14 de mar. de 2016

Uma análise da manifestação de 13 de março

Foto da internet
Por Prof. Railton Souza

Nessa fraticida luta pelo poder que se instalou no Brasil desde a derrota do PSDB e do seu candidato Aécio Neves, os erros do governo Dilma,  somado a uma operação judicial e midiática,  Lava Jato, articulação do mercado e das forças organizadas da oposição e de setores conservadores da classe média, o caos político foi instalado no país.

Mas agora, depois da manifestação de ontem, podemos avaliar:

1) As manifestações de ontem mantiveram ainda um perfil elitizado,  como confirma o próprio jornalão Folha de São Paulo. Em Salvador, por exemplo, era difícil ver negros, sendo a maioria absoluta da população composta por afrodescendentes. Várias imagens viralizaram nas redes: limusine,  champanhe, empregada negra empurrando carrinho para o casal  ir se manifestar de verde e amarelo etc.

2) Há muita grana financiando a infraestrutura, a fabricação de adesivos,  pixulecos etc. Em São Paulo e em Goiás era visível o apoio dos governos estaduais. Quem passou pela Praça Tamandaré viu a apoteótica estrutura do estado e da grana que jamais vemos nas manifestações dos trabalhadores, professores e estudantes em defesa de direitos.

3) Quem saiu ganhando politicamente? Aécio e Alckimin,  pré-candidatos a presidência, foram expulsos da manifestação pelo povo em SP aos gritos de corruptos e ladrões. O PT já está enfraquecido a muito tempo. Quem pode capitalizar talvez seja o PMDB. Eles são o blocam de centro que dão as cartas, mas os tucanos espertos querem levar a grande prostituta para a cama e tomar conta da casa dela. Eles estão tentando entrar em acordo em como efetivar o golpe e como dividirão o poder. 

4) O sonho dos tucanos era anular a chapa de Dilma e Temer e chamar novas eleições para tentassem mais uma vez a vitória. Não se concretizando essa via, podem levar o Temer a renunciar, condenar Cunha, o outro na linha de sucessão e chamar novas eleições para tentar ganhar. Resumindo,  o PSDB quer o poder de qualquer jeito. É isso que o mercado também,  os tucanos amigos do capital financeiro e internacionalizante no poder. Não aceitam a derrota. O PMDB será muito imbecil se cair no conto dos tucanos.

5) O sentimento de indignação seletiva marcou em geral as manifestações,  salvo o incidente com Aécio e Alckimin em SAMPA.

6) A crise atual se difere da de 92 no Fora Collor. Naquele momento havia uma coesão social em torno do impeachment dele. Mas hoje não há esse consenso. No dia 18 de março já estão marcados atos em defesa da democracia em todo o país, contra o que os apoiadores do governo Dilma denunciam ser um golpe disfarçado. Os movimentos sociais organizados e estáveis que lutam pela consolidação da cidadania da classe trabalhadora, estudantes e minorias sociais se manifestarão no dia 18.

7) Depois das revelações da espionagem americana no Governo Federal e na Petrobrás e da política de redução de juros que Dilma começou a instituir no seu primeiro governo, e a crítica aberta ao capital especulativo, os ataques contra seu governo se intensificaram. Os USA têm interesse estratégico em barrar os governos de esquerda na América Latina e seu alinhamento com os BRICS. E o Brasil é fundamental nesse processo,  pois é o maior e exerce liderança na região. As manifestações de junho de 2013 ensinaram a direta brasileira que com uma ajudinha da mídia com a fabricação da indignação seletiva contra um partido e contra o governo seria possível derrubar qualquer governo. Foi aí que nasceu a necessidade da Lava Jato como fábrica dessa indignação seletiva, com seus vazamentos também seletivos.

8) O ovo fascista foi chocado pela mídia, mercado, algumas igrejas e outros setores conservadores.  Bolsonaro foi recebido com saudação fascista em Brasília-DF e pregou a luta armada no campo e na cidade, destilando ódio e sendo ovacionado.  É assustador. A cria fascista está aí a solta.

9) A jovem democracia sofre grave risco. Com o discurso anticorrupção protagonizado por corruptos, as forças reacionárias nacionais já atacaram os governos populares, como foi o caso do Jango. Novamente estamos assistindo esse filme de terror.

10) A Globo continua fazendo u m investimento milionário na sua luta para derrubar o governo.  Fez e ainda está fazendo uma  apoteótica cobertura da manifestação, com aquele mesmo clima de copa do mundo ou de eleição presidencial. Fiel à sua história de apoiadora de golpes contra a democracia, suas coberturas são marcadas por uma parcialidade e um golpismo incrível. 

11) Os mais de 50 milhões de eleitores da Dilma não estavam na manifestação de ontem. Pesquisa do Zero Hora, demonstrou que a grande maioria são eleitores do Aécio.

12) Aceitar o resultado das urnas é necessidade 'sine qua non' para a paz social e para o fortalecimento da jovem democracia. Ninguém ganhará, em última instância, pois ele abre um precedente horrível e quebra a credibilidade do país mais ainda. Mobilizar o povo, trabalhadores, donas de casa, estudantes, minorias,  os mais variados movimentos sociais e dizer não ao golpe institucional que está em curso no país é dever de quem compreende a gravidade do momento e o desrespeito à soberania do povo que elegeu a atual presidente em outubro de 2014.

13) Em Goiânia ato em defesa da democracia acontecerá na Praça Universitária, no dia 18, próxima sexta, com concentração às 14h.

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