15 de jan. de 2014

Os Povos Indígenas do Brasil

Os Povos Indígenas do Brasil
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

A seguir postamos, de forma resumida, um histórico sobre os Povos Indígenas do Brasil. Algumas informações não serão encontradas nos livros didáticos oficiais, mas todas elas são verdadeiras e colocadas de forma didáticas.

Antes de Cabral
As 13 caravelas lideradas por Cabral chegaram no dia 22 de abril de 1500.
Dizem que este grande território foi descoberto nesse dia e para muitas pessoas a história do Brasil começou aí. É assim que muitos livros didáticos ensinam. Mas iremos aprender que muita história acontecia por aqui antes da chegada dos portugueses...  
O Brasil foi descoberto ou ocupado pelos colonizadores?
Os portugueses chegaram, ocuparam um território que já existia, fizeram os habitantes desse território aceitar seu jeito de viver, de falar, de acreditar em Deus, sem ao menos perguntar se eles estavam interessados nisso.
O que você acha mais adequado dizer?

A)Os portugueses descobriram o Brasil.
B)Os portugueses ocuparam o Brasil.
Você escolheu a melhor alternativa se optou pela alternativa b: "Os portugueses ocuparam o Brasil". Se usamos a palavra descobrimento, ou expressões como "o Brasil foi descoberto", "os portugueses descobriram o Brasil", estamos cometendo um erro. E estamos demonstrando desconhecimento sobre as populações indígenas, que já existiam no Brasil, e suas histórias. 

Esse jeito de falar dá a impressão de que não havia ninguém no imenso território que veio a se chamar Brasil. Ou mostra que achamos que as culturas que existiam aqui antes não valiam nada e que aquela que se instalou depois lhes era superior. Achar isso é demonstrar preconceito!
O que é preconceito?

Preconceito é uma ideia já pronta, que alguém nos passa e que a gente aceita sem refletir se ela é verdade ou não. É geralmente um julgamento de grupos ou pessoas que percebemos como diferentes e essa diferença é vista como algo negativo. O preconceito surge de uma afirmação genérica feita sem nenhum conhecimento. É dizer, por exemplo, que "todos os índios são preguiçosos" ou que "lugar de mulher é na cozinha". Achar que a cultura de um povo é melhor que a cultura de outro povo também é preconceito. A ideia de que todo mundo tem de ser, pensar, viver de um mesmo jeito leva ao preconceito. Por isso é preciso conhecer as diferenças e respeitá-las!

Outra ideia muito comum e nada adequada: indígenas vivendo em pequenas aldeias isoladas na floresta, sem qualquer contato, mudança ou inovação, como se estivessem parados no tempo. Como se essas populações não tivessem um passado, não tivessem história. Mas hoje já se sabe, e você pode até ensinar para quem ainda não aprendeu, que os povos indígenas que habitam o continente sul-americano descendem de populações que chegaram aqui e ocuparam toda a extensão desse continente há dezenas de milhares de anos.

Qual era o número de habitantes à época da chegada dos portugueses?

Não se sabe ao certo, mas muitos estudos indicam que no início do século XVI havia entre 2 e 4 milhões de índios. Se compararmos com o número de indígenas que existem hoje no Brasil, cerca de 800 mil, notamos que houve uma enorme diminuição dessa população. E como o número de indígenas diminuiu tanto? Muitas foram as causas, mas um número enorme de indígenas morreu por causa das doenças trazidas pelos colonizadores europeus, como por exemplo a gripe, o sarampo, a coqueluche, a varíola e a tuberculose. O que significa "doenças trazidas pelos colonizadores europeus"? Significa que essas doenças existiam entre esses colonizadores, mas eram completamente desconhecidas pelos índios. Ao atingirem os indígenas, elas o faziam de uma forma muito forte, porque eles ainda não tinham desenvolvido anticorpos. Anticorpos são as defesas que nosso organismo vai criando, ao longo do tempo de convivência com as doenças, para se defender delas. Essas doenças, sem encontrar essas defesas, viravam epidemias, isto é, passavam rapidamente de uma pessoa para outra e atingiam populações inteiras.


Quais foram as primeiras populações atingidas pelas doenças?
Foram as populações que viviam nas áreas onde a ocupação teve início: no litoral. Os indígenas que habitavam o interior estavam livres dessas doenças? Não, as populações que moravam no interior do Brasil também foram atingidas, pois os portugueses chegaram nesses lugares mais afastados, através dos rios e dos caminhos abertos na mata. Além disso, as doenças eram transmitidas às populações que não tinham contato direto com os europeus pelas relações de troca e comércio. Essas redes ocupavam grandes áreas. Isso possibilitou a transmissão de doenças.

Quem são
Existem mais de 230 povos indígenas no Brasil.
São mais de 800 mil pessoas, falando mais de 180 línguas indígenas!

Apesar de existir uma grande diversidade de culturas e línguas entre os povos indígenas no Brasil, à época da chegada dos colonizadores essa diversidade era muito maior.
Vários estudos indicam que no século XVI havia entre 2 e 4 milhões de índios, que pertenciam a mais de mil povos e falavam mais de mil línguas diferentes!
Durante milhares de anos, os povos que viviam no continente americano conviveram, compartilharam experiências e ideias, e estabeleceram relações de troca, criando um conjunto de características comuns.

Esse conjunto de características permite chamar de ameríndios a todos os índios das Américas do Norte, Central e do Sul. Eles são os povos originários das Américas e até hoje se relacionam e compartilham conhecimentos.
Povos originários são as populações que descendem dos primeiros habitantes de uma localidade. Estima-se que há 12 mil anos o território que veio a se chamar Brasil já era habitado por essas populações.
Uma outra característica que marca a história comum desses povos é a experiência da colonização, isto é, o impacto que as violentas ações dos colonizadores gerou nas suas vidas.
As consequências dessas violências foram a extinção de muitos povos, a diminuição no número de pessoas, a perda de suas terras, o desrespeito e a desvalorização de suas culturas. Infelizmente, essa trágica experiência foi vivida por muitos povos ameríndios.

Onde estão
Você sabia que há povos indígenas em quase todos os cantos do Brasil?
Por aqui, boa parte da população indígena vive em áreas chamadas de Terras Indígenas. Existem hoje 690 Terras Indígenas no país.

Em quase todos os estados brasileiros existem terras indígenas reconhecidas – exceto no Piauí e no Rio Grande do Norte. Mas os índios não vivem apenas nas terras indígenas.
Há comunidades indígenas circulando por beiradões de rios, em cidades amazônicas e até em algumas capitais brasileiras. Isso acontece principalmente porque, para os povos indígenas, os espaços em que se mora, planta, caça ou caminha vão além das fronteiras criadas pelo homem branco. E porque ninguém deixa de ser índio por estar em uma região considerada urbana, fora das fronteiras definidas para suas terras.

Para os índios, o lugar em que se vive não é apenas um cenário, é um território: um espaço totalmente conectado com um jeito tradicional de estar no mundo, conectado com suas culturas. Por isso, cada povo tem um jeito de explicar seus modos próprios de ocupar um território.
Como os Zo'é entendem seu território?

Os Zo'é são índios que vivem nas proximidades do rio Cuminapanema, no norte do Pará, e que falam de uma língua da família Tupi-Guarani. Eles ocupam seu território realizando movimentos de deslocamento e de concentração da população nas aldeias; já o tempo é distribuído em períodos dedicados às roças e às expedições de caça, pesca e coleta.
Em sua língua não existe uma palavra específica para “território”, o termo que mais se aproxima disso é -koha que pode ser traduzido como "modo de vida", "bem viver" ou "qualidade de vida". Esse termo inclui elementos como as condições ambientais e as formas de cuidar dos recursos necessários para viver, mas também pode significar o modo como os Zo'é se organizam no espaço, divididos em pequenos grupos de parentes morando em lugares separados.
Hoje em dia muitos povos sofrem com o fato de não poderem circular como antes da invenção das cidades, das fronteiras, do mundo dos brancos.

Veja o exemplo dos Xavante.
Os Xavante, que tinham o costume de caminhar muito por seu território, estão hoje obrigados ao sedentarismo. Sedentarismo quer dizer ficar no mesmo lugar, ou seja, não se movimentar no espaço. Embora eles ainda realizem pequenas excursões de caça e coleta dentro das suas áreas, o território em que podiam caminhar diminuiu muito.

Como Vivem
Os povos indígenas que vivem no Brasil apresentam semelhanças, mas também são muito diferentes entre si.
Suas festas, jogos e brincadeiras, suas formas de ensinar e aprender, tudo isso pode variar muito. Existem diferentes mitos, rituais, pinturas, objetos, músicas e cantos!

Além disso, os povos indígenas constroem casas de diversos jeitos e moram em regiões com paisagens muito diferentes. A alimentação de cada grupo também varia muito, alguns grupos só comem peixe, outros caçam vários tipos de animais, outros ainda criam gado e galinhas para comer.

Así Vivo Yo é um curta metragem feito pelo cineasta belga Jean-Charles L'Ami (produtora 35, Quai du Soleil Inversiones) junto com crianças piaroa da comunidade Betania del Topocho, que fica no estado do Amazonas na Venezuela. A maior parte desse povo vive em comunidades localizadas à margem do rio Orinoco, na floresta amazônica venezuelana. Os Piaroa contam com mais de 12 mil pessoas!

O vídeo contou com o apoio financeiro da Cinemateca Nacional da Venezuela e a colaboração da organização Wataniba.
Assista ao vídeo AQUI

Línguas
Antes de qualquer coisa, vamos entender o que é língua e o que é dialeto.
A língua e o dialeto são sistemas formados por símbolos – sons, sílabas, palavras, frases etc. – que servem para expressar pensamentos, emoções e desejos. Tanto podem ser usados oralmente quanto por escrito.
 A língua é ampla. Pode, por exemplo, pertencer a um país ou até a alguns países. O dialeto é restrito, pertence a um local ou a um grupo determinado dentro de um país.
Uma mesma língua pode ter muitos dialetos. Os falantes de dialetos de uma mesma língua se entendem e se comunicam com facilidade.

apenas 25 línguas indígenas são faladas por mais de 5 mil pessoas?
cerca de 110 línguas indígenas são faladas por menos de 400 pessoas?
a língua dos Akuntsu é falada apenas pelas 5 pessoas que formam esse grupo indígena?
Os Guató têm uma população de cerca de 370 pessoas, mas há apenas 5 falantes de sua língua!

Quantas línguas indígenas existiam no Brasil quando os portugueses chegaram?
Em 1550, esse número devia ser próximo de 1200 línguas. Se hoje temos aproximadamente 150, podemos, então, afirmar que mais ou menos mil línguas indígenas deixaram de existir no Brasil nos últimos 500 anos. É o que dizem muitos estudiosos do assunto.
Uma língua está em risco de extinção quando os falantes: param de usá-la; só a usam em um número pequeno de situações de comunicação; deixa de ser transmitida de uma geração para outra.
Na maioria das vezes, a quebra na transmissão da língua se dá quando os pais ainda falam com seus próprios pais na língua indígena, mas não o fazem mais com seus filhos, que abandonam o uso da língua nativa.

com informações de:
Aryon Dall´Igna Rodrigues
Línguas Brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas (1986)
UNESCO
Vitalidade da língua e línguas em perigo de extinção (2003)
Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília
Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades?, livro Terras Indígenas & Unidades de Conservação da natureza o desafio das sobreposições (2004), Dominique Tilkin Gallois.
“Os índios” e o futuro da sociodiversidade nativa contemporânea no Brasil, Carlos Alberto Ricardo. No livro A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1° e 2° graus (1995)
Site Povos Indígenas no Brasil (PIB)
Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE
Brasil 50 mil anos: Uma viagem ao passado pré-colonial (Guia temático para professores)
Museu de Arqueologia e Etnologia-MAE
Programa de educação patrimonial do levantamento arqueológico do gasoduto coari-manaus (Guia temático)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei.Parabéns.