3 de mar. de 2017

O samba-enredo como forma de protesto

Quarta alegoria da Portela representando o 
crime ambiental da Samarco na bacia do Rio Doce 
Foto Fernando Frazão | Agência Brasil
Carnaval de 2017 contou com pautas atuais de lutas de movimentos sociais do campo e da cidade

por Nadine Nascimento no Brasil de Fato

O Carnaval canta todos os anos – em maior ou menor escala – a realidade do povo brasileiro. A construção do samba-enredo é uma oportunidade que algumas escolas e blocos têm para expressar seus ideais. A maioria opta por colocar na avenida um tema romanceado, uma homenagem a alguma personalidade ou algum período da história nacional.

Mas alguns grupos saem com enredos que abordam as lutas dos trabalhadores, exaltando o próprio povo e sua história.

A grande vencedora do carnaval do Rio de Janeiro de 2017, Portela, trouxe em seu enredo a importância dos rios na vida humana, desde a formação das civilizações e o comércio, até a urbanização. O ponto mais alto do desfile foi o protesto político usando a palavra “crime” para lembrar da tragédia da barragem da Samarco, que dizimou peixes ao longo do Rio Doce e matou 19 pessoas, além de destruir o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais.

Enquanto percorria a avenida, a Portela exibiu, em sua quarta alegoria, elementos manchados de lama para retratar a temática do Rio Doce. 

Já a Imperatriz Leopoldinense desfilou em homenagem ao Xingu. O samba-enredo clamava por justiça e criticava o abuso e o descaso com que os povos indígenas da região são tratados. O enredo criou polêmica e provocou os setores do agronegócio – que divulgaram nota de repúdio contra a escola carioca, devido a trechos do samba que citam o desmatamento e a exploração desenfreada dos recursos naturais da região.

Em São Paulo, foi o prefeito da cidade João Doria (PSDB) que recebeu uma alfinetada durante o desfile da escola Acadêmicos do Tucuruvi, que levou a arte na rua como tema ao Anhembi.

Com o enredo "Eu Sou a Arte: Meu Palco é a Rua", a escola da zona norte da capital paulista abordou grafite, trouxe mensagem sobre "limpeza" e nomeou a bateria de "Cinquenta Mil Tons de Cinza".

Doria virou alvo de duras críticas de artistas nas últimas semanas por ter endurecido sua política contra pichadores e por ter mandado apagar grafites dos muros da cidade, que foram pintados de cinza pela Prefeitura.

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