6 de jan. de 2015

Carlos Lacerda, o impreciso

A atuação do jornalista, deputado e governador Carlos Lacerda, nos anos 60, parece ganhar uma reedição no século 21.

De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

O papel da imprensa e de figuras públicas, que traziam em seu DNA o viés de esquerda, no golpe militar de 64, teve importância fundamental. Uma dessas figuras foi Carlos Lacerda. Filho de comunista, transitava livremente no partidão, embora nunca tenha sido admitido formalmente nos quadros do partido.

Fez oposição a Getúlio Vargas, JK e João Goulart. Articulou golpes e vendeu a alma ao diabo para alcançar seus objetivos. Lacerda era um canibal político que os militares devoraram
Com um jornal de 12 páginas e um discurso feroz, o político e jornalista derrubou o governo e empolgou a classe média e as elites. Era golpista e, como parte dos intelectuais, pregava a violência como parteira da história.

Carlos Frederico Werneck de Lacerda (30 de abril de 1914 - 21 de maio de 1977) era jornalista e político . Foi membro da União Democrática Nacional (UDN), vereador (1945), deputado federal (1947–55) e governador do estado da Guanabara (1960–65). Fundador em 1949 e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa e criador, em 1965, da editora Nova Fronteira.

Origens
Carlos Lacerda nasceu na então capital federal embora tenha sido registrado em Vassouras, cidade localizada no sul do estado do Rio de Janeiro, cidade onde seu avô residia e seu pai tinha grandes interesses políticos. Recebeu o nome de Carlos Frederico como homenagem aos pensadores políticos Karl Marx e Friedrich Engels. Era filho do político, tribuno e escritor Maurício de Lacerda (1888–1959) e de Olga Caminhoá Werneck (1892–1979), neto paterno do ministro do Supremo Tribunal Federal Sebastião Lacerda. Pela família materna, era bisneto do botânico Joaquim Monteiro Caminhoá e descendente direto do barão do Ribeirão e de Inácio de Sousa Vernek, cuja família tinha importante influência política e econômica na região. Seus pais eram primos, descendentes em linhas afastadas de Francisco Rodrigues Alves, o primeiro sesmeiro da cidade de Vassouras. 

Por outro lado, embora tivesse sobrenome parecido como o do barão de Pati do Alferes, o seu sobrenome Lacerda origina-se de seu bisavô, um pobre confeiteiro português que se estabeleceu em Vassouras e se casou com uma descendente de Francisco Rodrigues Alves (estes serão os pais de seu avô paterno, Sebastião Lacerda). Seu bisavô português chamava-se João Augusto Pereira de Lacerda e pertencia a uma das principais famílias da nobreza açoriana, os Lacerdas do Faial, descendentes das nobres famílias dos Pereiras, senhores da Feira e dos Lacerdas, descentes dos reis de Castela e Leão e dos de França.

Ingressou em 1929 no curso de Ciências Jurídicas e Sociais da então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante seu período acadêmico, destacou-se como orador e participou ativamente do movimento estudantil de esquerda no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira. Devido ao grande envolvimento em atividades políticas, abandonou o curso em 1932.

Tornou-se militante comunista, seguindo os passos de seu pai, Maurício de Lacerda, e dos seus tios Paulo Lacerda e Fernando Paiva de Lacerda, antigos militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas nunca foi aceito formalmente pelo partido.

Sua primeira ação contra o governo de Getúlio Vargas implantado com a revolução de 1930 deu-se em janeiro de 1931, quando planejou, junto com outros comunistas, incentivar marchas de desempregados no Rio de Janeiro e em Santos durante as quais ocorreriam ataques ao comércio. A conspiração comunista foi descoberta e desbaratada pela polícia liderada por João Batista Luzardo, o que até virou notícia no jornal estadunidense The New York Times.

Em março de 1934 leu o manifesto de lançamento oficial da Aliança Nacional Libertadora (ANL), entidade ligada ao Partido Comunista do Brasil, em uma solenidade no Rio de Janeiro à qual compareceram milhares de pessoas.

No ano seguinte publicou, com o pseudônimo de Marcos, um livreto contando a história do quilombo de Manuel Congo. Apesar do viés de propaganda comunista juvenil, o livreto resultou da primeira pesquisa histórica feita sobre um assunto que fôra quase esquecido.

Quando ocorreu o fracasso da Intentona Comunista de 1935, teve que se esconder na velha chácara da família em Comércio (atual Sebastião Lacerda, Vassouras) e ser protegido pela família influente.

Rompeu com o movimento comunista em 1939, dizendo considerar que tal doutrina "levaria a uma ditadura, pior do que as outras, porque muito mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar". A partir de então, como político e escritor, consagrou-se como um dos maiores porta-vozes das ideologias conservadora e direitista no país, e grande adversário de Getúlio Vargas, e dos movimentos políticos trabalhista e comunista, sendo contado como um dos principais oradores da ‘Banda de música da UDN’.

O anti-Getúlio
Inimigo político de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda foi o grande coordenador da oposição à campanha de Getúlio à presidência em 1950 e durante todo o mandato constitucional do presidente, até agosto de 1954. Uniu-se a militares golpistas e aos partidos oposicionistas (principalmente a UDN) num esforço conjunto para derrubar o presidente Vargas através de acusações que publicava em seu jornal, Tribuna da Imprensa.

Lacerda foi vítima de atentado a bala na porta do prédio onde residia, número 180 da rua Tonelero, em 5 de agosto de 1954, quando voltava de uma palestra no Colégio São José, no bairro da Tijuca. No atentado da rua Tonelero, morreu o major da aeronáutica Rubens Vaz, membro de um grupo de jovens oficiais que se dispuseram a acompanhá-lo e protegê-lo das ameaças que vinha sofrendo. Atingido de raspão em um dos pés, Lacerda foi socorrido e medicado em um hospital. Lá mesmo, acusou os homens do Palácio do Catete como mandantes do crime.

A pressão midiática e a comoção pública com a morte do major Rubens Vaz obrigaram o governo a instaurar um Inquérito Policial Militar - IPM para investigar o atentado. Rapidamente, os militares ligados a Lacerda fizeram do inquérito o palco perfeito para fomentar ainda mais a crise. Uma série de investigações levou à prisão dos autores do crime, que confessaram o envolvimento do chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato e do irmão do presidente, Benjamim Vargas.

Com a conclusão do IPM (chamado na imprensa de "República do Galeão") instaurado pelo Brigadeiro Nero Moura, Ministro da Aeronáutica, o presidente do Inquérito, indicado pelo Ministro, Coronel João Adil de Oliveira informou, em audiência com o presidente Vargas, que havia a existência de indícios sólidos sobre a participação de membros da Guarda no atentado.

Dezenove dias depois, com o agravamento da crise política e o ultimato das Forças Armadas pela sua renúncia, Getúlio Vargas morreu com um tiro no peito em 24 de agosto. O suicídio reverteu a opinião pública e provocou uma imensa onda de comoção e revolta. Isso obrigou Lacerda e parte de seu grupo a deixar o país. Na época, milhares de revoltosos tomaram as ruas, empastelando jornais ligados à oposição.

Lacerda e a posse de Juscelino
Lacerda participou ainda de nova tentativa de golpe de estado em 1955, quando se uniu aos militares e à direita udenista para impedir a eleição e a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek e seu vice-presidente, João Goulart.

As manobras golpistas começaram já no período eleitoral, quando ocorreu o episódio da Carta Brandi, uma notícia supostamente falsa plantada pelos opositores no jornal de Lacerda que envolvia João Goulart num pretenso contrabando de armas da Argentina para o Brasil.

Após a eleição de Juscelino, Carlos Luz, presidente interino à época, aliado aos militares e a Carlos Lacerda, tramaram um novo golpe. A bordo do Cruzador Tamandaré, fizeram a resistência, mas foi alvejado (o navio) a tiros pela artilharia do exército a mando do General Teixeira Lott, que tinha pretensões de se candidatar à presidência. Foi o último tiro de guerra disparado na Baía da Guanabara no Rio de Janeiro. Durante anos, o episódio ficou conhecido como o golpe de Lott.

Vencido na tentativa de golpe, Lacerda partiu para um exílio breve em Cuba, que ainda estava sob o regime do caudilho Fulgencio Batista, antes do golpe de esquerda promovido Revolução Cubana.

Voltou em seguida para reassumir sua cadeira de deputado e continuar a oposição a Juscelino Kubitschek, atacando, entre outras coisas, a construção de Brasília.

Juscelino não permitiu jamais o acesso de Carlos Lacerda à televisão. Juscelino confessou a Lacerda, no encontro de Lisboa em 1966 que, se deixasse Lacerda falar na televisão, Lacerda o teria derrubado do governo.

O golpista derruba-presidentes
Em 1961 fez um discurso atacando, pela televisão, o presidente Jânio Quadros, antigo aliado. A renúncia de Jânio ocorreu em seguida, em 25 de agosto.

Com a transferência da capital para Brasília, candidatou-se ao governo do recém-criado estado da Guanabara. Apesar do grande favoritismo inicial, Lacerda foi eleito por pequena margem, tendo sido ajudado pela divisão de votos populares que ocorreu com a candidatura de Tenório Cavalcanti ao mesmo cargo.

O seu governo do antigo estado da Guanabara destacou-se pela construção de grandes obras que mostraram suas habilidades de administrador e consolidaram a simpatia da classe média. Seu Secretário de Obras foi o eminente engenheiro civil e sanitarista Enaldo Cravo Peixoto. Construiu a estação de tratamento de água do Guandu (até hoje a maior do país) e um sistema de distribuição que resolveram um centenário problema de abastecimento (a falta de água era crônica e inspirava marchinhas de carnaval como "Rio de Janeiro, /cidade que nos seduz, / de dia falta água, / de noite falta luz" - Sucesso de Vitor Simon e Fernando Martins, do Carnaval de 1954). 

Construiu túneis importantes para o trânsito de veículos, como o Santa Bárbara e o Rebouças, ligando a Zona Norte à Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Terminou a construção e reurbanização do aterro do Flamengo. Removeu favelas de bairros da zona sul e Maracanã, criando o parque da Catacumba, o campus da UEG (atual UERJ), e instalando seus antigos habitantes em conjuntos habitacionais afastados como Cidade de Deus e Vila Kennedy. Construiu inúmeras escolas e manteve um alto padrão de qualidade dos hospitais públicos.

Durante seu governo, foi divulgado que policiais assassinavam os mendigos que perambulavam pela cidade e jogavam seus corpos ao rio da Guarda, afluente do rio Guandu. O governo de Carlos Lacerda foi acusado pela imprensa de oposição de ter dado instruções aos policiais para que realizassem estes assassinatos. Lacerda demitiu o Secretário de Segurança e o envolvimento dos escalões superiores do governo nestes fatos nunca foi provado.

Foi um dos líderes civis do golpe militar de 1964, porém voltou-se contra ele em 1966, com a prorrogação do mandato do presidente Castelo Branco. Segundo Lacerda, a prorrogação do mandato de Castelo Branco levaria o recém instalado governo "revolucionário" consolidar-se numa ditadura militar permanente. Confiava no sucesso do governo que tinha realizado no estado da Guanabara para enfrentar o candidato de oposição Juscelino Kubitschek.

A desilusão com 1964 e a cassação
Em novembro de 1966, lançou a Frente Ampla, movimento de resistência ao golpe militar de 1964, que seria liderada por ele com seus antigos opositores João Goulart e Juscelino Kubitschek.

Foi cassado em 1968 pelo regime militar.

Morreu na clínica São Vicente de "infarto no miocárdio". Como os três líderes da Frente Ampla morreram em datas próximas, tal fato persuadiu alguns estudiosos a supor que estas mortes possam estar relacionadas.

Em 20 de maio de 1987, através do decreto federal nº 94.353, teve restabelecidas, post mortem, as condecorações nacionais que foram retiradas e reincluído nas ordens do mérito das quais fora excluído em 1968.

Referências
http://mapadecultura.rj.gov.br/vassouras/carlos-lacerda/
DULLES, John WF (2000), Carlos Lacerda – A Vida de um Lutador, – 1914–1960, Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
FORJAZ, Jorge (2007), Genealogias da Ilha Terceira, Lisboa, p. 461.
Beloch , 2001.
http://globofilmes.globo.com/noticia-756-flores-raras.htm
Geraldo Elísio (13/04/2012). O CAMALEÃO DAS GERAIS (em português) Novo Jornal.

2 comentários:

brasilpensador.blogspot.com disse...

UM POLITICO DE VIDA CONTURBADA, uma hora era de esquerda outra era de direita uma hora apoiava os militares outra hora era cassado por essses, sinalque o pessoal do partido que nunca lhe deram atençao sabiam com quem estava lidando,ele parecia mais com uma raposa, embora um grande administrador nao podemos negar isso, pois o RJ cresceu muito na sua gestao,ELE DISSE UMA FRASE QUE NUNCA ESQUECEMOS; senao mer engano conta JUCELINO OU JANGO, QUE O CANDIDATO A PRESIDENTE NAO DEVERIA CONCORRER, SE CONCORRER NAO GANHAR SE GANHAR NAO ASSUMIR.

Blog do Arretadinho disse...

Você está coberto de razão, Edson. Obrigado por comentar