Comentário Especial dO Canhoto à Edição de Agosto
Que resposta queremos à crise na educação imposta pela Pandemia?
Não é o objetivo dO Canhoto dizer algo elaborado sobre o papel político de um partido dentro da periferia e junto às massas. Quem puder ler um pouco sobre Lênin e analisar a história de um dos mais temidos e revolucionários partidos do mundo, o bolchevique, há de perceber o que acontece quando teoria e práticas revolucionárias entram em convergência. Não poderíamos deixar de perceber alguns arranjos problemáticos no discurso sobre pandemia e retorno às aulas que, gentilmente, nos foi oferecido pelos interlocutores que ocuparam as páginas dO Canhoto de hoje.
Por medo de dizer aquilo que as famílias podem não querer ouvir, ninguém foi capaz de dizer com todas as letras que O ENSINO REMOTO É UM ABSURDO. Falamos isso porque temos contato constante com pais, mães, estudantes e professores, e todo mundo sabe que a maioria esmagadora dos estudantes está IRREMEDIAVELMENTE EXCLUÍDA do ensino remoto. No caso do Gama, dados conseguidos junto a professores das maiores escolas de ensino médio mostram que nem 15% dos alunos estão presentes na plataforma virtual. Em uma escola de 2000 alunos, isso significa que 300 alunos estão de fato “presentes”. A situação objetiva concreta é que 85% dos estudantes dessa escola modelo estão fora, sem escola, impossibilitados de estudar.
Essa situação era previsível e não adianta alegar que o governo deveria “garantir acesso”, ofertando celulares, banda larga, pacote de dados, coisa que o valha. Às vezes nos soa como se os partidos estivessem alheios à realidade efetiva da população pobre periférica, ou fossem ignorantes do modus desses governos atuais, de extrema direita e fascistas. Eles não farão nada! A não ser fingir ação por meio da pior solução possível, esta que por hora é apresentada e que, sendo péssima, ainda sofre pressão da própria direita para ser abandonada à revelia das orientações epidemiológicas.
Ou nos mantemos em ensino remoto, absurdamente excludente e pedagogicamente de péssima qualidade, ou voltamos para as salas de aula nos expondo ao vírus. Será? Só temos essas duas opções? Para nós do Canhoto, este é mais um falso dilema.
Escola é vínculo afetivo e real. E vínculo real é aquilo que Paulo Freire tanto dizia quando falava que ensinar não é transferir conhecimento. A clássica frase tão citada nas reuniões pedagógicas tem uma continuação que diz que é preciso haver possibilidades para produção e construção do conhecimento. Quando a pandemia contaminou de impossibilidade o exercício interativo escolar, o que ficou claro é que estavam suspensas quaisquer condições de continuidade. E muitos alunos e familiares entenderam isso porque sentem, na quebra no vínculo, na própria saudade da escola, que esse ano “nem vale”. Há entre muitos pais e familiares mais conscientes a postura do “ano desse jeito também não quero”, e vemos cada vez mais famílias tomarem a decisão política e pedagógica de não dar colaboração às plataformas.
O que fica claro pra nós é que fazer essa crítica, essa desconstrução total do engodo e do blefe do ensino remoto é algo urgente, especialmente porque se os governos locais quiserem empurrar as comunidades de volta à escola, apenas a tão falada disputa das consciências será capaz de fazer com que o povo tome a decisão certa. A situação é contraditória, complexa. São duas ações e duas críticas: conscientizar do absurdo que é o ensino remoto, em todos os sentidos, e sustentar que o retorno às aulas é impossível até a chegada da vacina. Que partido enfrentou a realidade objetiva que vive os estudantes e suas famílias? Nenhum. Quando Paulo Freire fala que ensinar exige apreensão da realidade, ele nos diz também que aprender é não repetir a lição dada, aprender é uma aventura criadora, que não se faz sem abertura ao risco, não se faz longe do contato que proporciona a troca.
O único caminho agora para a greve que talvez precisemos fazer, caso sejamos forçados a voltar, é dizer explicitamente o que está acontecendo. E a verdade é transparente e inadiável: nem o ensino remoto é uma opção, pois ele é cínico, excludente, antidemocrático, pedagogicamente inviável e desprovido da mais básica e verdadeira troca inerente entre aprendiz e mestre, nem as aulas podem voltar em hipótese alguma, sob pena de haver ainda mais mortes.
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