Por: Ana Mendonça Por: Estado de Minas Por: Diario de Pernambuco
Em meio às manifestações antirracistas que tomaram as ruas dos Estados Unidos e se espalharam por diversos países, incluindo o Brasil, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, voltou a fazer declarações contra o movimento negro.
Camargo classificou o movimento como "escória maldita", que abriga "vagabundos". As declarações foram dadas em reunião a portas fechadas no último dia 30. O presidente ainda classificou Zumbi, figura histórica brasileira, símbolo da luta contra a escravidão e que dá nome à Fundação Palmares, como "filho da puta que escravizava pretos".
As falas de Camargo foram gravadas em áudio a que o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso nesta terça-feira (2). Na gravação, o presidente da entidade também manifestou desprezo pela agenda da "Consciência Negra", se referiu a uma mãe de santo como "macumbeira" e prometeu botar na rua diretores da autarquia que não tiverem como "meta" a demissão de um "esquerdista".
O áudio dessa reunião foi encaminhado para a Procuradoria da República no Distrito Federal, juntamente com um pedido para que Camargo responda na Justiça por improbidade administrativa.
A reunião teria sido convocada para para tratar do desaparecimento do celular corporativo de Camargo. Ao ser questionado sobre o assunto, o presidente da fundação fica nervoso e afirma que o aparelho sumiu por decisão judicial. No diálogo, ele chega a dizer que havia deixado o celular numa gaveta da fundação e insinua que o furto poderia ter sido proposital, com o intuito de prejudicá-lo.
Ao falar sobre "liberdade de expressão" Camargo faz críticas a Zumbi. "Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode no Dia da Consciência Negra", diz.
O presidente da instituição ainda afirmou ter sido afastado do comando, o que ocorreu por três meses, por uma liminar que "censurou suas opiniões em redes sociais". Na época, a Justiça considerou suas declarações, minimizando o crime de racismo, incompatíveis com o cargo.
Durante a gravação, o presidente da Fundação Palmares assegurou que o processo para tirá-lo do comando da autarquia "não vai dar em nada" porque teria havido "usurpação" do poder do presidente Jair Bolsonaro. "Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer", afirmou.
Durante as falas, Camargo ainda se referiu a uma mãe de santo como "macumbeira". Ele diz firmemente que não daria verba para terreiros, locais usados para cerimônias de matriz africana. “Tem gente vazando informação aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo”, diz.
Entenda
O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou representação à Procuradoria da República no Distrito Federal, com um pedido para que Sérgio Camargo responda na Justiça por improbidade administrativa.
O documento foi escrito após Camargo ter determinado, no dia 13 de maio, data em que a abolição da escravatura completou 132 anos, a publicação de uma série de artigos depreciativos sobre Zumbi dos Palmares.
A Fundação Palmares é uma entidade viculada à Secretaria Especial da Cultura, criada em 1989 como resultado da luta do movimento negro. O obetivo da fundação é promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira
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