23 de mar. de 2016

BBB do Rollemberg: 18 secretários eliminados

Foto DÊNIO SIMÕES/AGÊNCIA BRASÍLIA
No BBB do Rollemberg, 18 secretários foram eliminados no paredão em um ano e dois meses de governo
No reality show do governador, nenhum participante tem imunidade. A última mudança ocorreu na Saúde, há uma semana. Resta saber quem entrará na casa do GDF para sentar na cadeira de líder da futura pasta das Cidades

por Manoela Alcântara

“Se pudesse escolher
Entre o bem e o mal, ser ou não ser?
Se querer é poder
Tem que ir até o final
Se quiser vencer”

A música “Vida Real”, do RPM, embala a abertura do “Big Brother Brasil” e também poderia ser tocada nos corredores do Palácio do Buriti. Tanto na trama televisiva quanto na realidade da burocracia brasiliense, o caminho para “ir até o final” passa por sucessivos paredões. Na tevê, as eliminações são reservadas às terças-feiras, como a deste 8 de março, quando o voto popular definiu a eliminação de Adélia. No reality do governador, qualquer dia é dia de baixa, e as escolhas ficam reservadas à caneta de Rollemberg (PSB). Desde que o socialista entrou no ar, 18 participantes do primeiro escalão disseram adeus ao programa. Alguns secretários tiveram direito a discurso (à la Pedro Bial). Outros saíram pela porta dos fundos.

O último a enfrentar o paredão de Rollemberg foi Fábio Gondim, que não resistiu à pressão e deixou a Secretaria de Saúde na quarta-feira passada (2/3). No lugar dele, entrou o médico e advogado Humberto Lucena — o quarto a ocupar o posto desde o início da atual gestão.
Uma das marcas deste governo é justamente a velocidade com que se redesenha a configuração das secretarias. Nunca antes na história de Brasília houve tantas trocas no primeiro escalão em tão pouco tempo de governo. Em janeiro de 2015, Rollemberg assumiu o mandato com 24 pastas. Em outubro, cortou sete delas, reduzindo para 17 a quantidade de órgãos do primeiro escalão. Na época, a justificativa para a reforma administrativa foi enfrentar a crise financeira herdada pelo governo Agnelo Queiroz (PT).

Cinco meses após a tesourada, o governador decidiu desmembrar um dos órgãos e criou a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer. Leila Barros “ganhou imunidade” ao ser nomeada titular da 18ª pasta do GDF. Nos próximos capítulos, a espera é pela “prova do anjo”, que tanto pode salvar um participante da eliminação precoce quanto dar a chance de um novo protagonista entrar no programa. A pergunta é: quem vai ganhar o colar da Secretaria das Cidades, que Rollemberg vai criar nos próximos dias? Os protagonistas da disputa são Marcos Pacco e Igor Tokarski, sendo Tokarski o nome com mais afinidade na casa.

Para o professor emérito de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, as mudanças constantes demonstram a dificuldade que Rollemberg tem de governar. “É muito inseguro, não consegue acertar a equipe. Há ainda o problema da descontinuidade. Toda vez que troca um secretário, é difícil continuar as políticas públicas anteriores”, afirmou.


Meses turbulentos
Antes mesmo de Rollemberg receber as chaves do Palácio do Buriti, o secretariado sofreu a primeira baixa. O primeiro nome escolhido para gerir a Saúde foi Ivan Castelli, mas ele desistiu por motivos pessoais. A equipe de transição escolheu, então, João Batista de Sousa, ex-vice-reitor Universidade de Brasília (UnB). Mas nem o vasto currículo de Sousa o segurou no cargo. Em 22 de julho, ele pediu exoneração após ter declarado que nenhum hospital da rede pública estava livre da bactéria KPC.

Coube a Fábio Gondim assumir a vaga de João Batista. Mas, com o sucateamento da rede pública, a resistência de integrantes do Ministério Público ao nome dele e, principalmente, devido à falta de resultados, Gondim só conseguiu se manter no cargo por sete meses.

Desistência
A Saúde não foi o único setor combalido. Em junho, a gestão Rollemberg se mostrou estremecida com a saída do então homem-forte do GDF, o chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, que não resistiu aos embates com a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS). O ex-diretor-geral da Câmara dos Deputados Sérgio Sampaio ficou com a cadeira de Doyle.

Paulo Vogel também deixou a casa de Rollemberg e deixou o cargo de secretário de Gestão Administrativa para assumir um posto no governo federal. O secretário adjunto, Alexandre Lopes, ficou como titular até outubro, quando a pasta foi absorvida pela Secretaria de Planejamento e passou para o comando de Leany Lemos. Aliás, Leany é um dos nomes mais resistentes da atual gestão.

Teste
O caso de Marcos Dantas foi diferente. Ele bem que tentou, mas não obteve sucesso em uma prova de resistência. Dantas começou o governo como secretário de Relações Institucionais. Depois das greves de 32 categorias no segundo semestre do ano passado, deixou de ser o articulador do governo.

Dantas foi transferido para a Secretaria de Mobilidade no lugar de Carlos Henrique Tomé, que voltou para o Senado, onde é servidor de carreira. A antiga pasta foi transformada em secretaria adjunta e passou a ser vinculada à Casa Civil. O cargo de articulador ficou com o ex-administrador do Plano Piloto Igor Tokarski.

Na Ciência e Tecnologia, Paulo Salles deixou a pasta em agosto. A secretaria foi extinta durante a reforma administrativa, e Oskar Klingl assumiu a coordenação da área no GDF.

Espaço para o PSD
Marcos Pacco, que era secretário de Desenvolvimento Humano e Social atendeu o “big fone” e recebeu uma notícia que mexeria na estrutura do primeiro escalão: deixaria o cargo para ficar na Administração do Plano Piloto. Pacco é correligionário de Rollemberg e ficou chateado com a mudança à época. Mas o governador precisava de espaço para o PSD do vice Renato Santana e do deputado federal Rogério Rosso. Dessa forma, nomeou Arthur Bernardes para a então recém-criada Secretaria de Economia, Desenvolvimento Sustentável e Turismo.

A movimentação magoou outro participante do programa: Jaime Recena, que perdeu a Secretaria de Turismo, englobada pela pasta de Bernardes, e passou à condição de secretário adjunto do setor.

PDT
Na pasta do Trabalho e Empreendedorismo, o primeiro secretário de Rollemberg foi Georges Michel, presidente do PDT no DF. Ele pediu demissão do cargo em agosto de 2015, após polêmicas com a construção do Memorial João Goulart, no Eixo Monumental, que não saiu do papel. No lugar dele, assumiu o então subsecretário de Empreendedorismo, Thiago Jarjour, também do PDT.

Jarjour chefiou a pasta até o fim de outubro, quando Rollemberg criou a supersecretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Com um secretariado majoritariamente técnico, Rollemberg foi forçado a fazer política sob pena de desgastar ainda mais a relação com aliados, e nomeou o deputado distrital Joe Valle para o cargo. Jarjour se tornou adjunto de Trabalho e Empreendedorismo; Marlene de Fátima Azevedo assumiu como adjunta de Desenvolvimento Social; e Carlos Alberto Santos de Paulo, como adjunto de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

Mudanças na Fazenda
A secretaria de Fazenda começou sob a gestão de Leonardo Colombini, que pediu exoneração em agosto e voltou para Minas Gerais. O então secretário adjunto, Pedro Meneguetti, assumiu o cargo. Ficou cinco meses na pasta e passou o posto para o adjunto, João Antônio Fleury. Meneguetti foi para Belo Horizonte, onde também se tornou secretário de Fazenda.

Insegurança na Segurança Pública
Uma da pastas mais problemáticas para Rollemberg é a da Segurança Pública e da Paz Social. Em novembro, após um confronto entre professores e policiais militares, Arthur Trindade pediu exoneração. Isabel Seixas ficou como interina até janeiro, quando assumiu Márcia de Alencar — ela ocupava o cargo de subsecretária de Segurança Cidadã da pasta.

No início do governo, Rollemberg desvinculou da pasta da Segurança todo o sistema penitenciário, que passou ao escopo da Secretaria de Justiça e Cidadania, sob comando de João Carlos Souto. Mas depois da maior fuga da história da Papuda, Souto foi exonerado. O chefe de gabinete da Casa Civil, Guilherme Rocha Abreu, assumiu a Secretaria de Justiça interinamente.

Do time montado por Rollemberg para compor a administração do Executivo, só restou Leany Lemos. Ele perdeu ainda Rômulo Neves, seu braço direito na chefia de gabinete. Além de pedir para sair do cargo, Neves deixou o PSB e migrou para a Rede Sustentabilidade.

Crianças e Adolescentes 
Poucos dias antes da reforma administrativa, a secretária Jane Klébia, delegada da Polícia Civil, deixa o cargo na pasta de Políticas para Crianças Adolescentes e Juventude. No lugar dela, entrou Aurélio de Paula Guedes Araújo, indicação do deputado Professor Israel Batista (PV).

Os sobreviventes
Entre o grupo de 24 secretários que posaram na foto de 1° de janeiro de 2015, sobraram apenas Leany Lemos, na Secretaria de Planejamento Orçamento e Gestão; Júlio Gregório, na Educação; Cláudio Ribas, na Casa Militar; José Guilherme Leal, na Agricultura; Guilherme Reis, na Cultura; Thiago de Andrade, na Secretaria de Gestão do Território e Habitação; Júlio Peres, na pasta de Infraestrutura e Serviços Públicos; e André Lima, no Meio Ambiente. Eles são os sobreviventes na prova de resistência que se tornou o BBB do Rollemberg.

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