Justina Maria do Espírito Santo |
Justina Maria do Espírito Santo e Luiza Mahin. Nunca se conheceram, mas ambas nasceram escravas, na mesma época – início do século XIX -, na África Ocidental.
As duas são descritas como muito negras e muito lindas. De famílias islâmicas, desembarcaram no Brasil quase ao mesmo tempo.
por *Luiz Renato Nogueira Cobra Vitali
A primeira no Rio de Janeiro, a outra, na Bahia, onde foram vendidas a grandes senhores de terras e de escravos, de famílias riquíssimas e de muito prestígio social. Os dois senhores – que também jamais se encontraram – eram famosos pela gula incontrolável, por desenfreada compulsão luxuriosa em relação às suas escravas e por serem jogadores inveterados.
O senhor de Luiza alforriou-a e se casou com ela. Já o senhor de Justina não podia (e nem queria) fazer isso, porque era cônego, vigário da paróquia e orador sacro de grande fama na capela imperial. A principal figura do clero de São Salvador de Campos dos Goitacazes (RJ).
Ainda em comum, as duas tiveram filhos com aqueles homens e um dos meninos de cada uma acabou se tornando importante figura da História do Brasil. Os pais nunca reconheceram os filhos oficialmente, embora ambos tenham nascido livres.
Justina, mais tarde, também foi alforriada e passou a exercer a profissão de quitandeira da Praça das Verduras. Sempre teve índole serena e pacífica. Luiza também era quitandeira, mas fez fama como quituteira. Seu temperamento era oposto ao de Justina. Revolucionária histórica, envolveu-se na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia, nas primeiras décadas do século XIX.
De seu tabuleiro de quitutes, eram distribuídas as mensagens em árabe aos vários grupos revolucionários, através dos meninos que pretensamente com ela adquiriam os quitutes. Desse modo, esteve envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837-1838), entre outras.
Justina permaneceu ligada ao filho por toda a vida. Quando morreu, ao seu enterro compareceram escritores, jornalistas, políticos. Todos amigos do glorioso filho.
Já Luiza perdeu cedo o contato com o filho. O menino, então com dez anos de idade, foi vendido ilegalmente pelo próprio pai, como escravo, para quitar uma dívida de jogo. Conhecedor de que sua situação era ilegal - já que era filho de mãe livre -, acabou fugindo e, embora a tenha procurado por toda a vida, jamais reviu Luiza, também fugitiva das autoridades, graças às atividades revolucionárias.
Apesar de tantas adversidades, ambas criaram filhos vencedores. Luiza é mãe de Luiz da Gama. Justina, de José do Patrocínio. Os dois, grandes jornalistas, que entraram para a História como importantes atores da Abolição da Escravatura, ao lado de nomes como Teodoro Sampaio, André Rebouças, Castro Alves e Joaquim Nabuco.
*Luiz Renato Nogueira Cobra Vitali é redator, roteirista e revisor de textos.
4 comentários:
Seu texto é excelente, retratando duas corajosas mães que deveriam passar para a história como duas heroínas e, no entanto continuam no anonimato. Tendo Justina residido nesta cidade,gostaria de saber mais sobre ela, inclusive a fonte da sua foto estampada no texto. Sei apenas que aqui em Campos dos Goytacazes ela pertenceu à fazendeira Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo que,a repassou ao cônego João Carlos Monteiro.
Agradeço antecipadamente no que puder me ajudar.
Mário Barreto Menezes
Seu texto é excelente, retratando duas corajosas mães que deveriam passar para a história como duas heroínas e, no entanto continuam no anonimato. Tendo Justina residido nesta cidade,gostaria de saber mais sobre ela, inclusive a fonte da sua foto estampada no texto. Sei apenas que aqui em Campos dos Goytacazes ela pertenceu à fazendeira Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo que,a repassou ao cônego João Carlos Monteiro.
Agradeço antecipadamente no que puder me ajudar.
Mário Barreto Menezes
OK, vou procurar mais informações. Agradeço o comentário
Procurei e não achei foto do pai de José do Patrocínio. Será que não tem?
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