Bem que podia ser sim, como nos romances e nos contos de fada em que tudo termina bem.
Mas sabemos que não é sempre assim, e não estou falando de coisas misteriosas ou místicas, estou falando das nossas manhãs e das nossas noites.
Do Gama
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
Estou falando das coisas que estão perto, dos cheiros que a gente sente e dos sabores que a gente prova . O que eu queria, nesse rabiscar de idéias, era voar num texto seco, direto.
E não me venham com essa conversa de que 2015 será diferente, quem garante? Separe o tempo para o seu violão, para suas notas e para seus amores, junte a isso a certeza de que a única coisa certa no separar é o tempo, esse sim, segue.
"Prepare a mala, não esqueça a escova, não esqueça de ligar para o seu pai, hoje é o dia dele". Pegue essas idéias renitentes e as coloque para ver outras paisagens, deixe o tempo livre para observar mais; você viu aquela criança brincando na praça, já deu bom dia ao gari na rua ou ao porteiro do seu prédio? Observe as pessoas, olho no olho, esqueça o celular quando estiver conversando. Observe a farsa montada, tem coronel querendo voltar a cavalgar por nossas ruas, com a espada em riste, observe com cuidado, são tempos difíceis mas, mesmo com esse papo de coronel, ninguém liga mais, nem querendo.
Sair da frente do computador e ficar na janela olhando a lua, sentar na areia da praia à tardinha e se deixar embalar pelo vai e vem do mar. Parar e olhar o artista de rua ou a moça na bicicleta.
Que o seu olhar veja outro mundo a cada dia. Que não se engane o seu olhar, que ele não despreze o que é injusto ou impróprio mas que, o que é injusto e impróprio, não seja tudo que o seu olhar contemple. O olhar nos traz desejos interessantes. Veja bandeiras diferentes das que nos obrigam a ver todos os dias, a pressa, o pouco tempo, a indiferença, a intolerância. Olhe e se convença de que o mundo é maior que seu umbigo
De novo as bandeiras se misturam nessas linhas. "Obedeça a sua avó, hoje é o dia dela"! Tias, primas, irmãs, filhas, todos terão o seu dia, como as mães e avós e eu volto a defender a bandeira pelo dia das primas...
Meu pai fazia as nossas bandeiras, todo final de mês separava o seu salário em partes e grampeava pequenos pedaços de papel no dinheiro e eu escrevia em cada pedacinho de papel aluguel, prestação da *Ducal, feira, compras, remédio. No final, meu pai colocava uma quantidade de dinheiro, cuidadosamente trocado, no bolso de uma de suas camisas no guarda-roupas e dizia : "não mexa aqui, esse é o dinheiro da minha passagem para ir trabalhar". Essa foi uma das bandeiras da minha infância que eu empunhei por anos à fio...
Mas hoje eu vejo que tem gente levantando a bandeira errada, que "arma" para o colega de trabalho para tomar o lugar dele, que se submete aos caprichos sexuais do chefe para receber uma promoção, prostituição oficializada e disfarçada. Sei de gente que se furta ao direito de raciocinar, acreditando cegamente em tudo o que se publica.
Veja que o mar se agita com os pedidos feitos nos festejos do sincretismo religioso, onde ele é o condutor dos pedidos e das promessas, que nunca pularam das jangadas, porque de nada sabem. Isto é fato, nunca se noticiou que um pedido ou uma promessa pulou de uma jangada, mas estamos cansados de ver promessas e pedidos estampados em bandeiras querendo nos impor um ponto, uma vírgula. Bem que podia ser como antes, como nos velhos contos.
Não quero ouvir discursos de que não sabiam disso, está aí, para que todos vejam, vale tudo por um passeio de jangada no mar calmo e sol brando em águas claras. Veja a cor das águas, elas cantam um amanhã novo, com cuidado observem os seus movimentos. É tempo de Observar.
Pode ser ou tá difícil?
*Ducal era uma loja de departamentos que existia nos anos 60, no RJ
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