19 de abr. de 2016

É o risinho que mata - Por Fábio Chap

É o risinho que mata. O brasileiro já encarou cada coisa; o índio dizimado, o negro escravizado, o dissidente assassinado. Mas é o risinho que mata. Já vimos Eldorado dos Carajás, Favela Naval, Canudos e absurdos mil, mas é o risinho que mata.

Por *Fábio Chap

Vemos o pai de família assassinado ao negar trocado, o policial humilhar e ser humilhado. Vemos o rombo da Petrobrás e outras dores mais, mas é o risinho que mata.

Por aqui, parte da gente sabe o que é uma fila do SUS, só poder contar com Jesus e mais ninguém. Por aqui a gente passa uma vida inteira na cabine de um trem. Mas é o risinho que mata.

Brasileiro já viu político assassino, ladrão, corrupto e quase nenhum indo pra prisão. Mas é o risinho que mata.

A gente aguentou e aguenta cada desaforo, cada genocídio, cada ultraje, mas é o maldito risinho  estampado na cara do bandido de gravata que destrói a fé. Que mata mais que a morte. É o escárnio no rosto do deputado que vota pela vó, não pelo nó na garganta. 


Essa gente enterra a esperança a 7 profundos palmos. Porque quem sofre com o povo não ri daquele jeito. E olha: sofrimento realmente existe na vida. A gente aprende a lidar, mas é o risinho - vindo dos piores tipos de canalha - que mata.

*Fábio Chap é escritor e ativista. Autor do livro ‘Tive um Sonho Pornô. Escreve no Quebrando o Tabu às segundas-feiras.
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