"A precarização do trabalho assalariado é de fato a principal porta de entrada para a pobreza com a gente hoje", diz Christoph Butterwegge. imagem: Gabriele Goettle |
Pesquisador alemão afirma que a política neoliberal tem tornado o pobre cada vez mais pobre e o rico cada vez mais rico em seu país. Ele pinta um quadro preocupante de uma sociedade cada vez mais dividida.
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
O pesquisador Christoph Butterwegge analisa o crescente aumento da pobreza e fala da transformação do Estado-Providência.
"Vou começar", diz Butterwegge ao analisar o crescente aumento da pobreza em publicação recente: "A Agenda 2010 da coligação SPD-Verdes liderada pelo chanceler Gerhard Schröder propôs uma mudança radical na economia alemã, por isso implementou a chamada Estratégia de Lisboa a nível nacional. Os Chefes de Estado e de Governo dos Estados membros tinham adotado como um "objetivo estratégico" para a década e anunciou: "tornar a UE na economia mais competitiva e dinâmica, baseada no conhecimento do mundo - economia do mundo capaz de um crescimento econômico sustentável, com mais e melhores empregos e com maior coesão social. "
Desde o início era uma mentira o chamado Hartz IV ou seguro desemprego II, não era, como o ex-chanceler Gerhard Schröder tão enganosamente propunha "uma combinação de desemprego e de assistência social".
Mas não foi isso que foi feito pelo governo alemão. Na prática eles extinguiram o seguro desemprego, criaram leis que "defendessem" os desempregados à longo prazo, criaram, também através de leis, os micro-empregos e instituíram de vez a terceirização da mão de obra, criando assim um setor de baixos salários amplo.
A precarização do trabalho assalariado é de fato a principal porta de entrada para a pobreza na Alemanha, institucionalizando a pobreza na velhice. A pobreza na velhice é, portanto, o resultado da desregulamentação do seguro desemprego, segundo o pesquisador.
Pelo menos uma maçã Imagem: artpartner-images/getty |
Na Alemanha os pobres sentem-se estrangeiros em seu próprio país e a prova disso foi o resultado das últimas eleições, uma diminuição importante do número de eleitores nas urnas. Segundo a própria imprensa de lá, em determinados locais houve uma diminuição de 90% de eleitores que votaram nas últimas eleições, contra 40% das penúltimas.
Isso prova que há uma crise não só na economia ou no mercado financeiro alemão, mas também há uma crise no sistema representativo da da Alemanha, acredita Butterwegge.
Os socialmente desfavorecidos estão desiludidos e já não participam do processo de formação de opinião e tomada de decisão política. A Alemanha não vive mais em um sistema democrático, as pessoas não se sentem mais capazes de participar das decisões políticas e essa sensação de incapacidade deve-se ao fato de que o cidadão está mais preocupado com sua segurança social, com o aluguel que está para vencer e não sabe se vai poder pagar, ao menos, as contas de energia elétrica ou gás.
Segundo o pesquisador, outro dado importante é o sentimento de falta de justiça social entre os mais pobres.
Segundo um relatório do governo federal da Alemanha, em 2013, 10% das famílias detêm cerca de 53% do total dos ativos líquidos, enquanto a metade mais pobre da população, ou seja, 50% têm apenas cerca de 1% do total de ativos líquidos do país. Cerca de 40 milhões de pessoas vivem em condição de pobreza na Alemanha
Enquanto isso, no Brasil, as taxas de desemprego são as menores, a inflação està sendo mantida sob controle, estamos construindo a 4ª maior hidrelétrica do mundo (Belo Monte), a indústria naval nunca esteve tão ativa, o Pré-Sal bate recordes em cima de recordes de produção, mas a imprensa brasileira insiste em fomentar o complexo de vira latas na população.
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