Presidente da Câmara dos Deputados diz que aprovar aborto só passando por cima do seu cadáver
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha PMDB/RJ, disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que a aprovação do Projeto de Lei que amplia o direito ao aborto, só seria possível passando por cima de seu cadáver.
Esse discurso moralista e hipócrita merece o repúdio de todos aqueles que, com um mínimo de sanidade mental, entendem que o debate não é em torno simplesmente do aborto, que já é legalizado para os casos de estupro, mas pelo direito da sua ampliação.
Membro da bancada evangélica na Câmara e amigo do pastor Silas Malafaia, Cunha vomita um discurso fundamentalista e deveria ser responsabilizado pelas milhares de mortes que acontecem por ano no Brasil, nas milhares de clínicas clandestinas, a maioria delas sem as mínimas e necessárias condições para realizar o procedimento. Excetuando-se as que atendem a elite endinheirada do país.
Todas as manifestações contrárias a aprovação da ampliação do direito ao aborto, passam a impressão de que se está querendo que se faça aborto em toda mulher que engravidar, que bastaria ir a uma unidade do Sistema Único de Saúde, SUS, e pedir para ser feito o procedimento.
A Câmara dos Deputados analisa, todavia, o projeto de lei PL 7633/14 do deputado Jean Wyllys PSol-RJ, que prevê o atendimento de pacientes que abortam na rede de saúde pública. O texto estabelece que “toda gestante tem direito à assistência humanizada durante a gestação, pré-parto, parto e pós-parto, incluindo-se o abortamento, seja este espontâneo ou provocado, na rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e em estabelecimento privado de saúde suplementar”.
Por outro lado a não aprovação do Projeto não vai fazer que diminua o número de mulheres que procuram as clínicas clandestinas para abortarem. Essa lógica dos que são contra a aprovação do projeto é perversa, cruel, porque eles preferem fechar os olhos para a questão dos abortos clandestinos, proibindo que o Estado assuma a responsabilidade de realizar o aborto com segurança, preservando a vida dessas mulheres.
"O aborto é a quinta maior causa de morte materna no Brasil e gera um custo de, pelo menos, R$ 140 milhões aos cofres públicos, em função das consequências dos 850 mil abortos clandestinos realizados por ano. Com base em dados do DataSus, é possível saber quanto os governos gastam com complicações decorrentes de interrupções da gravidez — a maioria clandestina. No ano de 2013, foram 205.855 internações decorrentes de abortos no país — sendo 51.464 espontâneos e 154.391 induzidos (ilegais e legais). Levando em consideração que o valor médio da diária de uma internação no SUS é de R$ 413 e que as hospitalizadas passaram apenas um dia sob cuidados médicos, o governo gastou R$ 63,8 milhões por conta dos abortos induzidos. Também em 2013, foram 190.282 curetagens (método de retirada de placenta ou de endométrio do corpo), a grande maioria de quem quis interromper a gravidez. Isso teria custado um total de R$ 78,2 milhões, já que, pela tabela do SUS, cada intervenção custa, em média, R$ 411. No total, chega-se a, no mínimo, R$ 142 milhões", publicou o site Pragmatismo Político em setembro do ano passado.
"O aborto hoje é um problema de saúde pública e deve ser discutido pelos três poderes. Os custos e as complicações dos abortos ilegais são enormes. Clinicamente as mulheres podem ter infecções, contrair doenças que incluem a Aids, ter hemorragias que podem levar à morte e ter perdas de órgãos internos. E isso vai parar nas mãos do Estado. As pessoas vão recorrer também ao SUS", explicou Sidnei Ferreira, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), em entrevista ao mesmo site.
Não sou insensível ao trauma que uma mulher sofre ao se submeter à um procedimento de aborto, ele é ruim em todos os aspectos. Não acredito que alguém fique feliz em fazer um aborto de uma gravidez indesejada, mas se faz necessário entender que, se não houver outra opção, é preciso que seja feito com segurança visando, primeiramente, preservar a vida da mulher.
Portanto, que sejam responsabilizados não só o presidente da Câmara dos Deputados, mas todos aqueles que se negam a parar essa matança de mulheres no Brasil, pelas clínicas clandestinas.
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