15 de mar. de 2016

Extrema-direita cresce em manifestações pró-impeachment

Imagem do protesto no Rio de Janeiro viralizou pelas redes sociais.
Perfil elitista da mobilização foi a principal crítica. 
Sem referencial político, figuras conservadoras começam a ter mais espaço, analisam professoras; Manifestações da Frente Brasil Popular devem pressionar governo por guinada à esquerda, diz dirigente do MST
Por Rute Pina,
Da Redação do Brasil de Fato

As manifestações que ocorreram no último domingo (13) colocaram 500 mil pessoas na avenida Paulista, em São Paulo (SP), cujo perfil socioeconômico é elitizado, apontou o Datafolha. Para além disso, as vaias ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao senador Aécio Neves, ambos do PSDB, evidenciam uma marior presença de manifestantes de de extrema-direita.

Foi o que apontou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro. "Isso representa que esse público não vê saída política ou na política. Está a um passo de apoiar qualquer coisa, inclusive, um golpe militar", frisou.

Se alguns políticos foram vaiados, outros fizeram discursos em carros de som ao lado do Movimento Brasil Livre (MBL), lembra a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela também vê no descrédito com a política uma chance para o fortalecimento de figuras como o deputado Jair Bolsonaro, ou do próprio MBL, pois eles surgem com discursos considerados "novos" em contraposição a uma política que a maioria vê como "suja".

"Ele [Bolsonaro] é um palhaço, literalmente, mas sabe mobilizar um descontentamento. O perigo é esse: como ninguém acredita na política institucional, pode aparecer um cara desses, que tem um discurso polêmico, e sair como vencedor deste jogo", disse a professora.

O descrédito na política também foi apontado pela professora de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Maria Aparecida Aquino, como algo negativo e arriscado ao país. "Na realidade, a população passa a identificar a política como algo que não serve a ela e isso é o pior dos mundos porque isso não nos leva a nada. Se não há mais política, qual a solução?", indagou.

Periferia
O número de pessoas mobilizadas em algumas capitais a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff também foi comentado por Esther. Para ela, a grande parcela da população, a das periferias, não foi às ruas, mas também está descontente com o governo atual.

No entanto, na sua visão, o que separa estes manifestantes dos protestos da avenida Paulista não é somente uma questão geográfica, mas também uma distância simbólica. "Se eu sou de periferia, não me sinto representado por este tipo de manifestante. Imagina ir em uma manifestação onde o povo tira selfie com a Polícia Militar? Ou onde ele vai encontrar todo mundo igual ao patrão dele?", questiona a professora.

Na avaliação de Gilmar Mauro, mesmo que tenha mobilizado um grande contingente de pessoas, os protestos pró-impeachment  "talvez tenham chegado ao limite" por não conseguir convencer grande parcela da população.


Mobilizações
A alternativa, segundo Mauro, é a união das esquerdas nas manifestações convocadas pela Frente Brasil Popular (FBP) para os dia 18 e 31 de março. "Não é hora de se esconder, mas de ir às ruas com muita determinação para evitar que precisamente estes setores de direita ganhem força no Brasil", afirma o dirigente. Formalizada em 2015, a Frente reúne entidades sindicais, movimentos populares do campo e da cidade, organizações de juventude e integrantes de partidos de esquerda.

No entanto, para além de se contrapor às manifestações do último domingo, as ações das próximas semanas devem pressionar a presidente Dilma Rousseff para mudanças na política econômica. "Não tem outra alternativa: ou o governo muda a política econômica ou não tem sustentação", afirma Mauro. Segundo ele, os escândalos envolvendo a Operação Lava Jato corroboram para a percepção de que toda a política é marcada pela lógica da corrupção e da "negociata".

Assim como Mauro, Esther se mostra cética quanto ao poder de engajamento dessa parcela da população que não aderiu, ainda, nenhum lado. E para ela, muito se deve ao desprestígio do Partido dos Trabalhadores (PT), com uma agenda que propôs pautas como a Reforma da Previdência ou o ajuste fiscal. "É como se a perda de capital político do PT deixasse toda uma esquerda orfã", disse.

Mauro vê uma guinada à esquerda por parte do governo como o único modo de reverter o cenário atual, onde o impeachment se delinea cada vez mais no horizonte da oposição. "O discurso da democracia e do 'não ao golpe' evidentemente que é importante, mas não dialoga com as necessidades imediatas de um sujeito que está desempregado, do sujeito que está passando fome, que não consegue pagar o aluguel, as prestações da casa... Não há um discurso capaz de mobilizar estes setores", questionou.

Ele relembra a paralisão de políticas públicas como o Minha Casa Minha Vida 3 ou as desapropriações de terras para a reforma agrária, ambas pautas, respectivamente do MTST e MST, dois grandes catalizadores sociais.

"Talvez esse seja o pior momento para ser dirigente de um movimento social ou sindical: nem nossas mobilização são atendidas. Na verdade, ocorre o contrário: estamos perdendo direitos! Mas, ao mesmo tempo, existe a iminência da direita assumir a presidência da República - e não é qualquer direita, mas que dá para comparar com setores de extremistas", apontou.

Por isso ele vê a manifestantacao do dia 18 como uma oportunidade de dar um recado, seja para o governo ou para a direita: "se colocarmos 200 mil pessoas nas ruas, serão 200 mil pessoas com projeto, ideologia e um rumo a seguir".

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