Artista está sendo agredido pela internet após jornalista postar vídeo nas redes sociais e acusa-lo de incitar a violência e defender a corrupção
por Flavia Gianini para Jornalistas Livres
“Parece que do dia para noite toda a minha trajetória de luta pela democracia e pelos direitos humanos foi esquecida”, afirma o ator Sérgio Mamberti (76), que vive, desde a manhã da quinta-feira (11), o que chamou de humilhação pública.
Desde que o post de uma jornalista foi publicado, o artista recebe mensagens agressivas e ameaças via redes sociais. Segundo a afirmação da jornalista, Mamberti “convocou grupos black blocks, chamou as manifestações do povo brasileiro de piquenique de ricos e disse que a militância do PT não pode aceitar a prisão de membros do partido”.
Entretanto, a profissional não entrevistou, nem procurou o artista para esclarecimentos sobre o trecho do vídeo publicado em sua página pessoal. “Minha afirmação foi distorcida e totalmente retirada do contexto”, garante o ator, que diz se sentir “invadido, vilipendiado e cerceado em seu direito de liberdade de expressão”.
O trecho publicado do vídeo em questão, teria sido gravado durante uma reunião fechada do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual o artista é membro e um dos fundadores. “O que fiz na reunião foi pontuar que, em todas as manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus, e favor da melhoria da melhoria das condições de trabalho dos professores, entre outras, os black blocks compareceram. Muitas vezes de forma agressiva e até atrapalharam reinvindicações legítimas. Entretanto, quando grupos se juntaram na avenida Paulista para pedir o impeachment presidencial, intervenção militar e o fim da corrupção, eles não apareceram”, explicou Mamberti, em entrevista aos #JornalistasLivres.
“Defendo o direito irrestrito à manifestação e quem me conhece, conhece o meu trabalho e a minha história, sabe que eu nunca defenderia um ato de violência sequer. Muito pelo contrário. Apesar de não concordar com algumas das reivindicações feitas durante os atos organizados pelos grupos de direita, eu lutei durante toda a Ditadura e ainda luto pela liberdade de expressão acima de qualquer coisa”, disse.
Sobre a acusação de defender da impunidade para crimes de corrupção, o ator é categórico na defesa da livre investigação e dura punição de quem é culpado, mas alerta para a supressão do princípio mais básico da Justiça, que é o da presunção da inocência, até que se prove o contrário. “Como cidadão quero muito mais investigação, esclarecimento e punição. E não se pode negar que o governo atual é o que mais tem se aprofundado na questão. Entretanto, o que se vê na imprensa são as pessoas sofrerem linchamento público com base em acusações que ainda não foram provadas e algumas vezes nunca o são. Aí eu me pergunto onde está a imprensa que investiga, que pondera, que mostra os prós e os contras?”, analisa o ator.
Não é a primeira vez que a jornalista em questão se envolve em polêmicas como esta. Com mais de um milhão de curtidas em sua página no Facebook, a profissional já foi acusada de dar declarações que incitaram à violência, já bateu boca, ao vivo, com outro apresentador, recebeu um pedido de retratação por parte do Ministério Público (MP) por declarações feitas no programa que apresenta e, agora, enfrenta uma petição pública que tenta impedir que ela receba o título de cidadã do município de Goiânia.
Procurada pela reportagem para comentar sobre seu post, a jornalista não se manifestou até a publicação deste texto. Por causa da postagem, o ator está sendo alvos de centenas de mensagens agressivas nas redes sociais e disse que isto está abalando sua família. Além do mais, ele disse que tem clara consciência que a situação pode afetar seu trabalho e sua imagem.
“Sou do tempo em que as pessoas botavam a cara para bater. Mas o anonimato e a distância que a internet fornece, incentivam a violência gratuita. Isso pode acabar com a minha reputação, que foi construída por mais de 30 anos com base na defesa da democracia. Quem diria?”, lamenta.
Ao fim da entrevista com o ator, feita por telefone durante quase uma hora, na noite o mesmo dia da postagem, foi possível perceber sua voz embargada pela emoção. “Entendo que estamos em processo de construção de direitos fundamentais. Mas olho em volta e me pergunto, será que conquistamos mesmo o Estado de Direito por qual tanto lutamos?”, questiona Sérgio Mamberti.
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