Renan Antunes de Oliveira (Divulgação/JC) |
Jornalista apresentou sintomas de coronavírus e realizou bateria de exames em hospital de Florianópolis. Médicos o receitaram coquetel à base de cloroquina e o mandaram de volta para casa. Na véspera de seu falecimento, veio o resultado negativo para Covid-19. Era tarde demais
Faleceu no último domingo (19) o jornalista Renan Antunes de Oliveira, de 70 anos. Ele foi vencedor de prêmios importantes do jornalismo brasileiro, como o Esso de Reportagem Nacional, com “A Tragédia de Felipe Klein”, publicada em 2004 no Jornal Já, um pequeno veículo de Porto Alegre.
“Ele tinha amor pela verdade, pelo jornalismo de raiz. Ia até o fim pela pauta. Extremamente inteligente, humor afiado, carinhoso e parceiro. Queria combater as injustiças sociais e usou a ferramenta do jornalismo para fazer isso até o fim da vida. Que o seu legado fique para os jovens jornalistas que estão chegando, principalmente o olhar mais atento para o social”, afirma a sobrinha, a jornalista Edith Auler, 41.
Renan teve passagens pelas revistas Veja e IstoÉ, e pelos jornais Diário Catarinense, Gazeta do Povo e O Estado de S. Paulo. Atualmente, ele fazia reportagens para o site Diário do Centro do Mundo (DCM).
Kiko Nogueira, editor do DCM, revelou que o amigo estava tomando um coquetel à base de hidroxicloroquina e azitromicina e teve uma parada cardíaca.
“Na semana passada, Renan baixou no Imperial Hospital de Caridade, em Florianópolis, com suspeita de coronavírus. Fez uma tomografia dos pulmões e tinha os sintomas da covid-19. Os médicos receitaram-lhe, então, as drogas. Nem ele e nem a mulher, Blanca, assinaram termo de responsabilidade. Foram mandados para casa. Na véspera de seu falecimento, cinco dias após o início desse tratamento, veio o resultado negativo para coronavírus”, contou Nogueira.
Renan fez um transplante de rim no mês passado e estava tomando imunossupressores como prednisona, sirolimo e tacrolimo, que baixam a imunidade. A esposa diz que essas informações foram passadas à equipe médica. A maioria desses medicamentos, combinados com a hidroxicloroquina, causa, entre outras coisas, arritmia cardíaca.
“Essa interação medicamentosa matou Renan. Só deveria ser realizada em ambiente hospitalar. É uma barbaridade o que fizeram”, diz Marcos Caseiro, médico infectologista e professor universitário, ele mesmo curado da Covid-19. A combinação é também desaconselhada pelo site Drug Interaction Checker.
O colega e jornalista Moisés Mendes conta que conversou com Renan há três semanas. “Ele estava faceiro com a vida nova [pós-transplante]. Perguntei como ele se cuidava, me disse que tomava remédios para a rejeição e fez uma declaração que é o que me revolta agora: ‘Não tenho medo da rejeição, porque os medicamentos são de última geração. Tenho medo dessa merda desse vírus'”.
Renan Antunes deixa a mulher, Bianca, e seis filhos: Floriano, Leonel, Jerônimo, Catarina e Bruno, mais a caçula Angelina, de 11. O site DCM realiza um crowdfunding para ajudar a família do jornalista. Caso você possa fazer uma doação, o endereço está aqui.
por Pragmatismo Político
Nenhum comentário:
Postar um comentário