1 de ago. de 2013

Delfim diz não se arrepender de ter assinado AI-5

Delfim diz não se arrepender de ter assinado AI-5
Em depoimento à Comissão da Verdade de SP, ele negou saber de torturas na ditadura
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto disse ontem, em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, não se arrepender de ter assinado, em 1968, o Ato Institucional nº 5, que extinguiu direitos civis e agravou a repressão. Delfim disse ainda não ter tomado conhecimento da prática de torturas ou de iniciativas entre empresários para financiamento do sistema repressivo durante o governo militar. Sobre o AI-5, ele foi incisivo:
- Se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco, eu repetiria. Eu não só assinei o Ato Institucional nº5 como assinei a Constituição de 1988 - disse o ex-ministro.
O depoimento frustrou os integrantes da Comissão, que acreditam que Delfim, na condição de representante civil mais próximo da cúpula do governo militar, teria conhecimento dos métodos adotados para manutenção do regime repressivo no país.
Na reunião, o ex-ministro repetiu mais de uma vez que no governo não havia "ligação entre a administração econômica e o sistema militar".
- A parte que eu conheci da linha dura era toda de maluquetes, era um bando de maluquetes - afirmou.
Ao ser questionado sobre pagamentos realizados "por fora" a agentes da repressão, sobre o teor de discussões no Conselho de Segurança Nacional (do qual ele fazia parte), e eventual contribuição de empresários para a Operação Bandeirantes (serviço de informações e repressão vinculado ao Exército), Delfim sugeriu que os vereadores de São Paulo buscassem informações em extratos bancários e arquivos oficiais.
- Se (empresários) fizeram (contribuições financeiras para manter o sistema repressivo), não tenho o menor conhecimento. Tem que perguntar a eles - disse. No depoimento, Delfim afirmou ter procurado saber sobre práticas de tortura no governo, mas recebeu a informação de que elas não existiam.
- Eu nunca ouvi dentro do governo nada sobre tortura. Em 1972, eu ainda perguntei para o Médici (presidente à época: "Existe isso?". Ele disse que não, que o que existia eram os conflitos de rua - afirmou. O ex-ministro também negou ter informações sobre empresas que teriam financiado a repressão durante a ditadura militar.
- Eu não tenho nenhuma ideia se alguém financiou isso do setor privado. Eu nunca tive conhecimento disso. Não tinha nenhuma ligação entre o governo e esse processo - sustentou.

Autor(es): Thiago Herdy
O Globo - 26/06/2013

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