24 de jun. de 2020

Bolsonaro nomeia médico pró-abstinência sexual para Saúde

O médico ginecologista Raphael Câmara Medeiros Parente, nomeado como secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, é ligado à ala ideológica do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele é um dos defensores do projeto de abstinência sexual encampado pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

“A iniciação sexual precoce, com idade aproximada aos 15 anos, está associada ao menor uso de preservativo, ao aumento de relações sexuais e de parceiros e à maior chance de DSTs e gestações indesejadas. Então, como não incluir a abstinência sexual em uma política dirigida para este público de adolescentes?”, escreveu em artigo no jornal Gazeta do Povo, em janeiro.

Parente foi condizido ao cargo nesta terça-feira (23/06) pelo ministro-chefe da Casa Civil da Presidência, general Braga Netto. A portaria com a nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Do Rio de Janeiro, reduto eleitoral do clã Bolsonaro, Raphael Parente chega a Brasília defendendo as pautas do governo. Ele participou como convidado, por exemplo, da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na Câmara no ano passado. Deputadas bolsonaristas, como Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Chris Tonietto (PSL-RJ), fazem parte do grupo.

O médico discursou no Supremo Tribunal Federal (STF) em uma audiência pública sobre a descriminalização do aborto (foto em destaque). Ele é contra. “Meu posicionamento profissional por vezes é criticado pela mídia e ativistas, principalmente quando falo de questões relacionadas ao parto e ao aborto”, admite, em perfil publicado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj).

Durante a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, Parente criticou a situação em que médicos estão atuando. Ele reclama de falta de equipamentos e culpas “governantes”. Em artigo publicado pelo jornal O Globo em abril, o novo secretário do Ministério da Saúde criticou o governo federal.

“O governo federal por fim errou, por não ter feito a prometida carreira de Estado, não ter fechado fronteiras, quando a Covid-19 ainda não tinha entrado, e ter liberado o Carnaval com o vírus já circulando no Brasil”, escreveu.

Antes de chegar ao Ministério da Saúde, raphael Parente já colaborava com o governo. Ele é represente do Conselho Federal de Medicina (CFM) em um convênio para o auxílio na elaboração de políticas públicas.

Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2001, Parente fez residência em ginecologia e obstetrícia, mestrado em Saúde Coletiva (epidemiologia) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e sempre atuou no Sistema Único de Saúde (SUS).

Raphael assume o cargo no lugar de Erno Harzheim, exonerado no fim de abril, ainda na gestão do ex-ministro da Saúde Nelson Teich.

A Secretário de Atenção Primária à Saúde é responsável pela gestão de postos de saúde, ambulatórios e atendimentos do programa Saúde da Família.

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