7 de jan. de 2017

Matar o bandido não resolve o problema da violência

Editorial
Sobre a prisão do homem suspeito de matar uma professora no Gama para roubar o carro dela
Por Joaquim Dantas

O homem que é suspeito de matar com um tiro a professora Raquel Costa Miranda, 41 anos, em um latrocínio (roubo e morte) no Gama, no último dia 4, foi preso pela polícia nesta sexta-feira (6).  Os policiais divulgaram diversos áudios de um interrogatório informal feito pelos policiais que efetuaram a prisão.

A notícia viralizsou nas redes sociais, com centenas de compartilhamentos dos áudios. O que causou espanto para muitas pessoas foram os comentários seguidos dos áudios, feitos por pessoas que, em tese, deveriam pensar diferente do que escreveram.

Em um dos áudios o homem nega que tenha atirado na professora, ele alega que ela deu um tapa na mão dele, provocando o disparo da arma, mas a perícia afirmou que Raquel foi atingida pelas costas.

Professores, músicos, artistas e até religiosos fizeram comentários do tipo "prenderam o monstro que matou a professora, agora ele deve ser executado", disse uma professora no WhatsApp. 

Já uma cantora afirmou no Facebook que "prenderam monstro que matou a professora. Agora já podem transferi-lo para Manaus ou Roraima!!!", referindo-se as duas chacinas ocorridas recentemente em dois presídios no Norte do país.

A professora C.R. comentou em um site que divulgou a notícia: "Leva ele no túmulo dela e esfrega a cara dele até esfolar os beiços! Deixa ele passar a noite ao lado do túmulo , depois leva pra de cadeia , de Manaus de preferência!"

O bandido não é a causa da violência, ele é a consequência portanto, o que tem que ser eliminado é o que causa a violência. Ninguém acorda de repente e decide virar bandido, existe um processo que leva alguém a cometer um crime.

Nós, enquanto sociedade, deveríamos pensar no que aconteceu na vida de um elemento, desde a sua gestação, que o transformou em um criminoso. Esse processo eu chamo de "a fábrica de fazer bandidos". Matar o bandido não vai resolver o problema da violência, temos sim, que acabar com a "fabrica de fazer bandidos", que é a falta de oportunidades, de Educação de qualidade, Acesso à Saúde Pública, etc...

Não estou defendendo quem comete crimes, muito pelo contrário, crimes dessa natureza tem que submeter o autor aos rigores da lei. Se a lei não é tão rigorosa como achamos que deveria ser, vamos pressionar o Poder Legislativo para que ele crie leis mais rigorosas afinal, também em tese, elegemos os congressistas para que nos representem.

A disseminação do ódio de morte contra os bandidos é uma porta escancarada para a disseminação do mesmo ódio contra o vizinho que ouve música alta, de quem fecha o outro no trânsito ou até do pedinte que esmola no semáforo. Não duvide disso!

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