José Gabriel Concorcanqui, mais conhecido como Tupac Amaru II, foi uma importante figura política da América do Sul de fins do século XVIII, época em que a montagem da empresa colonial hispânica estava estabelecida e teve que enfrentar rebeliões por parte dos índios locais, que reivindicavam a condição de herdeiros da civilização inca e tentavam, ainda, resistir à estrutura da colonização.
Havia muitos acordos entre os espanhóis e os índios locais. Geralmente, o líder local, denominado curaca, era responsável por estabelecer um contrato com o colonizador que garantia a oferta de mão de obra em troca do recebimento de parte dos impostos. Com essa medida, os colonizadores espanhóis não precisavam se indispor com a população indígena com enfrentamento militar.
Entretanto, em 1780, Tupac Amaru II, que era um desses líderes curacas, rebelou-se contra a estrutura colonial espanhola, declarando-se herdeiro direto do líder inca Tupac Amaru, conhecido pela resistência à conquista espanhola da referida civilização no século XVI. Tupac Amaru II, ou José Gabriel, estudou na Universidade de São Marcos, na capital do Peru, Lima, e obteve uma formação permeada pelas ideias iluministas, de forma semelhante àquela que os intelectuais mineiros que participaram da Inconfidência tiveram.
As ideias de liberdade e luta por igualdade de direitos contribuíram para que Tupac Amaru projetasse uma rebelião contra a metrópole espanhola, organizando assim uma insurreição indígena no Peru, contando também com apoio da elite de criollos (colonos residentes no local) e dos mestiços desse país. A proposta de Amaru consistia, principalmente, em desobedecer à ordem de tributação da colônia à coroa.
Por Me. Cláudio Fernandes
No entanto, a organização de Amaru foi posteriormente desarticulada e seu líder morto de forma cruel pelas autoridades metropolitanas. As pesquisadoras Kátia Gerab e Maria A. Campos Resende relataram em seu livro “A rebelião de Tupac Amaru – resistência no Peru do século XVIII” como foi a execução do líder indígena. No livro, podemos ler o modo cruel como Tupac Amaru II foi morto:
“(...) Ataram-lhe às mãos e pés quatro cordas e prenderam-nos ao dorso de quatro cavalos (...). Não sei se porque os cavalos não fossem muito fortes, ou o índio, em realidade, fosse de ferro, não puderam absolutamente dividi-lo, depois de um interminável momento em que o mantiveram puxando, de modo que o tinham no ar, num estado em que parecia uma aranha. Tanto que o visitador, movido de compaixão, para que não padecesse mais aquele infeliz, despachou uma ordem mandando que o carrasco cortasse sua cabeça, como se executou (...) Desse modo, acabaram José Gabriel Tupac Amaru e Micaela Bastidas. (...) Neste dia compareceu (à praça) um grande número de gente, mas ninguém gritou nem levantou uma voz (...). (Kátia Gerab e Maria Angélica Campos Resende. A Rebelião de Tupac Amaru - luta e resistência no Peru do século XVIII. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. PP. 40 – 41.)
Percebe-se que a morte de Tupac, para ser exemplar aos outros indígenas que tentassem insurreição semelhante, foi, inicialmente, programada como um suplício. O objetivo era arrancar seus braços e pernas com a força de quatro cavalos. Entretanto, em decorrência da malfadada tentativa de suplício, cortaram-lhe a cabeça. Tudo feito em praça pública, como um macabro espetáculo para a população local.
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