26 de ago. de 2014

Conto do corpo

Por Negodai Miranda

Caminhando em uma sala escura onde não se é visto mais nada, a não ser, sua própria escuridão. Na imensidão do escuro, do vazio, do nunca, do jamais, do não. Ter a consciência de que nada enxergo, de que nada sou, senão um vazio. Um profundo vazio! Que de tão vazio se torna cheio. 

Grande!Imenso!Eterno!

Estou em um cemitério. Onde não apenas se pode ver a dor, antes de tudo, senti-la. São rostos! São prantos! Agonias e desencantos. São cigarros! Esta já é a segunda vez que ele vem pegar um. 

Na ânsia de apagar a angústia. Na busca incessante de preencher o vazio. De tragar, nem que seja em instantes um pouco daquilo que não enxerga, que não procura e que não sabe o que é.

O caixão está a postos, dentro dele um corpo. Qual? Qual corpo? O seu. Neste instante o silêncio é quebrado por uma gargalhada bem longe e agora perto. Dizendo, não se esqueça do corpo? Que corpo? 

Olha, não aguento mais! Seu corpo! O seu corpo! O corpo seu. Saia dessa escuridão que tanto te consome. Venha à tona! Surja com a luz. Não deixe que a escuridão alheia ofusque o seu brilho. Perceba o imperceptível! Sinta suas sensações! Suas necessidades seus anseios, suas emoções! 

Escore na gravidade e flutue. Transmita como que em um diálogo seus mais nobres sentimentos. Esqueça os medos! Na verdade, eles nos atraem. Resista! Não faça dele uma droga vicejante que se tem que apreciar todos os dias.

Tenho vontade de falar mal de você por fazer-me enxergar aquilo que não enxergo. Por entrar em meu ser e provocar uma revira-volta. Tu levantas questões que nem sequer consegues resolver. E ainda sorri para mim, seu falso sorriso, seu canto de boca, seu olhar permissivo. Como se a mim dominasse, quando na verdade, nem se quer se governas. Agora podes chorar! O corpo já foi enterrado.
O corpo? Que corpo? Qual corpo?...

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