Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou Cora Coralina |
Há 30 anos a poetisa Cora Coralina deixou-nos órfãos de sua poesia
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
Na próxima sexta-feira (10), completa 30 anos que a Escritora, Poetisa, Contista e Doceira nos deixou órfãos de sua poesia. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou Cora Coralina, é considerada uma das principais escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 intitulado Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, quando já tinha quase 76 anos de idade.
Mulher simples, doceira de profissão, viveu longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
Ana nasceu e foi criada às margens do Rio Vermelho, em uma casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiás.
Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos de idade, publicando-os nos jornais da cidade de Goiás, e nos jornais de outras cidades. Teve seus textos publicados no semanário Folha do Sul da cidade goiana de Bela Vista, desde a sua fundação a 20 de janeiro de 1905 e na revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917, apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries.
Quando completou 50 anos de idade, a poetisa disse ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nessa fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos atrás.
Durante esses anos, Cora Coralina não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade que nasceu e com o ambiente em que foi criada. Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias, que foi lançado pela Gravadora Paulinas Comep. O disco ainda pode ser encontrado hoje em formato CD.
Cora foi membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Gabinete Literário Goiano, União Brasileira de Escritores e da Academia Brasiliense de Letras.
"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
Em 1979, ela recebeu uma carta de Carlos Drummond de Andrade que lançou, definitivamente, no Brasil como uma grande poeta. Durante muitos anos, Drumond homenageou Cora Coralina em diversas cartas e publicações.
A escritora na juventude |
Viveu 95 anos, sendo 78 deles dedicados à literatura. Inúmeras foram as participações, condecorações, homenagens e prêmios recebidos. Frequentou apenas o ensino fundamental, mas recebeu o título Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás de Doutora Feita Pela Vida em 1983. Logo depois, no mesmo ano, foi eleita Intelectual do Ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores.
Os motivos folclóricos que faziam parte do cotidiano de Ana serviram de inspiração para que aquela frágil mulher se tornasse a dona de uma voz inigualável e sua poesia alcançasse um nível de qualidade literária, até então, obtido por nenhum outro poeta do Centro-Oeste.
A escritora, que era senhora de poderosas palavras, a escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras gramaticais, contribuiu para que sua produção literária priorizasse a mensagem ao invés da forma.
Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera de seu tempo, que permitiu a ela a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.
Cora Coralina faleceu em Goiânia no dia 10 de abril de 1985. A sua casa na Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua história de vida e produção literária.
Confira o documentário da TV Brasil
Confira o documentário da TV Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário