28 de mar. de 2014

Faltou criatividade em "Rio 2"

Rio 2 se inicia um pouco a frente de onde o filme anterior terminou. As araras Blu e Jade agora vivem com seus três filhotes Bia, Tiago e Carla no jardim da casa dos humanos Linda e Tulio. Em sua primeira metade, as araras azuis vivem ao ar livre e são famosas por serem consideradas as últimas da espécie. Tudo muda quando os protetores, Linda e Tulio, avistam em uma missão na Amazônia, outra arara azul.
Decidida a descobrir se existem mais de sua espécie, Jade obriga Blu a viajar com ela para a Amazônia, levando com eles os três filhotes e deixando o Rio de Janeiro. Na expedição vão também as aves já conhecidas Nico e Pedro, dupla carioca apresentada no primeiro filme.

Levando o filme para a floresta Amazônica, o diretor Carlos Saldanha amplia suas possibilidades de enredo e estética visual. A princípio parece uma boa opção para fugir de uma provável continuação enfadonha e repetitiva, mas ainda assim, Rio 2 parece tentar ter sucesso de diversas maneiras, mas nenhuma é realmente bem sucedida.

A começar pela primeira parte do filme, ainda no Rio, quando exibe uma visão otimista da cidade e mais uma vez repete fórmulas do primeiro na tentativa de exaltar a beleza paisagística. O Cristo Redentor e o Pão de Açúcar aparecem desnecessariamente em algumas cenas, se colocando ao fundo de forma irritante – tanto que chamam mais atenção do que os próprios personagens que dialogam em primeiro plano. Uma sequência de abertura quase risível exibe famílias comemorando o Réveillon na Praia de Copacabana e logo depois sobe para um morro onde outras famílias festejam em lajes e pelas ruas.

Continuando suas cenas que parecem convites turísticos, o filme coloca a família de araras em uma viagem para a Amazônia e por conta de um GPS que não funciona direito, os obriga a viajar pela Bahia, Brasília, Minas Gerais e por aí vai. Enquanto eles sobrevoam monumentos como o Palácio do Planalto, o Elevador Lacerda e as Igrejas de Ouro Preto, o próprio brasileiro é obrigado a fazer uma espécie de tour pelo país que só atrasa o verdadeiro início do filme.

Com apenas dois terços de seu filme restando para contar uma história realmente interessante, a família de araras descobre na Amazônia um refúgio de outras aves da mesma espécie e então a trama assume sua função didática. Mais uma vez a questão da extinção da espécie é colocada em pauta e o filme engloba ainda o desmatamento ilegal da floresta.

Os vilões dessa vez estão em maior quantidade, mas não surpreendem e nem fogem do óbvio. Além de repetir a cacatua Nigel (vilão do primeiro filme), acompanhado de uma rã venenosa chamada Gabi e um Tamanduá chamado Carlitos, os humanos são muitos e eles agora estão destruindo os lares das aves.

A diversão maior do filme fica por conta dos números musicais, que funcionam isoladamente à trama. A trilha produzida por Sergio Mendes é igualmente contagiante como a do primeiro filme. Ela entra em cena em diversas apresentações musicais na floresta, se aproveitando da natureza para inspirar suas letras e dando oportunidade para que os personagens utilizem bem o espaço da Amazônia.

O que Saldanha não consegue provar com seu filme é a necessidade de realmente tê-lo feito. Apesar de Blu estar reencontrando aves de sua mesma espécie e partindo para um novo lar, Rio 2 não consegue definir seu propósito. É como se o roteiro de Saldanha atirasse para vários lados ao tentar agradar, com direito até a uma partida de futebol em plena Amazônia na qual araras azuis jogam contra as araras-vermelhas.

Diante de tudo isso, até o próprio título do filme soa incoerente. Carlos Saldanha apresenta sua animação com uma direção ligada no piloto automático, sem atender expectativas criativas que uma continuação exige em uma franquia. Alguém precisa dizê-lo que divertir as crianças não é mais o suficiente.

fonte http://www.cinemarcado.com.br/

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