Eis aí o que o London Times publicou ontem. Por alguma estranhíssima razão, nenhum dos veículos da grande mídia-empresa nos EUA tomou conhecimento dessa notícia:
"Uma tentativa dos EUA para relançar seu muito criticado programa de treinamento para rebeldes enfrentou ontem grave revés, quando uma segunda 'remessa' de combatentes treinados no ocidente foi capturada por outros grupos rebeldes no norte da Síria.
Cerca de 70 elementos do grupo de combatentes treinados pelos EUA, chamada "30ª Divisão" [orig. 30th Division], haviam entrado pela passagem de Bab al-Salama na fronteira, ao norte de Aleppo, num comboio de 12 veículos pesadamente armados e com cobertura aérea dos norte-americanos - como noticiou o Observatório Sírio de Direitos Humanos."
O 'seleto grupo' de rebeldes do Pentágono parece ter sido detido por uma milícia de turcomenos patrocinada pela Turquia. Durante o dia de ontem, surgiram boatos ainda mais ensandecidos sobre o destino do grupo; mas agora a situação parece ter sido esclarecida.
A verdade parece ser que os rebeldes cuidadosamente selecionados e treinados pelo Pentágono não foram "detidos": eles mudaram de ladominutos depois de terem sido introduzidos na Síria:
"Segundo novas notícias, os rebeldes selecionados e treinados pelo Pentágono traíram os EUA e entregaram as armas a um grupo afiliado da al-Qaeda, imediatamente depois de pisar na Síria.
Combatentes da "30ª Divisão" renderam-se e entregaram "todas as suas armas" à Frente al-Nusra na Síria, reportam as fontes, na 2ª-feira.
"Forte bofetada [na cara] dos EUA (...) O novo grupo da "Divisão 30" que entrou ontem, rendeu-se e entregou todas as armas à Frente al-Nusra logo depois de ser autorizado a passar" - tuitou Abu Fahd al-Tunisi, que diz ser membro do grupo afiliado da al-Qaeda.
O [Czar da Guerra do Estado Islâmico de Obama] general Allen acaba de ser demitido - provavelmente por causa do incidente acima. Ele foi o gênio que deu carta branca à Turquia para bombardear os curdos, em troca de livre acesso à base aérea de Incirlik, na Turquia. (E se o general Petraeus, eternamente azarado e ainda despencado em poço fundo de vergonha pública, for nomeado para substituí-lo?)
O líder do grupo treinado, equipado e pago pelos EUA publicou (em árabe) uma lista de seis razões pelas quais trocou de lado.
Porém, segundo artigo bastante estranho do Washington Post, o governo já está pensando uma nova estratégia que substituiria a fracassada ideia de infiltrar combatentes "cuidadosamente selecionados":
"O governo está considerando a possibilidade de fornecer armas e munição a vasta coleção de grupos rebeldes na Síria e de afrouxar os critérios de seleção, o que efetivamente implicará aprofundar o envolvimento dos EUA na guerra síria."
Quer dizer: se os rebeldes "selecionados" correram para unir-se à al-Qaeda, a solução será usar rebeldes menos rigorosamente selecionados.
Mas fato é que 'seleção' menos rigorosa, ou 'seleção' nenhuma, já vinha sendo usada faz tempo, com a CIA tendo pagado, treinado e equipado mais de 10.000 combatentes anti-Síria desde o início de 2012. A maior parte desses combatentes também, como o grupo agora treinado pelo Pentágono, já venderam as próprias armas e munição a jihadistas ou, mesmo, alistaram-se ao lado deles. Significa que 'selecionar' é perda de tempo. Artigo da AP sobre 14 civis sírios assassinados em ataque de milícias rebeldes ontem observa que:
"A coalizão rebelde, conhecida como aliança Exército da Conquista, inclui o ramo sírio da al-Qaeda, a Frente Nusra, e o grupo extremista Jund al-Aqsa, e é apoiado por Turquia e Arábia Saudita.
Artigo da Reuters, que tenta maquiar os jihadistas salafistas de Ahrar al-Shams observa:
"Com forte apoio da Turquia, vizinha da Síria, o grupo Ahrar al-Sham [os Homens Livres da Síria] está tendo papel significativo nos quatro anos de guerra na Síria - talvez o maior grupo insurgente, só inferior ao Estado Islâmico.
Sob sua nova liderança, o grupo está tentando diferenciar-se da al Qaeda, intimidando a Frente Nusra Front e outros grupos de linha dura. Mas o fato de ter sido ligado à al Qaeda significa que o Ahrar al-Sham ainda mantém relação especial com a Frente Nusra.
Rebeldes dentro da Síria dizem que Ahrar al-Sham forneceu muitas das armas da Frente Nusra. Ainda não se sabe com certeza se continua a fazê-lo.
Um ex-combatente da Frente Nusra, que agora deixou a guerra, disse que Nusra e Ahrar já tiveram relações fortes.
"O que sei é que Nusra vê Ahrar como sua fonte de armas, especialmente em algumas batalhas" - disse ele."
O Pentágono "selecionou" cuidadosamente os poucos mercenários que enviou para a Síria e os "selecionados" imediatamente se alistaram à Frente Nusra. Com certeza, o Pentágono logo também "selecionará" Ahrar als-Shams, que receberá passe livre e avaliação positiva.
Toda a sandice dos "rebeldes seletos" é obviamente mais um embuste, porque EUA e aliados jamais pararam de fornecer armas também para islamistas nada "seletos" que lutavam contra o estado secular sírio.
Mas os melhores dias de Ahrar podem estar chegando ao fim. Por enquanto, ainda é ajudado e abastecido através da Turquia. Mas amanhã o presidente Erdogan da Turquia deve encontrar-se com o presidente Vladimir Putin da Rússia.
Putin já estacionou considerável quantidade de equipamento e pessoal militar na Síria para pôr os islamistas a correr. Os números podemaumentar ainda muito e a coisa pode acabar por se converter num corpo expedicionário completo e plenamente equipado, com cerca de 15 mil soldados.
A Rússia está aliada a Irã, Iraque, Síria e ao Hizbullah, formando a aliança "4+1" e coordenará os combates, a partir de um quartel-general e centro de operações comum a todos. Unidades russas de reconhecimento já operam em todas as frentes de combate na Síria; o resultado da inteligência que estão recolhendo, além de suas novas armas, já ajudam o governo sírio nos primeiros ataques contra concentrações do Estado Islâmico, matando dúzias de terroristas em Raqqa e Palmyra.
A Turquia depende do gás russo para suprir 30% de suas necessidades primárias de energia. Erdogan tem grandes planos para a Turquia, para convertê-la em centro produtor de energia, integrada a um novo gasoduto russo, projeto de €11,4 bilhões. Mas o gás só continuará a fluir com a indispensável regularidade pelas tubulações russas, se os dutos de distribuição de armas da Turquia para o Estado Islâmico, Ahrar al Shams e Frente al-Nusra forem fechados. Erdogan terá de decidir qual tipo de dutos melhor servem aos seus interesses.
Se Erdogan decidir continuar a fornecer armas aos terroristas contra os quais a Rússia decidiu lutar, porá seu país em situação muito precária. A Rússia poderia, por exemplo, resolver abastecer secretamente aqueles curdos que combatem contra o estado turco, no leste da Turquia. Até onde podem chegar, se puserem as mãos em farto suprimento do moderno armamento russo?
Minha impressão é que o jogo de Erdogan acabou. A Rússia decidiu pôr fim à guerra que EUA e seus aliados fazem contra a Síria. E usará todas as ferramentas de uma grande nação para apoiar e defender suas decisões e posições.
Zonas aéreas de exclusão instaladas pelo 'ocidente' ou áreas protegidas para a oposição dentro da Síria já não passam hoje de sonhos arranjados com cachimbos de ópio. O gênio Petraeus, que inaugurou o programa de mercenários da CIA que forneceu armas para a Frente Nusra e o Estado Islâmico, acaba de voltar à cena para exigir o mesmo e ainda mais nonsense:
"Podemos, por exemplo, dizer a Assad que ponha fim aos bombardeios. E que, se ele insistir, impediremos a Força Aérea da Síria de sair do chão" - disse ele. "Temos essa capacidade."
Os EUA "têm essa capacidade" só se desejarem matar vários de seus próprios pilotos. Quem decidirá sobre "zonas aéreas de exclusão" na Síria é a Rússia. Os novos sistemas S-300 e S-400 de defesa aérea que já se veem em Latakia já garantem que nada voará no espaço aéreo da Síria sem autorização dos russos (vejam vocês!).
Por Pravda.ru
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