9 de set. de 2019

A história da mulher que viajou 11 mil km e matou coronel para vingar Che Guevara

POR EULER DE FRANÇA BELÉM
EM LIVROS

Filha de um ex-cinegrafista de Hitler e amante de Leni Riefenstahl, a alemã Monika Ertl assassinou Roberto Quintanilla Pereira na Alemanha

O jornalista americano Jon Lee Anderson escreveu um livro alentado sobre o revolucionário que, ao lado de Fidel Castro, foi um dos principais líderes da Revolução Cubana de 1959. “Che Guevara — Uma Biografia” (Objetiva, 920 páginas, tradução de M. H. C. Côrtes) é uma autêntica “bíblia” sobre o guerrilheiro argentino. A edição, de 1997, não contém ao menos uma menção à alemã Monika Ertl. Mas sua vida é fascinante, tanto que o cineasta greco-francês Costa-Gravas, de 85 anos, planejou filmar sua vida, com Romy Schneider como atriz principal. Autor do livro “La Mujer Que Vengó al Che Guevara — La Historia de Monika Ertl” (Capital Intelectual, 293 páginas, tradução de Florencia Martin), o jornalista alemão Jürgen Schreiber sugere que, para fazer Roberto (“Toto”) Quintanilla Pereira, o ator ideal seria o francês Alain Delon. (A obra não tem tradução brasileira.)

Nascida em Munique, em 1937, Monika Ertl era filha do cineasta, escritor, jornalista e alpinista Hans Ertl, que trabalhou com a diretora de cinema Leni Riefenstahl — foram amantes — e chegou a ser cinegrafista do nazista Adolf Hitler (filmou seu encontro com Benito Mussolini, o fascista italiano) e andou com Erwin Rommel pelo Norte da África. Em 1953, julgando-se desprestigiado na Alemanha, mudou-se com a família — a mulher, Aurelia, e três filhas, Monika, Beatrix e Heide — para a Bolívia. Em La Paz, tornou-se amigo de Klaus Barbie, o “carniceiro de Lyon”. Tanto ela quanto o pai parecem personagens de ficção — quiçá de Graham Greene, John le Carré e, até, de García Márquez.

Na Bolívia, Hans Ertl, com o apoio de Monika Ertl, fez filmes, mas acabou isolando-se na sua fazenda, La Dolorida. Monika Ertl casou-se com Hans, um engenheiro rico, mas não era feliz. Quando Hans perguntou-lhe: “Quer ser minha mulher?” Já rebelde, a jovem redarguiu: “Preferia ser sua amante”. Havia sido professora no Instituto Goethe de La Paz e era leitora do escritor alemão Hermann Hesse, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1946.

Ao fazer trabalho social com crianças, na Bolívia, e depois de circular na Alemanha com estudantes de extrema esquerda, Monika Ertl começou a se interessar pelas ideias de Ernesto Che Guevara — que havia sido morto, em 9 de outubro de 1967, pelo governo boliviano. Ela apreciava as ideias da Teologia da Libertação.

Doutrinada por integrantes do Ejército de Liberación Nacional (ELN), de linhagem guevarista, Monika Ertl se aproximou de Guido “Inti” (“Sol” em quéchua) Peredo, que havia lutado com Che Guevara (era um dos cinco sobreviventes do “exército” cubano-boliviano). Era um dos favoritos do líder guerrilheiro. Adotou o nome de “Imilla” (significa “menina indígena”).

Apaixonada por Inti Peredo, tornou-se uma guerrilheira exemplar (entrou para o ELN em 1969). Disse aos companheiros que não temia cair “como um soldado” e “estava dis­posta a morrer pela causa” comunista.

Morte de Inti
Inti Peredo, o Guevarinha da Bolívia, era um ideólogo de família proeminente, doutrinado e treinado militarmente em Cuba. Com a morte de Che Guevara, assumiu o comando do ELN. Seus irmãos, Coco e Chato (formado em Moscou), também eram guerrilheiros.

Che Guevara sublinhava que Inti Peredo tinha grande valor físico e moral, não era um mero tarefeiro. Ele continuou a luta, avaliando mal a correlação de forças. Em 9 de setembro de 1969, traído por um militante do Partido Comunista (comprado por 4 mil dólares) e encurralado no bairro El Rosario, é morto por militares e policiais coordenados pelo ás do Serviço Secreto da Bolívia, Roberto Quintanilla. “Nesse dia, Quintanilla irrompeu, de maneira decisiva, na vida de Monika Ertl. Havia matado Inti justo numa das poucas vezes em que ele não dormiu na sua casa”, relata Jürgen Schreiber.

Terminada a batalha, autêntico “banho de sangue”, Roberto Quintanilla “posa junto ao corpo de Inti Peredo”. Mesmo sendo um homem da Inteligência do governo, não soube permanecer no anonimato e atraiu a fúria da esquerda. “No dia em que quis converter-se em uma figura imortal passou a ser um homem morto.”

Roberto Quintanilla já era odiado pela esquerda mundial porque teria sido o agente que sugeriu que as mãos de Che Guevara fossem cortadas para comprovar que se tratava mesmo do guerrilheiro argentino. Cuba lançou a “maldição do Che”. Aqueles que contribuíram para a execução de Che Guerra deveriam ser mortos. “A maldição lançada por Fidel recaiu”, de maneira mais acintosa, sobre o coronel. “O vencedor pagará com a vida”, teria dito Fidel Castro. O ELN proclamou “¡Victoria o Muerte!” “Nenhum culpado morrerá na cama”, bradou o Exército de Libertação Nacional.

O ELN estava quase tão morto quanto Che Guevara e Inti Peredo. Mas Chato Peredo e outros ativistas decidiram reorganizá-lo, mais uma vez sem entender que a correlação de forças não lhes era favorável. Jürgen Schrei­ber ressalta que, sob o comando do irmão de Inti Peredo, o ELN se perde. No conflito com militares e policiais, quase 60 guerrilheiros foram “sacrificados”, frisa o jornalista. O governo boliviano chegou a usar napalm (o que não havia feito contra Che Guevara). Os chefes da esquerda justiçaram aqueles que consideravam como traidores.

Crime e Feltrinelli
A cúpula do ELN escapa para o Chile do presidente socialista Salvador Allende. Lá, Chato Peredo apaixona-se por Monika Ertl e o ELN, em conluio com Cuba, planeja o assassinato de Roberto Quintanilla. Matar o coronel significaria provar que o ELN estava ativo.

A participação de Monika no assassinato de Roberto Quin­ta­nilha tem duas explicações. A política é que, sendo uma militante disciplinada, tinha de cumprir a determinação do grupo político ao qual pertencia, o ELN (bancado por Cuba). A emocional é que o coronel havia articulado o assassinato do amor de sua vida, Inti Peredo. Matá-lo era uma vingança política e afetiva. Ela se considerava sua “viúva”. A jovem de 33 anos “era capaz de fazer qualquer coisa por Inti”. Escreveu o poema “Cristo de Setembro” sobre o parceiro. O outro ídolo da revolucionária era Che Guevara (identificava-se com sua crítica ao imperialismo), também morto por homens de Quintanilla. Os dois eram vistos como “sacrossantos”

Jürgen Schreiber assinala que a “paixão” de Monika Ertl por Inti Peredo foi “fatal” e sua “paixão” contra Roberto Quintanilha, impiedosa. Ao circular com esquerdistas alemães, ela dizia sobre o homem que admirava e amava: “Uma pessoa importante, um grande revolucionário”. O manifesto “Voltaremos às Montanhas”, escrito por Inti Peredo, havia sido traduzido na A­lemanha. O jornalista sustenta que a bela guerrilheira seguia as “escrituras” de Che Guevara e Mao Tsé-tung (a esquerda da Alemanha Ocidental o tratava como deus) de modo dogmático.

Na Alemanha, Monika descobre um novo amor, Reinhard H., irmão de seu ex-marido. Ele também era de esquerda. O conselho de mulheres da União Socialista Alemã de Estudantes (SDS) contribuiu para ampliar a militância esquerdista da jovem, mas teria sido um cubano da embaixada de Londres quem teria aberto as portas do ELN para a jovem. Ela mantinha ligação com a Fração do Exército Vermelho da Alemanha Ocidental (capitalista) e com a Comuna Babeuf.

O assassinato
Chato Peredo conta que Mo­nika foi escolhida para matar Roberto Quintanilha, que havia sido enviado à Alemanha — era cônsul-geral em Hamburgo (o objetivo era protegê-lo) —, porque falava alemão fluentemente e não despertaria suspeitas. Era, afinal, uma alemã visitando a Alemanha Ocidental (o país não estava unificado). Antes, o serviço secreto de Fidel Castro havia treinado dois irmãos venezuelanos para assassinar o coronel, mas, dados os riscos, abortaram a ação. Eles já estavam na Áustria.

Excelente atiradora — havia aprendido com o pai —, Monika Ertl queria matar Roberto Quintanilha. Era uma mulher de uma coragem inaudita. O francês Régis Debray escreveu que “nunca tinha medo”. O planejamento do assassinato se deu na Bolívia, Chile, Cuba, Dinamarca, Itália, Londres, Alemanha e Suíça. A embaixada cubana em Londres deu informações sobre o trabalho do cônsul em Hamburgo (ele estava na cidade desde julho de 1970). Aos aliados, a guerrilheira disse que planejava acabar com as “maquinações” do governo militar boliviano. “Monika havia selado um pacto com o ELN que não tinha volta, sua vida anterior havia deixado de ser real”, anota Jürgen Schreiber.

O líder-chave por trás do assassinato de Roberto Quintanilla é o cubano Fidel Castro, que usou seus agentes, como o italiano Giangia­como Feltrinelli — editor das obras-primas “Doutor Jivago”, de Boris Pasternak, e “O Leopardo”, de Tomasi di Lampedusa —, o jornalista e escritor dinamarquês Jan Stage, o boliviano Chato Peredo (chefe do ELN) e o argentino “o gordo Carlos”, para financiar e oferecer logística para a ação de Monika Ertl. Dois homens de Fidel Castro, Manuel Barbarroja Piñeiro, o James Bond do Caribe, e Ángel Gustavo Brugués, da Inteligência de Cuba, atuaram como operadores. O Serviço Secreto Cubano, o ELN, os Grupos de Ação Partisan (GAP), dos quais participava Feltrinelli e a extrema esquerda alemã coordenaram, direta ou indiretamente, o crime. Embora dirigido por Cuba, o assassinato teria sido articulado primeiramente no Chile, no parque de uma universidade de Santiago.

Decidido que Monika Ertl seria a assassina de Roberto Quintanilla, a rede de espiões, tanto em Londres — a embaixada cubana era um celeiro de agentes — quanto na Alemanha, começou a municiá-la de informações. O consulado boliviano fica num bairro tranquilo de Hamburgo, na Heilwigstrasse 125. Curiosamente, embora não tenha interessado à polícia, militantes da esquerda alemã, uma comuna, vivia no mesmo edifício. O Serviço Secreto Cubano, organizado por Markus Wolf, da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, proclama: 1969 é o “ano do esforço decisivo”. Era a determinação para matar o homem que havia “vilipendiado” Che Guevara e Inti Peredo.

Ao viajar para a Europa, para cumprir sua missão, Monika Ertl possivelmente usava passaportes falsificados pelo Serviço Secreto Cubano. “É possível que a guerrilheira tenha aprendido em Cuba técnicas de luta corpo a corpo e outras coisas”, diz Jürgen Schreiber.

Radical chic e milionário, Fel­trinelli não se contentava em financiar grupos políticos de extrema esquerda. Participava de atos terroristas e explodiu a si próprio, em 1972, quando tentou cometer um atentado. Era, segundo cubanos, um dos principais agentes de Fidel Castro (e dos palestinos) na Europa (o editor havia sido treinado como agente em Cuba e na Tchecoslováquia).

Instado a participar da operação, como financiador, para assassinar Roberto Quintanilla, o editor aproximou-se de Monika Ertl — com quem, supostamente, teve um caso. Ela admirava seu charme aristocrático e ele admirava a revolucionária intimorata. O milionário de Milão esteve em La Paz, estabelecendo relações com militantes do ELN, mas acabou preso por policiais dirigidos por Roberto Quintanilla. No Brasil, o notável editor apoiou a Ação Libertadora Nacional, de Carlos Marighella. Até o cineasta italiano Luchino Visconti teria dado apoio à ALN.

Manuel “Barbarroja” Piñeiro ordena que Feltrinelli e Jan Stage criem a estrutura adequada para Monika Ertl matar Roberto Quintanilla. Do Chile, a guerrilheira segue para a França. Num barco, Feltrinelli entrega-lhe um Colt Cobra 38 Special (de origem americana). Espantosamente, era uma arma comprada no mercado legal e registrada no nome do editor, o que, mais tarde, levou à sua identificação.

A viagem de Monika Ertl para Hamburgo pode ter sido financiada por Feltrinelli. Uma soma elevada teria sido entregue por Jan Stage a Chato Peredo (há até recibo assinado pela guerrilheira). É provável que, como agente de Fidel Castro, o editor estivesse monitorando a assassina de Roberto Quintanilla (num período, ela chegou a criticar Cuba: “Uma demência, um passatempo chamado revolução”. A ligação de Cuba com a União Soviética desagradava Che Guevara; o país de Lênin, Stálin e Nikita Kruchev seria imperialista).

Inicialmente, como havia sido sargento e sabia atirar, Jan Stage chegou a ser cotado para matar o cônsul. Porém, por vontade própria, quase uma exigência, Monika Ertl decidiu que o papel era seu.

Jan Stage pode ter acompanhado Mônica Ertl ao sul da França para pegar o Colt Cobra com Feltrinelli. No dia 1º de abril de 1971, o do assassinato de Roberto Quintanilha, o dinamarquês estava em Hamburgo.

No dia 25 de março, uma mulher ligou e disse que iria ao consulado para buscar informações e imagens sobre o folclore da Bolívia.

Já no consulado, Monika Ertl conversou com Roberto Quintanilla, que parece ter ficado impressionado com sua beleza (tinha corpo e rosto de modelo) — apesar de ter pressentido que havia alguma coisa errada. Ele pediu à secretária que passasse folhetos para a “turista”. Ao sair da sala, dirigindo-se ao corredor, foi seguido, levou três tiros e caiu. Sua mulher, Anna Quintanilla, lutou com Monika Ertl e derrubou o revólver. Na refrega, caíram a peruca, o revólver, botões de um casaco, uma toalha de mão, óculos e uma jaqueta. A guerrilheira cumpriu seu objetivo, ao matar o coronel, mas agiu com certo amadorismo.

Aos 43 anos, o cônsul só conseguiu dizer a Anna Quintanilla: “Cuide dos meninos!”. Chegou a ser atendido por médicos, mas não resistiu.

Jürgen Schreiner diz que, “até o dia de hoje [seu livro saiu na Alemanha em 2009], não se sabe como” Monika Ertl “chegou à cena do crime” e desapareceu “sem deixar rastros”.

Monika viajara 11 mil quilômetros para matá-lo. “A morte de Quintanilla numa cidade tão distante de seu lugar de origem tinha o propósito de chamar a atenção para os assassinatos e torturas cometidos pelo governo boliviano” — uma ditadura cruenta — e, claro, era uma vingança contra o coronel que havia contribuído para matar Che Guevara e Inti Peredo.

Fuga de Monika
A polícia de Hamburgo revelou que Jan Stage dirigiu o automóvel em que Monika Ertl escapou da embaixada. Anna Quintanilla afirmou que a guerrilheira saiu pela porta da frente do consulado. A secretária corroborou a informação. Mas acrescentou: “Não sei como a mulher pôde abandonar a Heilwigstrasse tão rapidamente”. Poderia ter saído pela porta traseira. Ela pode ter se escondido na comuna que existe no mesmo edifício? É uma possibilidade, um golpe de mestre. Porque, apesar de a polícia vasculhar o bairro, nada encontrou.

Cometido o atentado, Monika Ertl vai para o Chile de Allende e, rapidamente, para Cuba. Temia ser assassinada. Entretanto, contrariando todas as advertências — “era a mulher mais caçada da Bolívia” —, volta para a Bolívia pouco depois. O ELN estava se retirando da luta e ela retornava para comandar um exército fantasma. Passou a ser a cabeça do Exército de Libertação Nacional. Os líderes da organização estavam à salvo no Chile e em embaixadas estrangeiras. “Na pior fase da ditadura de [Hugo] Banzer, ela ficou ali, presente. É ‘um exemplo de coragem revolucionária e entrega absoluta pela causa’, proclamam seus companheiros”, registra Jürgen Schreiber. Ela imprime e distribui o periódico clandestino “El Inti”. “Era como bailar em cima de um vulcão.”

O codinome de Monika Ertl era, além de Imilla (demonstra sua identificação com as lutas dos bolivianos), Nancy Fanny Miriam Molina — seria argentina. Circulava disfarçada pelas ruas da Bolívia, notadamente em La Paz (companheiros não conseguiram retirá-la do país). Mas o serviço secreto a monitorava, esperando a hora certa para capturá-la. Na Rua Entre Ríos, em La Paz, paramilitares (com o suposto apoio de Klaus Barbie) a cercaram e, no 12 de maio de 1973, a mataram (morreu em questão de segundos). Ao seu lado, foi executado o argentino Osvaldo Ucasqui. Ela tinha 35 anos e chegou a reagir, mas estava isolada, sem saída. A espiã que a delatou recebeu 20 mil dólares (a oferta para entregar Che Guevara era de 4.200 dólares). O governo boliviano não entregou o cadáver da guerrilheira à sua família. Seu pai morreu, em 2000, aos 90 anos.

Jürgen Schreiber pergunta: Monika Ertl “pagou com sua vida um autoengano colossal?” Inspirando-se em Cuba, na luta que começou em Sierra Maestra, os líderes e militantes do ELN acreditaram que poderiam fazer o mesmo na Bolívia. Mas havia uma diferença crucial. Na Bolívia, a ditadura, em plena Guerra Fria, tinha o apoio militar e financeiro dos Estados Unidos. Os militares que caçaram e mataram Che Guevara haviam sido treinados por boinas-verdes americanos e a área de Inteligência foi qualificada pela CIA. Os guerrilheiros não tinham o apoio da população — estavam isolados — e a mínima estrutura para vencer e abalar o governo dos militares bolivianos. Neste sentido, talvez seja possível responder positivamente: o autoengano de Monika Ertl e seus aliados foi colossal. Uma espécie de suicídio político e militar.

Segundo Jürgen Schreiber, Monika Ertl queria ser uma “heroína da liberdade”. A alemã, que não era ideóloga, acreditava na construção de um mundo justo, quer dizer, comunista. Era mais identificada com o radicalismo de Che Guevara — devoto do foquismo e da revolução permanente (embora não fosse trotskista) — do que com a realpolitik de Fidel Castro (aliados dos soviéticos).

Guimarães Rosa
No final do livro, Jürgen Schreiber escreve: “Para retardar o processo de decomposição, injetaram formaldeído [no corpo de Che Guevara]. E então seus olhos voltaram a abrir como se ele quisesse observar seus assassinos. Os livros dedicaram suas páginas à lenda: um cadáver que voltava a abrir os olhos pronto sairia em busca de outro” cadáver [“un cadáver que volvía a abrir los ojos ‘pronto’ saldría em busca de otro” — é uma referência a Roberto Quintanilla], leio nas novelas de João Guimarães Rosa, ex-cônsul-geral do Brasil em Hamburgo. Assim aconteceu com seu colega boliviano” (Roberto Quintanilla). A citação ao autor do romance “Grande Sertão: Veredas” não me parece oportuna, mas, como não sou especialista na sua obra, não tenho como contrapor ao que escreve o jornalista.

“As três seguidoras mais conhecidas do Che são alemãs. Tamara Bunke Bider, de Berlim Oriental [teria nascido na Argentina], e a estudante de Arquitetura de Gotinga [Göttingen], Jenny Koehler, também pagaram sua defesa do ELN com suas vidas”, revela Jürgen Schreiber. A terceira foi Monika Ertl. A história de Tamara Bunke Bider pode ser conferida no excelente livro “Tamara, Laura, Tânia — Un Misterio en la Guerrilha del Che” (Del Nuevo Extremo, 435 páginas), do economista e professor universitário Gustavo Rodríguez Ostria, por sinal, uma das fontes do livro de Jürgen Schreiber.

O escritor boliviano Rodrigo Hasbún escreveu um romance sobre a história da família de Monika Ertl — “Os Afetos” (Intrínseca, 128 páginas, tradução de José Geraldo Couto). Há um documentário sobre a guerrilheira: “Procurada — Monika Ertl”, de Christian Baudissin. Régis Debray escreveu um romance sobre a revolucionária alemã: “La Neige Brûle” (“La Nieve Quema”).

 

Euler de França Belém é editor do Jornal Opção.
Email: eulerdefrancabelem@gmail.com

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