2 de fev. de 2016

Dinheiro para moto de luxo tem. Mas para coletes à prova de bala, não.

DIVULGAÇÃO/DETRAN-DF
Agentes do Detran usam coletes à prova de balas vencidos há mais de um ano
“Vamos trabalhar com a cara e a coragem”, disse o presidente do sindicato que representa a categoria

Por Mirelle Pinheiro

Agentes do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran) estão com coletes à prova de balas vencidos desde julho de 2014. Caso que chama atenção, uma vez que o órgão destinou R$ 648,5 mil para a compra de 14 motocicletas da marca alemã BMW, aquisição que acabou cancelada na semana passada diante da repercussão negativa. O sindicato dos servidores do órgão confirma que ao menos 80% dos equipamentos de proteção estão com prazo de validade expirado. “Vamos trabalhar com a cara e a coragem”, admite Fábio Medeiros, presidente do Sindetran.

Mesmo com uma arrecadação que chegou a R$ R$ 356,1 milhões em 2015, com a cobrança de multas de trânsito e taxas pelos serviços prestados, o órgão explica que uma licitação foi aberta apenas no ano passado, mais precisamente em setembro, para a compra de 700 coletes, no valor de R$ 795.804,29. Atualmente, o departamento conta com 620 agentes de trânsito.

Segundo denúncia recebida pelo Metrópoles, alguns agentes tiveram que comprar os equipamentos de segurança. “Nós fazemos blitzes, abordagens diuturnamente e corremos grandes riscos como, por exemplo, abordar carros que bandidos conduzem, sequestradores ou traficantes”, explica um servidor que não pediu para não ser identificado.
Etiqueta mostra colete vencido desde julho de 2014 no Detran-DFArquivo Pessoal

Questionado sobre o problema dos coletes, o diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran, Silvain Fonseca, conta que nenhum servidor foi orientado a comprar o material.

Ele justifica o atraso na compra dos novos equipamentos de proteção. “Fizemos testes com três empresas, ambas reprovaram. Em março, será realizada uma nova tentativa. Se a empresa for aprovada pelo Exército, a compra será feita de imediato”, disse, ressaltando que a compra dos coletes é tratada como prioridade pela diretoria.

Não somos omissos para com os nossos servidores. Adquirimos novas viaturas e uniformes. Estamos fazendo o que é possível para dar boas condições de trabalho para esses agentes."
Silvain Fonseca, diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran-DF

Destruição
As normas que regulam os procedimentos para a fabricação, avaliação técnica, aquisição, importação e destruição dos coletes à prova de balas estão estabelecidas na Portaria 18, de 19 de dezembro 2006, do Ministério da Defesa. O artigo 35 determina que os equipamentos com prazo de validade expirado sejam destruídos.

“Utensílios de segurança, até mesmo o capacete, têm data de validade. Quando esses prazos expiram, o material começa a se deteriorar, diminuindo a efetividade”, explica o especialista em segurança pessoal e vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), Ivan Hermano.

Não são apenas os agentes do Detran que estão com coletes vencidos. O Metrópoles já mostrou que o mesmo problema ocorre na Polícia Civil e na Polícia Militar do DF.

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