao longo do ano, as vendas continuam e, segundo Kátia Cardoso, a expectativa é que outros 300 litros sejam vendidos.

Público
Quando questionados sobre o perfil do consumidor da bebida, Marcos e Kátia dizem que o público é bem diverso, tanto jovens como adultos. "Os que aparecem na janela durante o dia normalmente são turistas, enquanto os que aparecem à noite são moradores daqui ou do Recife. Já no Carnaval fica difícil identificar qual o público que consome mais", diz Kátia.

Do tempo em que seu Cardoso ainda estava à frente do negócio da família, Marcos lembra do prazer do pai em atender seus clientes e das histórias de Carnaval que contavam.

"Lembro dele sentado num banquinho, em frente à nossa casa, vendo a gente vender a cachaça. Na época do Carnaval, ele dava seus cochilos ao longo da tarde para assumir o posto na janela a partir da meia-noite e ficava até as cinco da manhã. Ele gostava da parte final do dia, de ficar conversando com os clientes e escutar suas histórias", conta.

Kátia --responsável por acompanhar a venda para o público fiel da bebida ao longo do ano-- revela o segredo do sucesso do Pau do Índio: "O detalhe mais importante é que não dá ressaca. Se você bebe apenas o Pau do Índio, sem misturar com outro tipo de bebida, não tem ressaca alguma", garante. Segundo ela, "95% dos clientes" consomem a bebida gelada, e poucos preferem bebê-la em temperatura ambiente.

Um ano de fabricação
Como degustadora oficial da bebida durante seu processo de produção Kátia revela que, para chegar às prateleiras, o Pau do Índio fica mais de um ano na fábrica. "Os cerca de dez tambores com a bebida que hoje temos na fábrica são para o Carnaval do ano que vem", explica.

A cachaça precisa curtir as ervas em cada um dos tambores por pelo menos seis meses para apurar o gosto de todos os ingredientes. "A produção continua artesanal, só não é mais feita na hora para cada cliente", completa Marcos.

Serviço
Pau do Índio do Cardoso
Onde: rua do Amparo, 91, Olinda
Quando: qui. a dom., das 8h à 1h; seg. a qua., das 8h às 22h; no Carnaval, das 8h às 1h
Quanto: R$ 4 (200 ml), R$ 8 (500 ml), R$ 16 (1 litro)

Raquel Holanda
Do UOL, em Olinda (PE)

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