31 de jul. de 2013

Paralela do paradoxo Papal – Por Iberê Lopes

Paralela do paradoxo Papal – Por Iberê Lopes

do sitio Ensaio Coletivo
Antes de iniciar a minha ladainha semanal sobre os temas que tenho o atrevimento de escrever neste blog, gostaria de esclarecer: não tenho nada contra o Papa Francisco ou quem tem como livro sagrado a Bíblia. Quero apenas demonstrar minha indignação com este entrelaçamento de mais de 500 anos entre religião e Estado, no Brasil.
O dinheiro (Governo Federal: R$ 62 milhões, sendo R$ 30 milhões com ações de segurança e defesa; Estado e Município: R$ 28 milhões cada) gasto pelo poder público em infraestrutura, segurança e logística com a Jornada Mundial da Juventude, além dos passeios papais com o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) poderia ter sido aplicado em demarcações de terras indígenas (trocadas por espelhos por volta de 1500), comunidades tradicionais quilombolas (escravizados na construção do Brasil) e investimento na agricultura familiar (responsáveis pelo alimento nosso de cada dia).
Sobre os passeios queria enfatizar que qualquer chefe de Estado deveria estar acompanhado da Presidenta da República, se estivesse em missão oficial. Aqui não foi o caso! O Papa Francisco veio ao Brasil para uma atividade particular e privada (Jornada Mundial da Juventude) da Igreja Católica Apostólica Romana. Portanto, deveria ter todos os custos de sua viagem pagos pela sua instituição. Não sou contra qualquer denominação religiosa e respeito à crença alheia. O meu argumento é: somos 196,7 milhões de habitantes no Brasil (dados do IBGE de 2011), todos católicos?
O representante da Igreja Católica na terra (a mesma da Santa Inquisição) resolveu, esta semana, aceitar homossexuais e mulheres como seres humanos e filhos de Deus. Contradizendo as próprias declarações feitas em março deste ano, criticando um projeto de lei (em discussão no senado argentino) que versa sobre o matrimônio de pessoas do mesmo sexo. “Aqui estão em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Está em jogo a vida de tantas crianças que serão discriminadas de antemão, privando-se do amadurecimento humano que Deus quis que se desse com um pai e uma mãe. Está em jogo o rechaço direto à lei de Deus, gravada, ademais, nos nossos corações”, pontuou em 13 de março o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires.
Como se todos os cidadãos homossexuais deste planeta intolerante estivessem esperando esta benção, afirmou Papa Francisco: “o catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser marginalizados por causa disso (orientação sexual), e sim que devem ser integrados à sociedade”. Os primeiros colonizadores que vieram catequizar os donos do Brasil (índios) também eram super descolados, chegaram em caravelas suntuosas e ainda trouxeram presentinhos. Até o coelhinho da páscoa sabe desta história! O que vem depois é lamentável: nosso ouro, floresta e povo foram explorados pela Coroa e pela Santa Igreja.
As mulheres do mundo inteiro também devem comemorar, pois não serão mais queimadas em fogueiras ou julgadas por sua condição de fêmea (quando o assunto não for descriminalização do aborto, claro): “Não podemos limitar o papel das mulheres na Igreja ao de coroinha ou de presidente de uma entidade beneficente, deve haver mais”, disse Papa Francisco. Fico feliz com esta declaração, pelo amadurecimento da instituição católica em relação às cidadãs que trabalham em paróquias planeta a fora. Mas as labaredas da história não serão apagadas como num passe de bruxaria!
Posso ganhar uma porção de inimigos, descontentes com minha acidez, mas jamais irei pecar por não contextualizar alguns fatos que penso serem relevantes demais para passarem em brancas nuvens. Encerro minha verborragia prolixa com vontade de mandar o Papa andar nas ruas de San Francisco. “Quantas vezes tive vontade de sair pelas ruas de Roma, eu gosto de estar na rua e nesse contexto me sinto um pouco enjaulado. Em Buenos Aires todos me conheciam como o padre andarilho”, Papa Francisco. Depois desta, e antes que alguém me mande “pegar a paralela e seguir sem retorno”, vou meditar sobre está bela frase musical de Zeca Baleiro e Raimundo Fagner: “como diria o cantor de bolero, ninguém pode destruir o coração de um homem sincero”.

Scott McKenzie – San Francisco

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