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Ainda que pouco visível, contribuição de africanos é garantida, afirma pesquisador em migração e desenvolvimento
por Clívia Caracciolo no Brasil de Fato (Amersfoort (Holanda),
Eles chegam aos milhares. Diariamente, da África, Síria, Iraque, Irã. No rosto, a mistura da fadiga com o alívio de alcançar a costa do continente europeu. Homens, mulheres, crianças. A única bagagem que trazem é a vontade de vencer para ter uma vida com dignidade.
Independentemente do que fazem ou do nível de educação, os imigrantes africanos dão uma grande contribuição à Holanda. É o que afirma o pesquisador da Universidade de Utrecht e especialista em Migração e Desenvolvimento, Antony Otieno On’gayo, africano nascido no Quênia. "A contribuição abrange as questões sociais, financeiras, de capital humano e aplicação de conhecimentos, que vão desencadear em pagamentos de taxas que auxiliam a movimentar a sociedade", explica.
Uma maneira de tornar a contribuição dos africanos e outros imigrantes visível é observar a contribuição coletiva que é fornecida pelas ONGs ligadas às diásporas, na opinião do pesquisador. "A contribuição coletiva é dada pelas ONGs que ajudam as diásporas neste país. Tentam auxiliar nos problemas enfrentados na sociedade holandesa, questões psicológicas, de integração, facilitam o acesso à informação e conhecimento da cultura holandesa. Em segundo lugar, grande parte dos ganhos dos imigrantes africanos permanece na Holanda. Eles consomem aqui, pagam impostos, alugueis, somente uma pequena parte do que ganham vai para o país de origem, independentemente da profissão."
Ainda que seja uma pequena parte, o Fundo de Desenvolvimento Agrário da Organização das Nações Unidas indica que os africanos baseados na União Europeia enviaram 400 bilhões de euros em 2016 a seus países de origem, ou seja em torno de 14 trilhões de reais. Este valor equivale a três vezes mais do que a ajuda para o desenvolvimento que os países africanos recebem de doadores internacionais.
Uma das características marcantes dos africanos, segundo o pesquisador On'gayo, é a capacidade de adaptação rápida e a disposição para trabalhar. A Holanda é um dos países da União Europeia que mais acolhe e investe no imigrante, seja ele um expatriado regular, seja um refugiado.
As ditaduras que ainda ocorrem em alguns países africanos forçam muitos africanos a deixar família, trabalho, escola e outras atividades cotidianas para pedir asilo na União Europeia. Na República dos Camarões, por exemplo, o presidente Paul Byia está no poder desde 1982 e segura a nação com mão de ferro. "Depois de terminar meus estudos na universidade fui trabalhar num laboratório como médico pesquisador. O clima político em Camarões era muito difícil. Eu estava sem perspectivas para o futuro e para tudo o que você vê."
O contexto político-social de Camarões motivou Julles Mahob, de 55 anos, a fugir para a Holanda em 1998, deixando mulher e cinco filhos pequenos. "Há um contexto político complexo até os dias de hoje, então por causa dessa situação política interna eu vim parar na Holanda."
Jules começou do zero na Holanda. Estudou e tornou-se assistente social. De refugiado passou a ser cidadão holandês e abriu as perspectivas para ele e para a família. Após sete anos vivendo separados, pai, mãe e cinco filhos se reuniram na Holanda.
"Em 2005 eles chegaram e todos têm bom emprego. Todos os meus filhos vieram pra Holanda e concluíram seus estudos aqui", conta. "Todos têm o seu diploma de bacharel daqui. A minha filha, por exemplo, mora em Londres, onde trabalha como designer de moda. Os outros trabalham aqui na Holanda. Somente um deles ainda mora com a gente."
A atuação dos imigrantes no intercâmbio com comerciantes baseados na África tem sido muito produtiva e positiva e já é o resultado de uma demanda das diásporas africanas: Que sejam consultados nas políticas de migracão e que os conhecimentos técnico-culturais sejam aproveitados como fator crucial no setor comercial holandês.
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