7 de mar. de 2014

Merendeiras podem parar na segunda e ampliar crise no RJ

Um dos porta-vozes do movimento, Célio Viana, negou que o´
 motivo da greve seja político. “Queremos é melhores condições
de trabalho e salário decente. Nesses dias todos
não houve nenhuma baderna ou quebra-quebra”
foto TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Merendeiras podem parar na segunda e ampliar crise aberta por garis no Rio
Agentes de Preparação de Alimentos, também vinculados à Comlurb, ameaçam se somar a greve na coleta de lixo, movimento que revelou crise de representação da categoria e dividiu opiniões na cidade

por Renata Silver, especial para a RBA 

Rio de Janeiro – Os Agentes de Preparação de Alimentos (APA), que são auxiliares das merendeiras nas escolas da prefeitura, não devem retornar ao trabalho na segunda-feira (10), data da volta às aulas na rede municipal. São também funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), a mesma que registra greve de garis há uma semana por cobrança de reajuste salarial.

Agora, os APAs já anunciaram que, insatisfeitos com os salários e as condições de trabalho, vão aderir ao movimento. Os agentes atuam em toda a rede, que tem 1.500 escolas e creches, atendendo 675 mil alunos. A decisão deve ampliar a crise desencadeada sobre a administração do prefeito Eduardo Paes (PMDB) desde a deflagração da greve dos garis.

O lixo que se acumulou na cidade em pleno carnaval em função da greve está provocando muitas dúvidas, dividindo opiniões e revelando também uma crise na representação sindical da categoria. A paralisação foi deflagrada por uma assembleia não oficial, sem cumprimento dos ritos legais, e acabou por ser julgada ilegal pela desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-RJ). Com o apoio de uma parte da população e críticas de outra, os garis seguem expondo o descaso do poder público e os vícios de alguns segmentos do sindicalismo.

Habituados a verem acordos desvantajosos serem assinados ano a ano, alguns trabalhadores decidiram agir à margem da entidade, convocando uma assembleia no último dia 27, e decidiram cruzar os braços em pleno sábado de carnaval. Com a cidade cheia de turistas e muito movimento nas ruas, com blocos desfilando diariamente por toda a cidade, montanhas de lixo se formaram.

Um dos porta-vozes do movimento, Célio Viana, rejeitou a mediação do sindicato e afirmou querer negociar diretamente com o prefeito. "Nunca foi político. O que queremos é melhores condições de trabalho e um salário decente. Nesses dias todos não houve nenhuma baderna ou quebra-quebra", disse.

O Sindicato dos Trabalhadores em Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro, que representa os garis, vinha conduzindo as negociações da campanha salarial sem considerar as reais reivindicações da categoria. Segundo boletim publicado em seu site, a entidade se manifesta contrária à greve e argumenta estar “totalmente baseada na lei e na assembleia”, que teria autorizado o sindicato “a celebrar ou instaurar dissídio coletivo”.

O argumento se refere ao fato de, na segunda-feira (3), prefeitura e sindicato terem se reunido e acertado um acordo, que foi apresentado à categoria, mas não submetido a aprovação em assembleia. Insatisfeita com a proposta, uma parcela dos garis decidiu manter a paralisação. A represália veio em seguida: na terça-feira, foram demitidos 300 trabalhadores, o que provocou reação, com várias passeatas que chegaram a ser reprimidas duramente pela polícia.

A desembargadora Rosana Travesedo também sentenciou o sindicato a pagar multa diária de R$ 25 mil caso os garis não voltassem ao trabalho. Ela também determinou que os trabalhadores que quisessem trabalhar fossem protegidos por escolta armada. Foi então que as cenas de garis trabalhando sob a observação atenta de policiais do Batalhão de Choque, fortemente armados, se multiplicaram pela cidade ontem (6). Vários garis revelaram que a escolta não passa de coação e que estão trabalhando contra a vontade e com medo.

Ainda ontem, o desembargador José da Fonseca Martins Júnior dobrou o valor diário da multa aplicada ao sindicato se os garis não voltarem ao trabalho. O magistrado ressaltou que os líderes dos grevistas podem ser demitidos por justa causa.

Apoios
Os grevistas estão recebendo apoio de algumas entidades de trabalhadores. O Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) do Rio tem fornecido quentinhas. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) está colaborando com a impressão de panfletos. O Sintuff , dos servidores da Universidade Federal Fluminense, empresta carro de som. A CUT-RJ emitiu nota nesta quinta-feira informando que apoia o movimento dos garis, embora não tenha nenhuma relação com o sindicato – filiado à UGT – nem com o grupo de oposição que organiza o movimento.

A unidade estadual da central afirma ver com “extrema preocupação” o desenrolar da greve sem uma solução que ponha fim ao impasse entre a categoria e a prefeitura: “Apontamos a negociação como saída a democrática para o conflito, sempre tendo como norte o atendimento das reivindicações dos garis, que travam um bom combate por dias melhores para eles e seus familiares. Quem presta um serviço tão importante e essencial para os cariocas  tem de ser ouvido pelo poder público com especial atenção”, diz a nota.

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