Mulheres que trabalham em hotéis da Guaicurus são personagens de exposição fotográfica contemplada pelo XIV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia
Por : Any Costa
A fotógrafa Laura de Avelar Fonseca entrevistou e fotografou mulheres que trabalham nos hotéis da Rua Guaicurus, conhecido ponto de prostituição de Belo Horizonte. A mostra fotográfica que resultou desses encontros poderá ser vista em Curitiba, a partir de 29 de julho, quando a exposição Hotel Esplêndido será aberta, no Museu Municipal de Artes, o MuMA. Composta por fotos e áudios, curadoria do artista Scott MacLeay, trilha sonora do Grivo, o projeto Hotel Esplêndido foi um dos contemplados do XIV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, promovido pela Fundação Nacional das Artes.
“Estas não são fotos de prostitutas. Estas são imagens do ambiente em que as mulheres trabalham. O ambiente de trabalho não as define; simplesmente identifica e gerencia sua persona pública”, conta Scott MacLeay. Confira a entrevista completa com a fotógrafa:
Portal Photos: Como surgiu a ideia de trabalhar com esse público?
Laura de Avelar Fonseca: O início desse projeto coincide com o início da minha carreira como fotógrafa, pois sou economista de formação. Eu tinha grande curiosidade e vontade de conhecer as mulheres que trabalham nos hotéis da Rua Guaicurus, ponto referência de prostituição na cidade em que eu moro, Belo Horizonte. Trata-se de um lugar de grande importância histórica, mas de acesso restrito às mulheres que não são prostitutas. Então, a fotografia surgiu como um pretexto e também como uma oportunidade para eu entrar nesse universo.
Nesse contexto, o meu objetivo era fotografar a realidade dessas profissionais em seu ambiente de trabalho através de uma abordagem respeitosa, com ênfase na condição humana dos sujeitos retratados e não apenas nas atividades e atitudes inerentes a profissão de uma prostituta. Para tanto, eu realizei entrevistas e fotografei essas mulheres com visitas regulares aos hotéis, desde o final de 2011.
PP: Como aconteceu o primeiro contato?
L: A primeira vez eu fui acompanhada de dois colegas fotógrafos, pois eu não sabia como seria a entrada nos hotéis e a recepção dos clientes. Além disso, nós fomos no sábado de manhã, que é um dia de muito movimento no qual elas não querem parar para fotografar, então eu escutei inúmeros “nãos”. Quando conseguíamos permissão para fotografar, eu tinha 5 minutos no máximo e era tudo muito rápido e escuro, pois a maioria dos quartos não tem janela e apenas luz azul e/ou vermelha. Inicialmente a resistência era grande, pois a maioria das prostitutas não gosta de ser identificada devido aos estigmas da profissão. Mas aos poucos eu fui ganhando a confiança delas e nossa relação se tornou muito próxima, especialmente no período em que eu passei a frequentar os hotéis semanalmente.
PP: Como foi a aceitação?
L: No início a recepção foi bem difícil, pois ninguém quer ser fotografado na zona: nem as mulheres, nem os clientes e nem os hotéis querem ser identificados. Mas dentro dos quartos você tem bastante liberdade e a aproximação fluiu com muita naturalidade. Eu sempre levava a câmera, mas nem sempre fotografava, elas têm muito para falar, muitas histórias para contar, então muitas vezes nós apenas conversávamos.
PP: E sobre o processo de desenvolvimento das imagens, como funcionou?
L: Inicialmente eu fotografava tudo de forma bem livre. Porém, com o tempo comecei a direcionar o material para os meus objetivos, dando ênfase nas cores, nos objetos do quarto que remetem a uma existência mais íntima, além dos hotéis da Guaicurus. Nesse período, eu contei com a ajuda da artista mineira Patrícia Azevedo e do curador da exposição Scott Macleay para a seleção do material.
PP: Alguma história interessante que gostaria de compartilhar com os leitores da Editora Photos?
L: Eu gostaria de compartilhar que o que me motivou a realizar esse projeto foi a crença de que nenhum ser humano é definido por sua profissão. Isso é apenas uma parte da história que não define o ser humano que existe por trás desse papel. A existência de cada um é muito mais complexa e qualquer pré- julgamento é incapaz de abraçar a dimensão das vidas e escolhas individuais. Nesse contexto, eu espero que essa exposição seja capaz de aproximar e alterar o olhar do público para esse universo, além de criar uma reflexão sobre o tema a partir de uma perspectiva mais humana e menos estigmatizada.
PP: Conte sobre a exposição desse trabalho?
L: O projeto Hotel Esplêndido é uma exposição audiovisual com fotografias e depoimentos das mulheres que trabalham nos hotéis da Rua Guaicurus, ponto de referência de prostituição em Belo Horizonte. A exposição de fotografias é composta por 25 imagens que são dípticos e trípticos, que buscam mostrar através da justaposição de perspectivas a complexidade das relações dessas mulheres com seu ambiente de trabalho, colegas de profissão, clientes e família. De forma a agregar às fotografias os sentimentos e a percepção dessas mulheres em relação ao seu universo particular, também foram gravadas entrevistas que estarão presente através de uma trilha sonora com depoimentos no ambiente da exposição. Apesar desta exposição ter apenas 25 imagens, o material fotográfico é mais extenso e esse projeto ainda poderá ter desdobramentos.
Agende-se
O que: HOTEL ESPLÊNDIDO – Exposição fotográfica de Laura de Avelar Fonseca.
Onde: MuMa – Museu Metropolitano de Arte de Curitiba | PR - Sala Domicio Pedroso, Av. República Argentina, 3430.
Abertura: 29/07/2015, das 19h30 às 21h30.
No dia 30/07 haverá a Oficina Poética das Bordas, com visita guiada seguida de conversa com a artista e o curador, das 16 às 18h.Inscrições gratuitas pelo email ecm2@ecm2art.com.
Entrada Gratuita.
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