Se o campo progressista ficar insistindo com candidaturas que somadas correm o risco de não fazer 10% dos votos, os prepostos de Bolsonaro e D´0ria vão para o segundo turno
Por Renato Rovai
A cidade de São Paulo tem o tamanho de um país com seus 12,2 milhões de habitantes. Portugal, que está super na moda entre a classe média alta que quer fugir do governo que elegeu, tem 10,3 milhões.
São Paulo tem aproximadamente 6% da população total do Brasil. Visto por este aspecto nem é tão decisiva assim. Mas a questão não é quantitativa, mas simbólica. Na disputa municipal, a grande política só é disputada na capital paulista. Mesmo em outras capitais, as disputas costumam ser meramente paroquiais.
Foi com a vitória de Erundina em 88, que Lula se credenciou para derrotar Brizola e ir para o segundo turno em 1989, tendo quase vencido as eleições.
Foi vencendo Suplicy em 1992, que Maluf entrou de novo no jogo nacional. Por outro lado, foi com a vitória de Pitta em 1996 e seu péssimo governo, que Maluf entrou em rota de queda, mas mesmo assim quase derrotou Covas para governador em 1998.
Com a vitória de Marta em 2000, Lula armou o jogo para se eleger presidente da República em 2002.
Em 2004, a vitória de Serra o reposicionou no cenário nacional, levando-o a se eleger governador em 2006 e à presidência da República em 2010.
A vitória de Haddad em 2012 foi fundamental para que o PT tivesse um quadro nacional na ausência de Lula.
Quanto a Doria, acho que não é necessário entrar em detalhes, mas só é governador e pré-candidato a presidente por ter se elegido prefeito.
É uma eleição super importante também pelo impacto que causa em outras cidades do estado e mesmo do país.
Mesmo com tudo isso, essa disputa está sendo tratada com desdém pelos partidos do campo progressista.
Até o momento, por exemplo, o favoritíssimo para ser candidato a prefeito pelo PT, num movimento que conta com o apoio da principal corrente do partido, a CNB, é o ex-deputado Jilmar Tatto, que candidato ao Senado ficou em 7º lugar com 6%.
Tatto, mesmo tendo larga carreira política, teve apenas 1% a mais do que o desconhecido candidato do Partido Novo, Diogo da Luz, que fez 5%.
Tatto, registre-se, contou com a ajuda de Haddad e Suplicy como puxadores de votos. Já que era possível votar em dois nomes para o Senado.
No PSOL, há quem defenda no nome da jovem deputada Sâmia Bonfim, mas mesmo no partido ela encontra resistências internas.
O PDT discutia lançar Tabata Amaral, mas já desistiu. Agora, surge a possibilidade de Marta Suplicy se filiar ao partido. Marta deixou de ser progressista há algum tempo.
O PCdoB lançou a candidatura do deputado Orlando Silva, mas mesmo no partido ninguém acredita na sua viabilidade eleitoral.
Enquanto no campo progressista há uma ausência completa de nomes para a disputa municipal em SP, sobram nomes fortes na direita.
Joice Hasselmann e Janaina Paschoal pelo PSL, Datena pelo DEM, Bruno Covas pelo PSDB, Russomanno pelo PRB e mesmo Márcio França pelo PSB.
Márcio França não quer ser candidato pelo campo progressista. Prefere ficar na centro direita.
Não ter um nome progressista forte para disputar a maior capital do país, num momento de grave crise institucional, é um desastre. Ma, pior que isso é não buscar unidade para tentar construir um programa que possa ao fim e ao cabo chegar a este nome.
E mais grave ainda é cada partido ficar ser organizando com candidaturas que somadas correm o risco de não fazer 10% dos votos.
Se isso vier a acontecer em São Paulo, Dória e Bolsonaro com seus representantes vão disputar o segundo turno. E o campo progressista terá jogado 2022 na lata do lixo.
Tanto porque não terá construído, mesmo que derrotado, uma referência para chegar mais forte na disputa presidencial, como porque também não terá buscado um novo modo de fazer política.
É essa que parece ser a questão chave da disputa eleitoral de São Paulo. Ao invés de ficar se fechando para levar nomes quase inexpressivos para a principal disputa do país, eles deveriam estar chamando a sociedade para encontros e debates sobre os rumos da política. E sobre como construir um novo processo que envolvesse o maior número de pessoas de todos os segmentos sociais que defendem a democracia e que não acham que a saída para o país é à direita.
PT, PSOL, PCdoB e mesmo o PDT tem obrigação de ser responsáveis com a sucessão de Doria/Covas em São Paulo. Ou a situação se complicará ainda mais depois de outubro do ano que vem.
Convenhamos, é de uma imensa irresponsabilidade num momento desses fazer política olhando para o umbigo.
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