A questão da autonomia política foi, desde a independência, a grande força motriz motivadora de diversos conflitos e revoltas no Brasil. Na província do Pará, a péssima condição de vida das camadas mais baixas da população e a insatisfação das elites locais representavam a crise de legitimidade sofrida pelos representantes locais do poder imperial.
Além disso, a relação conflituosa entre os paraenses e os comerciantes portugueses acentuava outro aspecto da tensão socioeconômica da região.
A abdicação de Dom Pedro I e ascensão do governo regencial estabeleceram a deflagração de um movimento iniciado em 1832. Naquele ano, um grupo armado impediu a posse do governador nomeado pela regência e exigia a expulsão dos comerciantes portugueses da província. No ano seguinte, Bernardo Lobo de Sousa, novo governador nomeado, administrou o Pará de maneira opressiva e autoritária. Desta maneira, abriam-se tensões e a possibilidade de uma nova revolta provincial.
Em 1835, um motim organizado pelo fazendeiro Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre prendeu e executou o governador Bernardo Lobo de Sousa. Os rebelados, também chamados de cabanos, instalaram um novo governo controlado por Malcher. Francisco Vinagre, líder das tropas do novo governo, se desentendeu com o novo governador. Aproveitando de seu controle sobre as forças militares, tentou tomar o governo, mas foi preso pelo governador. Em resposta, Antônio Vinagre, irmão de Francisco, assassinou Félix Clemente Malcher e colocou Francisco Vinagre na liderança do novo governo.
Nessa nova etapa, Eduardo Angelim, líder popular, ascendia entre os revoltosos. A saída das elites do movimento causou o enfraquecimento da revolta. Tentando aproveitar desta situação, as autoridades imperiais enviaram o almirante britânico John Taylor, que retomou o controle sobre Belém, capital da província. No entanto, a ampla adesão popular do movimento não se submeteu à vitória imperial. Um exército de 3 mil homens liderados por Angelim retomou a capital e proclamou um governo republicano independente.
O governo, agora controlado por Angelim, abria possibilidades para a resolução dos problemas sociais e econômicos que afligiam as camadas populares. No entanto, a falta de apoio político de outras províncias e a carestia de recursos prejudicou a estabilidade da república popular. Sucessivas investidas militares imperiais foram enfraquecendo o movimento cabano. Em 1836, Eduardo Angelim foi capturado pelas autoridades do governo imperial.
Entre 1837 e 1840, os conflitos no interior foram controlados. Diversas batalhas fizeram com que este movimento ficasse marcado por sua violência. Estima-se que mais de 30 mil pessoas foram mortas. Dessa maneira, a Cabanagem encerrou a única revolta regencial onde os populares conseguiram, mesmo que por um breve período, sustentar um movimento de oposição ao governo.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
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