13 de ago. de 2015

Dilma e MEC se manifestam contra a intolerância


Dilma e MEC se solidarizam com estudante de Medicina
Ana Luiza Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), escreveu uma carta sobre a agressão sofrida em redes sociais
A presidenta Dilma Rousseff e Ministério da Educação se manifestaram em suas páginas no Facebook em solidariedade à estudante de Medicina Ana Luiza Lima, oradora da solenidade de aniversário de dois anos do programa Mais Médicos. Recentemente, Ana Luiza foi vítima de ataques nas redes sociais.

"Presto a minha total solidariedade a Ana Luiza Lima, aluna de Medicina da UFRN, que fez uma fala sincera e emocionada na celebração de dois anos do programa Mais Médicos, aqui em Brasília, na semana passada", diz um trecho da nota publicada no perfil de Dilma no Facebook.

"Por contar sua história, Ana Luiza sofre agora com a intolerância e o preconceito nas redes sociais, infelizmente ainda presente. O Ministério da Educação se solidariza com Ana Luíza e os outros milhões de brasileiros que ela representou em seu discurso e pede que nunca desistam dos seus sonhos", informa a nota do ministério.

Durante o evento, Ana Luiza falou sobre a realização do sonho de se formar médica. Ela relembrou o discurso da presidenta Dilma quando assumiu o cargo máximo do País, marcando a história como a primeira mulher a assumir a função.

"Naquela ocasião, a senhora falou aos pais e mães de todo Brasil, para que olhassem nos olhos de suas filhas e lhes dissessem que elas também podiam ocupar o cargo mais importante do Brasil. Pois agora, peço permissão para reconstituir a sua afirmação, dizendo que no Brasil de hoje, a neta de um agricultor do sertão do nordeste ou de qualquer outra região do interior do Brasil já pode sonhar em ser doutora", afirmou a estudante.

A estudante relatou, em seu perfil no Facebook, os ataques sofridos em uma carta. "Está tudo guardado, não para dar respostas. Mas porque aprendi desde cedo a não responder ódio com violência. Não. Eu NÃO tenho a SUA sede de sangue", escreveu a estudante.

No texto, Ana Luiza ainda destaca que suas palavras foram "direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor", "um agradecimento aos professores, a classe Trabalhadora com T maiúsculo!!"

Confira a íntegra do relato da estudante no Facebook.

QUEM QUER A CABEÇA DA ESTUDANTE DE MEDICINA?

"Me pergunta, que tipo de sentimento é o medo? Te respondo -- dos outros! O meu é o mesmo há várias luas...Deixa os verme falar pelos cotovelos eu ainda falo pelas ruas!!!!" - Emicida.

Vim aqui pra deixar coisas claras. Vim falar porquê a minha garganta não aguenta o nó que se formou. E eu NUNCA fui de calar.

Fui convidada a falar sobre a transformação que a educação causou na minha vida e sobre a alegria de cursar medicina. E assim escrevi um texto, de coração e de peito aberto. E hoje penso em tudo que eu disse e tudo que eu queria ter dito mas não foi ouvido. Minhas palavras ecoaram.

Porém nunca foram direcionadas à NENHUM partido político. Foi o reconhecimento de um acerto e uma reafirmação do que eu acredito e luto. Fui atacada em minha página pessoal brutalmente por MÉDICOS E FUTUROS MÉDICOS, além de outras pessoas. O machismo e a elite mostraram sua cara.

Fui chamada de vadia, de MÉDICA VAGABUNDA DE POBRE, ignorante, não merecedora de cursar medicina. Me foi dito que iam fazer de TUDO pra que eu não conseguisse emprego depois de formada. De que eu não sabia com QUEM estava lidando. Que eu merecia LEVAR UMA SURRA pra aprender a deixar de ser corrupta. Me mandaram CALAR MINHA BOCA NOJENTA DE POBRE E DE VADIA. De novo. Está tudo guardado, não para dar respostas. Mas porque aprendi desde cedo a não responder ódio com violência. Não. Eu NÃO tenho a SUA sede de sangue.

Mas eu tenho uma novidadinha pra essa classe COVARDE de profissionais. A mesma classe que eu já vi combinando entre si no MESMO grupo, de "tratar mal os negros, as feministas e os gays que chegassem nos consultórios médicos, pra que esse povinho aprendesse seu devido lugar".

A novidade é que minhas palavras não foram em nenhum momento pra vocês. Vocês que ignoram a realidade cruel vivida todos os dias nos hospitais públicos.

Minhas palavras foram pros profissionais de saúde que dão o sangue todo dia, mesmo com condições péssimas de trabalho, com salários atrasados, numa saúde abandonada e caótica. Eles sim, são verdadeiros heróis. Minhas palavras foram direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor. Minhas palavras foram um agradecimento aos professores, a classe Trabalhadora com T maiúsculo!! Que têm seu serviço desvalorizado ao máximo, mas toma a linha de frente na luta pela transformação diária do futuro de milhões de jovens sem oportunidade no país.

Eu não fui nenhuma heroína, e eu conheço mil médicos que são verdadeiros heróis. Que não precisaram de mais NADA além de força de vontade pra vencer na vida. Mas me desculpa, é que eu penso além. Eu sonho com o dia em que vamos cobrar das nossas crianças, apenas COMPETÊNCIA pra vencer, e não mais heroísmo.

Eu tô falando com aqueles meninos que você tem medo quando para no sinal, tô falando daqueles com fuzil na mão vigiando um fio de vida nos morros das grandes cidades. Tô falando daquela menina que mora na rua e cata latinha, daquele nos campos com enxada na mão cortando cana. Daquela que perde a infância nas esquinas da prostituição. Tô falando daqueles que você insiste em dizer que não existem. Por quê quando você percebe que ELES EXISTEM, coça em você uma ferida podre de 515 anos. Te dá um medo na espinha quando aparece alguém pra defender uma educação por eles e para eles. Te gela a alma a chegada do dia em que o povo não vai mais esquecer seus Amarildos e suas Cláudias Silvas....

Eu já consigo imaginar muitos de vocês rindo, pensando na reeleição garantida, enquanto veem no jornal o povo gritando por mais prisões e menos escolas. E apesar de me doer, eu entendo esse grito.

Eu engoli meu medo porque sei que toda luta pode ser desmerecida. Eu dei minha cabeça à prêmio, e voltei pra casa com a esperança real de um hospital universitário pra minha região onde muita gente tem sorte de ter a esperança de ter um prato de comida.

Eu recebi um agradecimento da prefeita de uma das maiores cidades do país, dizendo que graças às minhas palavras, um novo plano pra educação pública vai ser pensado, e que ela se encheu de esperança e disposição para lutar com unhas e dentes pelos professores da rede pública e pelos jovens em situação de risco. Isso já me curou de todos os medos e de todo o ódio que me foi jogado.

Esperança. Vontade de mudar. EMPODERAMENTO de um povo PELO seu povo.

Eu sei que eu não sou nada nesse sistema corrompido e intricado. Eu sei que não sou ninguém diante dos poderosos desse país. Mas eu tenho outra novidade, eu não estou sozinha, e gente como eu, é quem te causa os piores pesadelos à noite.

E eu vou seguir, mesmo frágil, mesmo com medo, mas sempre acreditando.

"Então serra os punhos, sorria. E jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazia."



Fonte: Portal Brasil 

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