A disputa por cargos políticos no Gama, passa pela disputa religiosa e o apoio de meios de comunicação.
Do Gama
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho
A disputa pelo posto de Administrador Regional do Gama foi uma verdadeira guerra de estratégias, entre os postulantes ao cargo. A disputa foi travada entre três caciques conservadores da política na cidade.
A atual administradora professora Maria Antonia (SD), indicada pelo deputado federal Augusto Carvalho (SD/DF), que dispensou fazer a indicação para a Administração de Brasília em troca de apoiar a professora. Indicação esta com as bençãos do deputado federal Paulinho da Força, do Solidariedade paulista.
O Pastor e deputado distrital Egmar Tavares (PSC), presidente da Assembléia de Deus do Gama e que era tido como certo para ocupar o cargo, por ser da confiança do governador Rodrigo Rollemberg, que terminou voltando atrás na indicação devido a grande rejeição popular ao nome do pastor. Comentou-se à época que ele é o proprietário de uma igreja construída ilegalmente no Parque Urbano e Vivencial do Gama.
Donizete Andrade, que já foi administrador da cidade no governo Arruda e era o nome indicado pelo também deputado distrital Rodrigo Delmasso (PTN), pastor da igreja Sara Nossa Terra. Vários sites da cidade comentaram que, em troca de votar na deputada distrital Celina Leão (PDT) para a presidência da Câmara Legislativa, o pastor teria exigido ao governador a administração da cidade, exigência essa que teria sido aceita por Rollemberg.
É com esse quadro que Maria Antonia consegue "dar a volta" nos dois experientes evangélicos que juntos, elegeram-se deputados distritais com 34.529 votos a maioria deles, certamente, dos fiéis de suas igrejas. Os dois, juntos, receberam 8.993 votos no Gama, o pastor Egmar, sozinho, foi o responsável por 6.795 desses votos.
Já empossada Administradora Regional do Gama, Maria Antonia passa, imediatamente, a rezar pela cartilha neoliberal, nomeando em cargos comissionados algumas pessoas ligadas a diversos veículos de comunicação da cidade, numa tentativa clara de angariar apoio daqueles que divulgam os fatos diários, políticos ou não. Essa tática foi utilizada em Minas Gerais pelo governo Aécio Neves (PSD).
Um conhecido site da cidade passou, de uma hora para outra, a publicar notícias sobre o GDF de forma amena e, muitas vezes positiva, mesmo em face do anúncio do fim do Cartão Material Escolar, do aumento de impostos no DF aprovado pela Câmara legislativa e de notícias, como as que foram publicadas pelo Blog do Arretadinho, como a falta de medicamento Benzilpenicilina pó, usado no tratamento de sífilis gestacional, que está colocando em risco a vida de centenas de mães infectadas e de seus bebê.
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Na última quinta-feira (5), em uma seção plenária da Câmara Legislativa, realizada na Rodoviária do Plano Piloto, um militante do movimento LGBT criticou publicamente o deputado Delmasso pela extinção da Sub-Secretaria que tratava das questões de gênero. O referido site noticiou o fato com uma suposta declaração do deputado que iria convidar o movimento LGBT para tomar um café.
Eu acredito que a isenção ao dar uma notícia deveria ser colocada em primeiro lugar, infelizmente não parece ser o que alguns veículos de comunicação do Gama estão priorizando.
A Igreja e o poder
Outro fato que precisa ser observado é a laicidade do Estado, a religião deveria ser tratada nos templos, mas não é. A Laicidade é a forma institucional que toma nas sociedades democráticas a relação política entre o cidadão e o Estado, e entre os próprios cidadãos. No início, onde esse princípio foi aplicado, a Laicidade permitiu instaurar a separação da sociedade civil e das religiões, não exercendo o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder político.
Para garantir simultaneamente a liberdade de todos e a liberdade de cada um, a Laicidade distingue e separa o domínio público, onde se exerce a cidadania, e o domínio privado, onde se exercem as liberdades individuais (de pensamento, de consciência, de convicção) e onde coexistem as diferenças (biológicas, sociais, culturais).
Pertencendo a todos, o espaço público é indivisível: nenhum cidadão ou grupo de cidadãos deve impôr as suas convicções aos outros. Simetricamente, o Estado laico proíbe-se de intervir nas formas de organização coletivas (partidos, igrejas, associações etc.) às quais qualquer cidadão pode aderir e que relevam do direito privado.
A Laicidade garante a todo o indivíduo o direito de adotar uma convicção, de mudar de convicção, e de não adotar nenhuma.
A Laicidade do Estado não é portanto uma convicção entre outras, mas a condição primeira da coexistência entre todas as convicções no espaço público.
Todavia, nenhuma liberdade sendo absoluta e todo o direito supondo deveres, os cidadãos permanecem submetidos às leis que se deram a si próprios.
Para comemorar a sua nomeação, a administradora do Gama mandou celebrar uma missa em uma das igrejas da cidade, fato que foi amplamente divulgado por ela, o que vai de encontro ao conceito de Estado Laico. A população do Gama é plural no quesito religioso, quem administra a cidade o faz pelo bem dos cidadãos católicos, evangélicos, espíritas e ateus. O objetivo de, em casos como este, se mandar celebrar uma missa, é o de "abençoar" o trabalho do administrador público. Comenta-se nos meios evangélicos que a atitude de mandar celebrar uma missa não foi bem visto pelos fiéis neo pentecostais. Alguns comentaram que ela até poderia ter mandado realizar o ofício religioso, mas que o fizesse como uma atitude de foro íntimo, sem divulgação pública.
Embora defenda ferrenhamente a liberdade religiosa, eu não professo nenhuma fé mas, se eu fosse evangélico iria me sentir preterido, ou poderia entender como uma demonstração de força, ou até uma provocação. Curiosamente, durante a celebração da missa, comentou-se entre alguns assessores da professora que o padre que comandava o ritual, não ficou muito satisfeito com um trecho da fala de Maria Antonia. Conta-se que, ao fazer alguns agradecimentos, ela teria agradecido o apoio das Lojas Maçônicas do Gama para sua indicação. A gafe teria deixado o pároco desconfortável. Imagino que seja algo parecido como agradecer aos líderes dos terreiros de Umbanda e Candomblé em um templo evangélico. O fato é que ficou a dúvida se foi ingenuidade dela, inabilidade política ou se foi mal assessorada mesmo.
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